sábado, 6 de dezembro de 2008

Essa tal democracia

Leio blogs diariamente. Alguns temas me interessam mais de perto, claro. Fazendo o meu passeio pela blogosfera, há alguns minutos, tive uma sensação que motivou esta postagem.
Nos tempos recentes, tivemos três eleições amplamente comentadas pela imprensa, acaloradas entre os participantes e de grande interesse para a coletividade. Refiro-me às eleições para prefeito municipal, para a mesa diretora da Assembléia Legislativa e para a reitoria da Universidade Federal do Pará. O que identifiquei em comum nos três casos? Em todos, a tônica foram apoios negociados, renegociados e multinegociados, sempre por personagens manjadas da cena política local (por sinal, nomes que se repetem num processo eleitoral e noutro). Se isso é inevitável nos dois primeiros casos, tem uma feição suspeita e indesejável no caso da UFPA, que deveria ser precipuamente um espaço acadêmico, para a produção e difusão de conhecimento, e não para catapultar as pretensões espúrias de certas pessoas. É triste que não possa ser assim.
O aspecto que mais me chamou a atenção, contudo, tanto nas notícias da imprensa comum quanto nos blogs, inclusive nos mais respeitáveis, é que o eleitorado passa ao largo do processo. As matérias focam tanto nos articuladores que esquecem quem vai sofrer as conseqüências dessas escolhas. Sintomático. Se até as notícias são assim, imagine o que se pode esperar dos vencedores.
No caso da AL, p. ex., em todo canto se fala que Ana Júlia perdeu, que Jader ganhou, que Jatene deu um bom passo, que fulano isso, que beltrano aquilo. É sempre uma análise dos lances de xadrez dados pelos figurões que só têm em mira os proveitos pessoais ou classistas. Ninguém fala das repercussões esperadas de tudo isso para o cidadão comum. Sabe onde eu vi fazerem isso? Na eleição de Barack Obama. Ali eu vi falarem de prognósticos sobre a política econômica, sobre as relações internacionais, sobre os direitos civis, sobre importações do Brasil e até sobre o futuro do cinema! Ou seja, muita gente se lembrou de falar como será a nossa vida, na nova era.
Já por aqui, só quem têm vez são os medalhões. Em pleitos engendrados nesses termos, perde sempre o eleitor. Não é à toa que a cidade vai mal, o Estado vai mal e a UFPA, por estar afastado há muito tempo, não sei dizer. Mas temo por seu destino. Não por ter sido eleito Carlos Maneschy, que sequer conheço e a quem desejo uma profícua administração (afinal, disso depende o sucesso da universidade em que me formei e que amo). Mas por ter sido eleito (segundo foi divulgado) com tantos apoios políticos externos, de gente que está fazendo jogging e evacuando para a academia e suas reais necessidades.
Quanto a Belém e à Assembléia Legislativa... Bem, daí eu não espero nada de bom, mesmo.

Acréscimo em 7 de dezembro de 2008:
Prova do que falei acima é o interesse dos jornalões da cidade, que nunca defendem uma causa nobre. No caso da UFPA, um deles falou em golpe da situação e comemorou a eleição de Maneschy. O outro, hoje, lembra que o presidente da República não está obrigado a nomear o mais votado.
Nojo.

Nenhum comentário: