sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Bombas de efeito imoral

François Fénélon, teólogo e escritor francês, cunhou a célebre frase segundo a qual a guerra é a desonra do gênero humano. João Paulo II, ao condenar a Guerra do Golfo, em 1991, disse, parafraseando Fénélon, que a guerra é a derrota da civilização.

Têm razão os religiosos. É triste ver, sobremaneira, que a guerra – qualquer uma – deixa rastros duradouros, não só no imaginário e na psicologia coletivos, mas nas áreas físicas onde ocorreu.

Alguns destes rastros são realmente duradouros. As agências internacionais noticiaram ontem que um operário japonês foi atingido pela explosão de uma bomba que se supõe estar no local desde a 2ª Guerra Mundial. O caso ocorreu na província de Okinawa, ao sul do país.

O fato não é inédito. Ano passado, 16 mil pessoas foram evacuadas de um bairro de Chofu, a oeste de Tóquio, para que a polícia desarmasse uma bomba também oriunda da Segunda Guerra.

Um aspecto ainda mais sombrio das heranças de guerra são as minas terrestres. Países da África, principalmente, até hoje abrigam milhares de mutilados, vítimas civis das minas ainda presentes nos campos desérticos por onde antes avançavam as tropas inimigas. São vítimas, dentre outras, da Claymore Inc., empresa americana que ostenta a honraria duvidosa de maior produtora mundial destes artefatos, e que fabrica minas cuja função declarada é atingir os membros inferiores dos atingidos, aleijando-os, mas não os matando. A intenção deliberada é que a vítima não morra de hemorragia, permanecendo viva, acordada e sentindo dores o maior tempo possível.

Em 2007, liderados pelos governos de países africanos, 157 países assinaram o Tratado de Ottawa, para proibição das minas ditas antipessoais. Estados Unidos, Cuba, China, Rússia e a Índia não assinaram a convenção. Não por isso – embora seja um fator importante –, as guerras mutilantes e de longo alcance, no tempo e no espaço, continuarão a acontecer no planeta.

2 comentários:

Scylla Lage Neto disse...

Francisco, seu post me lembrou de um "bumper sticker" que eu trouxe da Disney, ainda criança, que dizia: "war is not healthy for children and other living things".
Talvez só hoje, ligeiramente velho, eu tenha começado a entender o verdadeiro significado dessas palavras.
Um abraço.

Francisco Rocha Junior disse...

Guerra não é saudável mesmo, Scylla. Nem psicológica, nem somaticamente. Triste é que tenha quem ganhe com isso, e por isso elas não acabarão. Na verdade, nunca.
Abração.