quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Nono dia já está em curso

Já encontra-se online o relatório do nono dia do julgamento do The Pirate Bay (leia post abaixo).
Trata-se de um dia particularmente interessante, uma vez que afamados especialistas na internet, foram chamados a depor para explicar a tecnologia bit torrent à corte sueca.
Um deles, - o professor de mídia Roger Wallis - referiu-se a um relatório que ele escreveu detalhando a postura da indústria com relação a tecnologia digital, que mostram a existência de elementos que fariam qualquer coisa para acabar com ela — postura semelhante ao que aconteceu com as fitas cassetes nos anos 70. (segundo o Blog MacMagazine).

Lembram das fitas cassete? Pois é. Quem não as utilizou no passado para fazer sequências de músicas de seu agrado e dançar numa festinha? Por que razão esta tecnologia não foi atacada pela indústria de entretenimento na época com o mesmo vigor que atuam agora?

Penso em alguns possíveis motivos:
1) a qualidade final das fitas magnéticas produzidas domesticamente nunca era tão boa quanto a um arquivo digital contemporâneo ripado. (Sim. Arquivos digitais com bit rate de apenas 192 kbps são de excelente qualidade. Só ouvidos de poucos conseguem discernir alguma diferença de qualidade (???);
2) o potencial de distribuição destas compilações em fita magnética era infinitamente inferior do que através da grande rede (e consequentemente o potencial de prejuízos à indústria, muito embora o artista e o consumidor, saíssem algo prejudicados já neste momento);
3) o tempo de vida da fita magnética ser bastante limitado, frente as atuais mídias óticas. A tecnologia de fitas magnéticas era primária, à ponto de causar prejuízos aos consumidores que as adquiriam inclusive legalmente. Quem não se lembra quando elas enrolavam em tape decks, perdendo sua integridade física e inutilizando-se, às vezes para sempre. Quem ainda possui alguma música legalmente adquirida em fita magnética ainda preservada?*

Em outras palavras, parecia ser um "prejuízo" tolerável, posto que de curta duração e direcionado ao consumidor. Não tenho relatos dando conta de que algum membro da indústria tenha reposto algum destes prejuízos ao consumidor.

E permitam-me uma última perguntinha que não quer calar: a Banda Calypso ficou mais pobre e menos bem sucedida comercialmente com os "crimes" do The Pirate Bay?


* qual a razão para alguns minisystems ainda serem vendidos com leitores de fitas magnéticas (tape decks)???

3 comentários:

Anônimo disse...

Muito bem colocado, Carlos. A indústria fonográfica vivia menos de lançamentos e mais de seu catálogo, discos de investimento já pago, bastando correr para o abraço. A mídia veio mudando, de vinil para cd, cassete, mini disc, enfim, conforme a vontade deles venderem, novamente, seu catálogo. Quem não trocou sua coleção do Yes em vinil por cd? E agora..

Carlos Barretto  disse...

Pois é. Agora, o prejuízo continua nosso e do artista, Edyr.
O futuro, deve reservar uma comunicação direta entre o artista e seu público, com justa recompensa à todos.
Com certeza, sem a superlativa intermediação da "indústria" nesta ótima relação.
Quanto a mesma indústria, o recado parece claro:

"Update or Die!"

Anônimo disse...

O Eminem está usando seu pe$o para mudar essa situação em favor dos artistas: http://tinyurl.com/av65jr

Quanto ao modelo (original) comercial da Calypso e demais integrantes do que se convencionou chamar de "Tecno-brega" (e afians), eles vivem à margem do esquemas das gravadoras porque é mais rentável.

A cópia dos CDs vendidas nas esquinas da cidade funcionam como empulsionadores das carreiras destes artitas (paralelo com a troca de arquivos via internet) e a principal receita vem das festas de aparelhagens (paralelos com shows para artistas mais convencionais e mesmo a venda de canções individuais a baixo custo e sem DRM em lojas como a iTunes Store).

A Escola de Direito da FGV tem produzido um trabalho interessante sobre esses modelos de negócio e propriedade intelectual (tecno-brega, bollywood, etc). Basta uma rápia pesquisa no site a instituição ou mesmo através do Google, experimentem: "FGV tecno-brega".

Uma coisa é certa, os estúdios e suas representações como RIAA e etc, nessa história estão se parecem muito mais com os vilões do que a garotada do The Pirate Bay e afins.

Convenientemente os barões da indústria cultivam um ignorância seletiva e querem nos forçar a mudar nossos hábitos, ou permanecer com os hábitos antigos, simplesmente porque pensa que dessa forma ganham mais dinheiro. Acontece que até mesmo nisso eles estão errados e poderiam estar ganhando mais do que jamais ganharam.

Como dá para notar, tomar uma posição sobre esse assunto não é tarefa tão espinhosa assim. Como estão provando especialista, o importante é não se apegar ao impirismo.