Seguindo sugestão do blog, quando ainda era somente seu leitor, adquiri o livro “Dossiê Drummond”, do jornalista Geneton Moraes Neto (RJ, Globo, 2007, 2a ed.). A primeira parte da obra é a reprodução de uma entrevista de Carlos Drummond de Andrade, concedida ao autor por telefone, entremeada, a cada tema, por poemas do entrevistado.
Em determinado trecho, perguntado sobre saudades de sua cidade natal, no interior mineiro, Drummond responde:
Tenho uma profunda saudade e digo mesmo: no fundo, continuo morando em Itabira, através de minhas raízes e, sobretudo, através dos meus pais e dos meus irmãos, todos nascidos lá e todos já falecidos.
Já Paulinho da Viola, nosso príncipe do samba, no delicado documentário “Meu Tempo é Hoje”, de Izabel Jaguaribe, com roteiro e participação de Zuenir Ventura, afirma não conseguir sentir saudades, apesar da temática do tempo permear quase toda sua obra – com metáforas lindíssimas, inclusive. Logo no início do filme, ele aparece em um sebo do centro do Rio, comprando o livro “Saudade Brasileira”, de Osvaldo Orico, obra rara há muito sem reedição. Diz que é para ver se conseguia sentir saudade.
A saudade é um sentimento tipicamente português, herdado pelos países de colonização lusa. Tanto assim que, reza a lenda, não existe tradução literal para o termo em qualquer outra língua do mundo. Todos sentem falta, de algo ou de alguém, mas ninguém sente saudades, como nós, lusófonos, sentimos.
E você, sente saudade? De quê?
5 comentários:
Caro Francisco, Osvaldo Orico foi um dos nossos representantes paraenses na Academia Brasileira de Letras, como relatei na postagem "Os imortais paraenses". Nosso conterrâneo, aqui de Belém. Fico feliz de saber dos méritos de sua obra, lamentando entretanto que ela não tenha merecido uma reedição. Mas isso não surpreende, certo?
De fato, não conheço nenhum outro idioma que contenha um vocábulo específico para saudade, cuja definição no dicionário Hoauiss é maravilhosa: "sentimento mais ou menos indefinível de incompletude".
Tsunami...são demais os perigos desta vida é verdade...que N. Sra. de Nararé nos proteja sempre. Todos! Indistintamente!
Saudades...ô palavra doce em minha boca, ô pá, já reparastes não gajo?
Tenho saudade até da saudade que acabei de escrever. E muita mais da saudade lida! E relida! E dos livros que devorei...das cidades por onde passei...dos amigos...caramba...eu tenho a saudade! Não a apenas sinto!
E é muito bom. Melhor ainda quando a matamos! e recomeçamos...saudade da saudade matada...
Beijinhos saudosos FRJ.
Lindo post. Só você mesmo com a sua sensibilidade para explorar esse sentimento que habita em nossa casa(in).
Ótimo sábado.
Pois é...Havana...lembra-me os charutos de Montecristo que comprei na Feira do Livro. Presente para o meu avô! Felicidade foi pouca para ele ! Ah! Se foi !
Olhe, você nem vai acreditar, mas Drummond já me salvou um dia na vida ! Uma longa história...rsrs...e como são mesmo demais os perigos desta vida! Mas entre mortos e feridos...olhe eu aqui ...lá...lá..olhe eu aqui..lá...lá...rsrs
Obrigada por me permitir brincar em seu blog. Bem melhor que luva de box! Bem...uma faca de dois gumes!
Na verdade prefiro a guerra ! Mentes que brilham...estratégias...desafios!
Mas, um momento para recuar e sorrir e o outro, discando para matar ! rsrs
smack
:)
Yúdice, é verdade! Lembrava do Inglês de Souza, do José Veríssimo, mas não do Osvaldo Orico. É o livro dele que aparece no documentário, que aliás recomendo a todos (o documentário; o livro não li). Paulinho da Viola é espetacular e o filme faz jus a tudo o que ele é e representa.
A definição do Houaiss é, realmente, maravilhosa. Poética, eu diria. Nunca a tinha lido.
Cris, a origem lusitana da palavra saudade fica ainda mais significativa em um fado. Leia a letra deste, de Amália Rodrigues:
"Lisboa, velha cidade
Cheia de encanto e beleza!
Sempre formosa a sorrir
E ao vestir
Sempre airosa
O branco véu de saudade
Cobre o teu rosto, linda Princesa!
Olhai, senhores,
Esta Lisboa d'outras eras
Dos "cinco réis", das esperas
E das toiradas reais
Das festas, das seculares procissões
Dos populares pregões matinais
Que já não voltam mais
Lisboa d'oiro e de prata
Outra mais linda nao vejo!
Eternamente a brincar
e a cantar de contente!
Teu semblante se retrata
No azul cristalino de Tejo."
Acabei de escrever sobre o que me provoca saudade, Francisco. Dá uma olhada lá.
Yúdice, olhei e gostei. Lembra boa parte da minha pré-adolescência. Vou comentar lá agora.
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