Foto Marcelo RM.
A Rômulo Paes de Souza, Ana Julia Vasconcelos Carepa, Xanda, Regina "Ré Bacana", Carlinhos Boução, Paulo Albuquerque Weil, Edilene de Oliveira Franco, Esther Bemerguy, Edmilson Brito Rodrigues, Joseney e Set Pires dos Santos, Ruth Vieira, Sérgio Carneiro, Walmir Bispo, Edmundo de Almeida Gallo, Carlos Eduardo de Lima Barretto, Isa Paula Hamouche Abreu, Suzanne Serruya, Edilza e Raul Meirelles, Mário "Magrão" Cabral, Fernando "Índio", Zé Marquinho Fonteles de Lima, Conceição Elarrat, Amaury Braga Dantas, Antonio Carlos de Andrade Monteiro, Leão Zagury, Maria da Conceição Chermont Sápia, Aluizio Lins Leal, Carlos Lima e in memorian: João Batista, Paulo Fonteles, Ruy Paranatinga Barata, Raimundo Jinkings e o Bar do Parque. Sem o desmerecimento de outros(as) que a memória traia nessa vã tentativa de corporificar no presente a cinza das horas.
Há exatamente 25 anos, na cidade de São Paulo, o Movimento Diretas Já exibia seu maior fôlego de organização aos que representavam a ditadura no país por duas décadas seguidas. Contra a tibieza do presidente eleito João Goulart, a desarticulação das esquerdas e de um esquema militar que comportou-se como fosse uma força auxiliar da Batalha de Itararé - aquela que nunca houve, só enquanto piada - os coronéis golpistas dos anos 50, generais quatorze anos depois, deporam um presidente eleito pelo voto popular, mergulharam o país na pior das três ditaduras vividas pelo Brasil, para só devolverem o poder aos os civis duas décadas depois, quando o país se encontrava completamente mergulhado numa dívida interna à época considerada impagável e às voltas com um cipoal de corrupção que levou o segundo presidente eleito da Nova República ao impeachment e continua como Hidra até hoje, humilhando a vida nacional e o regime democrático.
Entre 1964 e a redemocratização vivíamos a censura, a aposentadoria compulsória, a inexistência de habeas corpus, a tortura, a luta armada, o sequestro e assassínio de adversários políticos do governo militar brasileiro (e de outras ditaduras do chamado Cone Sul) , o bipartidarismo impositivo, representado pelo Partido do Movimento Democrático Brasileiro - Pmdb e pela Aliança Renovadora Nacional - Arena, que, depois, havida a redemocratização, derivaram inúmeros partidos, especialmente o primeiro, onde se encontravam legendas proscritas pela legislação de exceção, como a exemplo o PDT, o PTB, o PCB, o PCdoB e last but not least - o PSDB. Da Arena houve em termos práticos apenas uma só emulação ou travestimento, demonstrando o chamado pragmatismo de direita que ao final constitui diferencial em seus enframentos com a esquerda: PFL, ultimamente rebatizado de DEM - alcunha de democratas, vejam só a ironia!
Alguns do que aqui frequentam o blogue conhecem bem essa história. A exemplo, nosso editor-chefe, o médico Carlos Barretto, naquela altura simpatizante da tendência política Caminhando, vinculada ao PT, dividia com o hoje Senador Tião Vianna a ocupação da Reitoria da Universidade Federal do Pará. Era, salvo engano da memória, o responsável pela alimentação da estudantada que se espraiava sob os carpetes verdes da Reitoria. Quanto a mim, mais velho, estava à época no Rio, cumprindo meu internato (6o. ano médico), engrossando o cordão de protestantes pela democracia nas inúmeras manifestações de rua em repúdio ao estado de exceção.
Ambos, contudo, nunca nos filiamos a organização clandestina Partido Revolucionário Comunista - PRC, ou Pierre como codinome, que o PT na ocasião abrigava e ao qual a tendência Caminhando era lídime expressão no movimento estudantil. Mas fiquem tranquilos, hoje todos seus militantes, sem exceção, são confiáveis senhores e senhoras em robe des chambre, sunga e bobs, absolutamente integrados ao establishement.
Contudo, essa geração meio O que será, que será, meio Bete Balanço foi testemunha ocular e participante-construtora da segunda maior manifestação popular do país, o comício da Candelária, que contou com 1 milhão de pessoas e teve tal impacto no ambiente político brasileiro que o general-presidente João Batista de Oliveira Figueiredo testemunhou do exterior que seriam 1 milhão e hum de reclamantes pela democracia, caso estivesse ele naquela ocasião no Brasil, e na confluência entre as avenidas Presidente Vargas e Rio Branco, no centro do Rio. Um nacional a mais, um a menos, São Paulo demonstrou que o nível estava bem mais acima que as pretensóes do generalíssimo e pôs mais quinhentos mil além da conta somada no comício carioca, decorridos menos de uma semana desse acontecimento.
O Palácio do Planalto e a hegemonia da bancada governista no Congresso Nacional balançou então nas cadeiras e houve alguns até que trincaram as chapas, digo dentadura. A conseqüência óbvia é que a situação teve que rever sua estratégia para barrar os ex-cabeludos, alguns ainda barbudos, outros quase imberbes, mas todos reunidos numa gritaria em defesa da famosa Proposta de Emenda Constitucional número 5, dita Dante de Oliveira, que propugnava por eleições livres e diretas para presidente do Brasil!
Ora, todos sabemos que o Movimento Diretas Já, a maior manifestação cívica nacional depois do movimento contra a escravidão no Brasil, foi barrado temporariamente pela hegemonia do governo militar no Congreso Nacional, expressa na manutenção da eleição indireta para presidente da República que viria a eleger uma candidatura de centro-direita, a deTancredo Neves/José Sarney. Entretanto o objetivo fora alcançado, e o governo federal sabia disso: os militares não mais teriam o apoio da sociedade brasileira e insistir no contrário seria a mais cabal demonstração de burrice, de desmoralização prática, além de deslealdade para com seus seguidores albergados na Arena.
Mas nem tudo foi amargo como pode parecer. De par com as tensões próprias desse tipo de enfrentamento, sem dúvida foi época riquíssima de manifestações artísticas lideradas por Chico Buarque, Milton Nascimento, Simone, Gonzaguinha, Ivan Lins, Elis Regina, Amelinha, Elba Ramalho e Fafá de Belém. Para aqueles que a viveram, houve em termos políticos a oportunidade única de ver e ouvir reunidos num só palanque lideranças que em breve não mais estariam juntas, ideologica e fisicamente: Humberto Lucena, Ulysses Guimarães, Nelson Pellegrino, Luiz Carlos Prestes, Sobral Pinto, Miguel Arraes, Tancredo Neves, Fernando Henrique Cardoso, Luiz Inácio Lula da Silva e Betinho entre outros.
Na foto acima, escolhida para ilustrar esse post e comemorar no blogue a democracia brasileira, em momento que pedíamos mais uma vez a pacificação do país, estão representados Fafá de Belém, José Wilker e o locutor Osmar Santos. Daí que vem a pergunta: o que fazias na época? Depois do ponto final, dá o teu testemunho sem reservas e ajuda-nos a construir na polifonia da história a História.
Entre 1964 e a redemocratização vivíamos a censura, a aposentadoria compulsória, a inexistência de habeas corpus, a tortura, a luta armada, o sequestro e assassínio de adversários políticos do governo militar brasileiro (e de outras ditaduras do chamado Cone Sul) , o bipartidarismo impositivo, representado pelo Partido do Movimento Democrático Brasileiro - Pmdb e pela Aliança Renovadora Nacional - Arena, que, depois, havida a redemocratização, derivaram inúmeros partidos, especialmente o primeiro, onde se encontravam legendas proscritas pela legislação de exceção, como a exemplo o PDT, o PTB, o PCB, o PCdoB e last but not least - o PSDB. Da Arena houve em termos práticos apenas uma só emulação ou travestimento, demonstrando o chamado pragmatismo de direita que ao final constitui diferencial em seus enframentos com a esquerda: PFL, ultimamente rebatizado de DEM - alcunha de democratas, vejam só a ironia!
Alguns do que aqui frequentam o blogue conhecem bem essa história. A exemplo, nosso editor-chefe, o médico Carlos Barretto, naquela altura simpatizante da tendência política Caminhando, vinculada ao PT, dividia com o hoje Senador Tião Vianna a ocupação da Reitoria da Universidade Federal do Pará. Era, salvo engano da memória, o responsável pela alimentação da estudantada que se espraiava sob os carpetes verdes da Reitoria. Quanto a mim, mais velho, estava à época no Rio, cumprindo meu internato (6o. ano médico), engrossando o cordão de protestantes pela democracia nas inúmeras manifestações de rua em repúdio ao estado de exceção.
Ambos, contudo, nunca nos filiamos a organização clandestina Partido Revolucionário Comunista - PRC, ou Pierre como codinome, que o PT na ocasião abrigava e ao qual a tendência Caminhando era lídime expressão no movimento estudantil. Mas fiquem tranquilos, hoje todos seus militantes, sem exceção, são confiáveis senhores e senhoras em robe des chambre, sunga e bobs, absolutamente integrados ao establishement.
Contudo, essa geração meio O que será, que será, meio Bete Balanço foi testemunha ocular e participante-construtora da segunda maior manifestação popular do país, o comício da Candelária, que contou com 1 milhão de pessoas e teve tal impacto no ambiente político brasileiro que o general-presidente João Batista de Oliveira Figueiredo testemunhou do exterior que seriam 1 milhão e hum de reclamantes pela democracia, caso estivesse ele naquela ocasião no Brasil, e na confluência entre as avenidas Presidente Vargas e Rio Branco, no centro do Rio. Um nacional a mais, um a menos, São Paulo demonstrou que o nível estava bem mais acima que as pretensóes do generalíssimo e pôs mais quinhentos mil além da conta somada no comício carioca, decorridos menos de uma semana desse acontecimento.
O Palácio do Planalto e a hegemonia da bancada governista no Congresso Nacional balançou então nas cadeiras e houve alguns até que trincaram as chapas, digo dentadura. A conseqüência óbvia é que a situação teve que rever sua estratégia para barrar os ex-cabeludos, alguns ainda barbudos, outros quase imberbes, mas todos reunidos numa gritaria em defesa da famosa Proposta de Emenda Constitucional número 5, dita Dante de Oliveira, que propugnava por eleições livres e diretas para presidente do Brasil!
Ora, todos sabemos que o Movimento Diretas Já, a maior manifestação cívica nacional depois do movimento contra a escravidão no Brasil, foi barrado temporariamente pela hegemonia do governo militar no Congreso Nacional, expressa na manutenção da eleição indireta para presidente da República que viria a eleger uma candidatura de centro-direita, a deTancredo Neves/José Sarney. Entretanto o objetivo fora alcançado, e o governo federal sabia disso: os militares não mais teriam o apoio da sociedade brasileira e insistir no contrário seria a mais cabal demonstração de burrice, de desmoralização prática, além de deslealdade para com seus seguidores albergados na Arena.
Mas nem tudo foi amargo como pode parecer. De par com as tensões próprias desse tipo de enfrentamento, sem dúvida foi época riquíssima de manifestações artísticas lideradas por Chico Buarque, Milton Nascimento, Simone, Gonzaguinha, Ivan Lins, Elis Regina, Amelinha, Elba Ramalho e Fafá de Belém. Para aqueles que a viveram, houve em termos políticos a oportunidade única de ver e ouvir reunidos num só palanque lideranças que em breve não mais estariam juntas, ideologica e fisicamente: Humberto Lucena, Ulysses Guimarães, Nelson Pellegrino, Luiz Carlos Prestes, Sobral Pinto, Miguel Arraes, Tancredo Neves, Fernando Henrique Cardoso, Luiz Inácio Lula da Silva e Betinho entre outros.
Na foto acima, escolhida para ilustrar esse post e comemorar no blogue a democracia brasileira, em momento que pedíamos mais uma vez a pacificação do país, estão representados Fafá de Belém, José Wilker e o locutor Osmar Santos. Daí que vem a pergunta: o que fazias na época? Depois do ponto final, dá o teu testemunho sem reservas e ajuda-nos a construir na polifonia da história a História.
6 comentários:
Excelente post, Itajaí.
Mas fazendo apenas um pequeno reparo, na época da ocupação da Reitoria, na verdade atuava como Diretor Cultural do DAM e era, junto com toda aquela saudosa galera, responsável pela programação cultural.
Mas vc bem sabe que na época, cargos e posições nestas entidades, era mera figuração. Na realidade, todos faziam tudo e ajudavam em tudo.
Na gestão do Tião, firmei na verdade uma sólida amizade, recentemente lembrada por ele, em encontro pessoal com o Diretor da instituição pública onde trabalho.
Sobre a ocupação da reitoria, há inclusive nos alfarrábios do Flanar, uma foto histórica que me foi presenteada pela nossa Ruth Vieira.
Ela está em http://blogflanar.blogspot.com/2006/03/foto-histrica.html
Abs
Belíssima postagem, Itajaí! Eu desconhecia o envolvimento de pessoas próximas nesses tão importantes acontecimentos nacionais. Talvez eu tenha crescido cercado por pessoas mais conformadas e submissas, de modo que me alegra saber que, hoje, tenho acesso a gente que fez e faz.
Também gostaria de contar fatos emocionantes daquela época, mas quando o movimento pelas diretas corria o país, eu tinha apenas 9 anos de idade e estava às voltas com carrinhos. Quando via alguma coisa sobre o assunto no jornal, não entendia e, em alguns casos, achava tudo muito chato.
Acreditem quando digo que, muitas vezes, lamentei não ter nascido mais cedo. Hoje, quando vejo tantos jovens inúteis e estúpidos, por livre escolha, lamento estes tempos em que as pessoas perderam - ou pior: abdicaram - de ideais pelos quais lutar. Mas não posso mudar isso, que passado não se muda. Posso, apenas, tentar ensinar valores a minha filha e admirá-los ainda mais.
Que saudade do tempo que a FAFÁ era realmente uma Guerreira.
Deveras, das 8h01. Agora Fafá é tucana.
Que saudade do tempo em que a esquerda era direita.
Nunca deixou de sê-lo, anônimo das 1:41 h. A esquerda mais que ideologia, é uma atitude, uma questão de caráter, ou mesmo de QI, diante dos sacanas e das sacanagens que povoam o mundo.
Obrigado pela visita e vá em frente.
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