Para Lemos (...) todas as armas eram boas, todas. Subiu porque era leve,
não lhe pesavam muito os escrúpulos.
Valente de Andrade*
não lhe pesavam muito os escrúpulos.
Valente de Andrade*
Entre as colunas publicadas no Diário do Pará, sou assíduo leitor de Elias Pinto e de Oswaldo Coimbra. A predileção decorre de meu confessado interesse por literatura e história. Este comentário, contudo, tem origem no texto publicado por Coimbra no caderno Você, página quatro, edição deste sábado, com o título Alguém Sabe que o Melhor Prefeito de Belém Foi Muito Humilhado?
De início cabe registrar que embora o cabeçalho da crônica pretenda despertar o leitor para a leitura, não escapa de ser algo piegas e injusto com a biografia de um personagem habituado aos afagos do poder durante quase quinze anos em que esteve como intendente (prefeito) de Belém e condottieri onipresente do Partido Republicano, não hesitando, fosse necessário, manu militari constranger tanto a adversários quanto a correligionários desavisados.
Estabeleceu-se naquela época uma situação curiosa em que as principais lideranças políticas do Pará, Lauro Sodré e Antonio Lemos, embora reunidos sob igual legenda partidária, lideravam correntes políticas diferentes, mas imiscíveis e beligerantes a ponto de permitirem que as escaramuças de fronteira chegassem a ingovernabilidade dos fatos violentos que levaram ao desmoronamento quase por completo do poder lemista, assim dito pois, a despeito da ruína material e pessoal do seu principal líder, a corrente política manteve influência nos negócios do Estado até os anos 30 sob a liderança do sobrinho do intendente e também senador, Arthur Lemos.
Se por um lado Lauro Sodré era um positivista com projeção nacional na República Velha, de outro no Pará quem mandava de fato era um maranhense, ex-oficial menor da Armada Imperial que aqui chegara à ocasião da internacionalização da navegação do Rio Amazonas. Todo o embate entre ambos foi delimitado no contexto histórico entre o fausto e a decadência da economia da borracha, e deve-se reconhecer que, nas suas relações, ambos por seus capi foram igualmente violentos em termos morais e físicos no afã de redesenhar ao mínimo o espaço vital de cada um.
Entretanto, coube a Lemos receber a pecha de violento e estroina devido a ação de contra-inteligência política que o grupo de Sodré moveu-lhe. Além da publicação em jornais, da distribuição de panfletos e de boatos estrategicamente plantados, a campanha contra Lemos chegou a sofisticação de distribuir medalha comemorativa cunhada em cobre e em prata, que no anverso estampavam a advertência de que Lauro Sodré na vida pública e privada orgulhava-se de nunca haver levado infortúnio, dor e sofrimento a nenhum lar de paraenses. Uma meia verdade, é claro.
Mas essa é uma história, como se percebe, cheia de meandros para ser contada. Quem se candidatar a decifrá-la com ciência deve ser preparado para mergulhar num cipoal de documentos oficiais, de testemunhos e silêncios sempre armados, quer de um lado, quer de outro, com o risco de ao final vir a deixar lacunas que apenas a boa imaginação preencherá com literatura. E melhor exemplo para esse último caso é a obra Belém do Grão Pará, que nos dá pelo discernimento de Dalcídio Jurandir uma leitura íntegra da decadência da cidade, no rescaldo do embate entre Antonio Lemos e Lauro Sodré .
*Evolução Política/ A Queda das Oligarchias/Ensaio de Crítica Social. Pará, 1913.
De início cabe registrar que embora o cabeçalho da crônica pretenda despertar o leitor para a leitura, não escapa de ser algo piegas e injusto com a biografia de um personagem habituado aos afagos do poder durante quase quinze anos em que esteve como intendente (prefeito) de Belém e condottieri onipresente do Partido Republicano, não hesitando, fosse necessário, manu militari constranger tanto a adversários quanto a correligionários desavisados.
Estabeleceu-se naquela época uma situação curiosa em que as principais lideranças políticas do Pará, Lauro Sodré e Antonio Lemos, embora reunidos sob igual legenda partidária, lideravam correntes políticas diferentes, mas imiscíveis e beligerantes a ponto de permitirem que as escaramuças de fronteira chegassem a ingovernabilidade dos fatos violentos que levaram ao desmoronamento quase por completo do poder lemista, assim dito pois, a despeito da ruína material e pessoal do seu principal líder, a corrente política manteve influência nos negócios do Estado até os anos 30 sob a liderança do sobrinho do intendente e também senador, Arthur Lemos.
Se por um lado Lauro Sodré era um positivista com projeção nacional na República Velha, de outro no Pará quem mandava de fato era um maranhense, ex-oficial menor da Armada Imperial que aqui chegara à ocasião da internacionalização da navegação do Rio Amazonas. Todo o embate entre ambos foi delimitado no contexto histórico entre o fausto e a decadência da economia da borracha, e deve-se reconhecer que, nas suas relações, ambos por seus capi foram igualmente violentos em termos morais e físicos no afã de redesenhar ao mínimo o espaço vital de cada um.
Entretanto, coube a Lemos receber a pecha de violento e estroina devido a ação de contra-inteligência política que o grupo de Sodré moveu-lhe. Além da publicação em jornais, da distribuição de panfletos e de boatos estrategicamente plantados, a campanha contra Lemos chegou a sofisticação de distribuir medalha comemorativa cunhada em cobre e em prata, que no anverso estampavam a advertência de que Lauro Sodré na vida pública e privada orgulhava-se de nunca haver levado infortúnio, dor e sofrimento a nenhum lar de paraenses. Uma meia verdade, é claro.
Mas essa é uma história, como se percebe, cheia de meandros para ser contada. Quem se candidatar a decifrá-la com ciência deve ser preparado para mergulhar num cipoal de documentos oficiais, de testemunhos e silêncios sempre armados, quer de um lado, quer de outro, com o risco de ao final vir a deixar lacunas que apenas a boa imaginação preencherá com literatura. E melhor exemplo para esse último caso é a obra Belém do Grão Pará, que nos dá pelo discernimento de Dalcídio Jurandir uma leitura íntegra da decadência da cidade, no rescaldo do embate entre Antonio Lemos e Lauro Sodré .
*Evolução Política/ A Queda das Oligarchias/Ensaio de Crítica Social. Pará, 1913.
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