terça-feira, 22 de setembro de 2009

A Rapina da Verdade

O rapper Marcelo D2 polemiza se curiosos e dependentes químicos são responsáveis pelo sustento a violência do narcotráfico. Para o músico, que é réu em 18 processos por apologia ao uso de drogas, não há porque dar essa responsabilidade ao usuário. Como substância para seu argumento, o nacional defende que nenhuma das armas utilizadas nos morros cariocas, foi para lá trazida por consumidores de substâncias ilegais.
Trata-se de um argumento tão pífio, quanto é transitória a mastigação rítmica de D2. Nem como argumento para sustentar a não criminalização do usuário presta, pois não lhe dá o status de alguém que precisa de ajuda social ou medicalizada para superar as condições de risco ou para o abandono de uma exposição que o aniquila física, psicologica e moralmente perante a sociedade.
O narcotráfico dimensiona uma economia transnacional que, calcula-se, represente 8% do comércio munidal, ou algo em torno de US$ 600 bilhões de dólares, sem considerar receitas resultantes de investimento em outros negócios ilícitos (prostituição, comércio de produtos falsificados, etc) e da lavagem de dinheiro. O assombroso montante representa, comparativamente, três vezes o Produto Interno Bruto do estado do Rio de Janeiro, que escandaliza o país quando apresenta o maior indíce nacional de mortes violentas (14,6 mil homicídios dolosos e 12 mil casos de desaparecimento entre 2007-2009), a maioria delas decorrentes da ação criminosa dos narcotraficantes.
Marcelo D2, portanto, ao considerar que o consumidor não contribui para os níveis de violência do narcotráfico, usa de descarada má fé e despreza um princípio comercial inquestionável: não há comércio sem que exista consumidor. Mas, com certeza, no que lhe diz respeito ao mercado musical, o músico bem sabe calcular quantos ingressos pagam as despesas fixas de seus shows, ou quantos reais são necessários para investir na compra de um melhor sampleador. Também aquele que comercializa drogas calcula o quanto tem de vender para comprar armas e munições para assegurar um mercado formado por quase 900 mil brasileiros, que, além do gosto musical, apreciam maconha, cocaína e outros baratos da morte.

14 comentários:

Anônimo disse...

Quase 900 mil brasileiros que "apreciam maconha, cocaína e outros baratos da morte"? Quando foi que o IBGE fez esse recenseamento? Foi por amostragem ou foi em todos os domicílios brasileiros? Essa é a boa fé?

Itajaí disse...

Os dados são do Escritório Sobre Drogas e Crimes das Nações Unidas. Escreva para lá e peça a metodologia que eles utilizaram para chegar a esse cálculo. Depois de ler, então questione-os. Mas, atenção! Lá, como prova de boa fé, você terá de se identificar.
Boa sorte.

Val-André Mutran  disse...

Mata a cobra e mostra o pau!
Tá bem assim anônimo?

Carlos Barretto  disse...

"Essa é a boa fé?"

Mas isso são modos de questionar alguma coisa? Pra mim não. E tem a assinatura de mais um anônimo chato.
Que saco!

Anônimo disse...

Caro, não são as demandas que criam as ofertas; as ofertas criam suas próprias demandas.
Walker, J

Itajaí disse...

O cerne do post não está relacionado a lei da oferta e da procura. Lembro-lhe, contudo, que o mercado em referência é o selvagem mercado do crime, cuja fisiologia deforma mecanismos corriqueiros de economia. Mas, sendo você um andarilho, tem como expor-nos melhor a idéia de como esse mercado funciona?
Recordo que o saudoso geógrafo Milton Santos, poucos anos antes de nos deixar, lidava com uma grande inquietação intelectual sobre as relações da economia do crime com a precarização do mercado de trabalho em grandes núcleos urbanos. Dispunha-se inclusive a orientar quem desejasse fazer uma tese de doutorado sobre o assunto, desde que a sustentasse com dados primários. Não apareceu nenhum herói que tivesse a honra de orientando em pesquisa tão inédita quanto arriscada.

Prof. Alan disse...

A melhor definição sobre o assunto foi dada pelo Capitão Nascimento: "é você quem financia essa merda!".

Falem o que quiserem falar do filme. Chamem de fascista, reaça, o escambau. É a mais pura verdade. E a verdade incomoda, na maioria das vezes.

O que os consumidores querem é montar um idílico e improvável cenário, no qual eles fumam tudo, cheiram tudo e injetam tudo, mas não tem culpa de nada e não contribuem para nada de ruim...

Bia disse...

Boa noite, caro Itajaí:

há anos, quando Tim Lopes foi assassinado, fiz meu filho, adolescente, sentar e assistir as reportagens, para perceber a crueldade com que ele foi morto. Eu o fiz também ler uma carta que o filho dele escreveu à época e que circulou na Internet.

Eu queria mostrar ao meu filho que não há inocência no usuário. Há conivência, passiva ou ativa. Mas, conivência. Se há doença, que haja tratamento, o que é diferente,
e o que eu discutia com ele é que o comércio da maconha, feito pelo simpático boqueiro da esquina nada tinha de inócuo ou de ingênuo. Que a trama, o rombo, o estrago, eram o final daquele processo.

Ainda lutamos diariamente aqui em casa. Temos dias bons, dias ruins, avanços e recuos. Mantemos os laços de afeto, imprescindíveis em situações como essas, e tentamos sempre clarear os limites. Ainda.

Não consegui, como você vê, convencer meu filho com os meus argumentos. Mas insisto. Sempre. E acredito que vou conseguir. Porque a tragédia nacional é hoje, sem dúvida, o confronto com o tráfico, na trincheira de casa, da escola, da rua, porque isso nos rouba gerações, inteligências, capacidades e sonhos.

Abração.

Itajaí disse...

Prof. Alan,
Eu assisti o capitão Nascimento, por acaso, ontem na tv paga. Fiquei impressionado com o filme que, pareceu-me, retrata a tragédia com fidelidade a partir de escolhas nem sempre felizes do diretor. Uma delas é a forma como ele aborda a ONG que atua no morro. Sem um contra-ponto fica a mensagem de que todas são constituídas de obtusos, conforme retratado no filme.
Ogrigado pelo comentário.

Itajaí disse...

Cara Bia,
Não é fácil. Quando jovem vi quase todos meu vizinhos caírem no domínio da droga e da violência. Daqueles meninos e meninas de famílias classe média baixa só dois concluíram o nível superior, e hoje possuem famílias estáveis ainda que sem filhos. Os demais estão mortos, ficaram loucos, vivem sub-empregados ou enveredaram por outras marginalidades.
Abs.

Anônimo disse...

Vou apagar, mas não vou é jogar fora. Na condição também de P(ó)HD no assunto, vou aderir a tua campanha para acabar com a violência e só consumir da boa nos bares e nas farmácias e seguir a maioria.

Itajaí disse...

Anônimo (a),
Tua mensagem das 9:37 h, ao contrário das outras não publicadas, dá a dimensão exata da incapacidade que tens para avaliar de modo crítico a drogadição. Seria, portanto, exigir demais a tua compreensão de como o narcotráfico se organiza em rede para levar a droga até as tuas mãos.
Assim recomendo que, ao invés de perderes tempo aqui no Flanar, procures o quanto antes ajuda especializada.
Boa sorte.

Prof. Alan disse...

Caro Itajaí, realmente ficou faltando um contraponto com a situação da ONG. Mas acredito que isso foi proposital, para reforçar a visão do protagonista. Bom, penso eu...

Agora, o livro Elite da Tropa, que deu origem ao filme, é muito mais pesado, muito mais soco no estômago. O filme é estorinha da Disney comparado com o livro...

Leonarso S. R. disse...

Um ponto pragmatico sobre o assunto "10 razões para legalizar as drogas".
O que é um ponto de vista que eu concordo, pois só assim podemos tratar todas as drogas como elas devem ser tratadas, assim como é com o alcool, tabaco, e demais drogas licitas. Só na legalidade para administrar.