sábado, 13 de fevereiro de 2010

O Estado da Arte do puxa-saquismo e a submissão como referência

Um dia, que vergonha!, a bela Sylvia Kristel, a atriz de Emmanuelle, visitou o Senado. O trabalho parou (se bem que, para isso, não é preciso grande esforço). Velhos senhores babavam na gravata diante da gringa bonita, prestavam-lhe homenagens. Afinal, era a moça que ficou nua em vários filmes de sexo quase explícito, que mostrou ao mundo uma outra utilidade para os banheiros de avião.

Anos depois, houve uma CPI para apurar por que o Brasil perdeu a Copa de 1998 (a resposta era simples: porque, na final, a França fez mais gols). Ronaldo Fenômeno foi convidado para depor. Mas não houve depoimento a sério: Suas Excelências queriam mesmo é achegar-se ao ídolo, ser fotografados a seu lado.

Agora, Madonna. A estrela americana é uma personalidade internacional, não há dúvida. Mas não o suficiente para que aceitemos passivamente que sua segurança inspecione a sede do Governo paulista para verificar se as instalações eram boas o suficiente para ela. A babação de ovos foi tão grande que, dizem, o governador José Serra esforçou-se até para ser simpático. E tentou passar um 171 na moça, convidando-a a assistir ao Carnaval paulistano em vez do carioca.

No Rio, houve ruas fechadas por Beyoncé, houve helicópteros da Polícia sobrevoando o trajeto da popstar, o governador e o prefeito se colocaram à sua disposição. Só faltou, para completar o espetáculo da submissão, que as autoridades e os penduricalhos que as acompanhem beijassem a mão das estrelas.

Tratar bem os visitantes, sim. Mas um pouco de pudor sempre é bom.

Artigo pescado da Coluna do jornalista e consultor Carlos Brickmann.

10 comentários:

Anônimo disse...

Seu post me fez lembrar o desenho animado da Disney em que é apresentado ao mundo o personagem Zé Carioca.

Na animação o papagaio "malandro e boa praça" dá as boas vindas a Mickey, Pluto e Pato Donald que chegam ao Brasil via Manaus e logo estão no Rio de Janeiro prontos para desfrutar das maravilhas do Brasil e do carnaval.

Bem, eu só não ouso dizer que nossas "autoridades" se comportam como o Zé Carioca porque o personagem da Disney é infinitamente mais charmoso.

Frederico Guerreiro disse...

E viva um povo colonizado!!!

Val-André Mutran  disse...

O Zé Carioca, Antonio, é mais charmoso porque representa uma tática de comunicação com objetivos de dominação subliminar.

Val-André Mutran  disse...

E nada melhor do que o Carnaval para a assertiva, não é mesmo Fred?

Gente muito boa os brasileiros.

Yúdice Andrade disse...

O pudor que mencionas é imprescindível, Val, para que os visitantes, sejam quem forem, reconheçam que temos autoridades, poder público, dignidade. Mas brasileiro não se respeita. E agora dá mostras explícitas disso.
O interessante é que, fora do Brasil, essa subserviência não acontece.

Anônimo disse...

Val-André,

Tática essa que pelo visto funcionou à perfeição. :)

Val-André Mutran  disse...

Sim. Antonio. Infelizmente.

Val-André Mutran  disse...

Falta-nos um guia Yúdice.
Falo de guia de verdade.
O nacionalismo virou defeito ultimamente.

Anônimo disse...

Perdão mas eu discordo Val-André. A única coisa que uma sociedade desenvolvida realmente precisa é de investimento em educação e desenvolvimento do cidadão.

Val-André Mutran  disse...

Para a classe média pagar a conta Antonio?
Você topa pagar?