Há tempos comentei por aqui, as reclamações de Steve Jobs quanto a enorme carga tributária praticada no país, o que estaria desestimulando a montagem da primeira Apple Retail Store no Brasil.
Pois muito bem. Hoje o Tech Crunch faz matéria especial com o brasileiro Edivan Costa, que montou a empresa SEDI, especializada em reduzir a burocracia junto aos empreendedores estrangeiros, interessados em investir no país. Vejam o que diz parte da matéria publicada no Crunch.
Sure Brazil is a growing market, but it’s not easy to build a company there. The government takes one-third of revenues in taxes, and Brazil has European-like labor laws that prevent companies from flexibly hiring and firing—a big negative for a startup ecosystem.
Por enquanto, a SEDI não promete reduzir os impostos. Mas diz reduzir o tempo de legalização de 150 para 30/40 dias.
Quem sabe o cara-pálida lá de Cupertino não se interessa?
[Via Google FastFlip --> Tech Crunch]
12 comentários:
Não vai se interessar Carlos.
E não é apenas a Aplle.
Interessante saber que o tal "ecosistema" bom para fazer negócios no Brasil é aquele em que impostos sejam os menores possíveis e direitos trabalhistas sejam flexibilizados em termos de contratação e demissão. A aceleração da burocracia se trata apenas de um "jeitinho"!!!
Meu caro, esse post é importante porque na sua casualidade termina por expor pelas palavras da empresa qual é a natureza da partida que se disputará nas próximas eleições presidenciais.
O problema Itajái não é a eleição, mas o vício de todos os governos em não realizar uma ampla reforma tributária.
A flexibilização trabalhista é uma realidade internacional.
A desoneração de encargos para o setor produtivo, idem.
Esse governo operou ridiculamente nesse campo.
O atual governo brinca de pira-esconde.
Por um lado, concede isenção fiscal.
Por outro, aumenta impostos.
Já somos, novamente, os pagantes da maior taxa de juros do mundo.
A Dilma, o Serra et Caterva, resolverão isso?
Exatamente, Itajaí.
O motivo deste post é precisamente este. Provocar.
Provocar uma saída de certos paradigmas que estão desfocados das iniciativas mundiais, que privilegiam a competência sobre o corporativismo. Algo que devemos avançar, em minha humilde opinião.
Abs
A análise da Crunch não representa por certo nenhuma novidade em termos de pensamento neoliberal. É só mais uma voz do dono. Quanto a necessidade de uma reforma tributária não estamos em desacordo. Absolutamente necessária, desde que conduzida com seriedade e no interesse do país.
Entretanto, em termos de Brasil, por exemplo, os pensadores neoliberais fazem marola quanto a rever a carga tributária, porque para faze-lo terão que rever um dos ítens mais sensíveis da equação: a taxação pesada do patrimônio. Se, por exemplo, na serra, digo terra, de Steve Jobs os impostos indiretos não tem a magnitude brasileira, o que sem dúvida reduz o custo para o consumidor médio, por outro o leão norte-americano arranca em saca bocados até 40 a 45% da variação patrimonial dos pessoa ricos.
Então nesse ponto, talvez alguém pense, ah, mas são os milionários, quem se importa! De fato, mas se nessa relação incluírmos o patrimônio de pessoas jurídicas perceberemos o peso que ela possui para equilibrar o que é desonerado de impostos indiretos no chiclete que a garotada masca no cinema. Ora, no Brasil, nossos ricos e empresas fazem lobby no Congresso para sabotar qualquer projeto que arrisque onerar-lhes suas fortunas pessoais! Lembremos que em nossa terra, no Brasil e no Pará, as empresas falhem, os trabalhadores ficam desempregados, mas o patrimônio pessoal de seus donos permanence por regra intocado.
Então, o elemento crítico da solução proposta a SJ é que os nossos neoliberais pretendem que a informalidade, a rotatividade e o desemprego no Brasil sejam resolvidas graciosamente pelo Mercado e no Mercado, reduzindo a presença do Estado provedor e garantidor de direitos. Recomendam assim que se flexibilizem os direitos trabalhistas, que bloqueiem-se os saques no FGTS (porque a atual legislação é um estímulo para o trabalhador se demitir; discutem que só poderiam faze-lo na aposentadoria ou pelos herdeiros, por morte do trabalhador); da mesma forma que estimule-se a livre negociação salarial entre sindicatos e empregadores, fomentando assim a quebra do princípio isonômico, a pelegagem; e também fragiliza os direitos de trabalhadores mais jovens, na idade entre 19-30 anos, quando demitidos, porque nesse segmento etário há maior rotatividade e as perdas das empresas são maiores.
Está claro que eu não me encanto com essas novidade, que em alguns casos suspeito que os autores superaram o cânone filosófico e enveredaram pelo descaramento completo de atacar à pedradas o direito e o patrimônio alheio. Querem um exemplo? Porque não fortalecer a política de valorização salarial e assim reduzir a rotatividade, os saques de FGTS, melhorando a qualidade de vida do trabalhador? Mas, há, quem por exemplo, aponte o dedo em riste afirmando que depois do governo criar o Bolsa Família as pessoas não trabalham, mergulharam na vagabundagem. Eu faria o mesmo se fosse para ganhar 20, 30 reais por mês. Se não querem Bolsa Família que paguem salário decente, acima do mínimo, porque para mim mínimo é apenas referência, não regra seja para a renda, os direitos sociais ou o Estado.
Os iluminados da Crunch fazem um link com a Europa também. A propósito, leiam o que o economista de Princeton e Prêmio Nobel de Economia, Paul Krugeman, pensa sobre o assunto: http://www.presseurop.eu/pt/content/article/167511-aprender-com-europa
No artigo ele aborda alguns “mitos” que o neoliberalismo implantou convenientemente no senso comum com respeito a algumas questões sobre trabalho, renda e bem estar social.
Concordo com sua análise num ponto: a taxação de grandes fortunas.
Há vários projetos engavetados no Congresso nesse sentido.
Penso que inadequado, na sua análise, a recorrência ao modelo neoliberal. Até mesmo porque ele é amplamente executado nesse governo.
Kruguer é tão míope que virou chacota no primeiro ano do curso de Economia, mundo afora.
O modelo neoliberal está sepultado por este governo é um erro tal afirmação. O cadáver insiste em nos assombrar.
O tucaníssimo presidente do Banco Central, após negociar a venda de seu Banco (Bank Boston) para o Bradesco, afiou as garras com a anuência de "nosso guia" (meu não); pilotando a economia, exatamente segundo os princípios do conservadorismo financeiro (velha cartilha pregada em verso e prosa pelo mui amigo Delfin Neto).
Sob o ponto de vista de comunicação, é muito fácil detonar esse modelo do atual governo.
Você verá isso na campanha.
Ocorre que eu, e acredito que você, não podemos aceitar a desonrrosa, indecente, imoral, taxa de juros que a classe média paga, para sustentar pilantras de toda a sorte, inclusive, pelegos sem vergonhas.
Terei muitas náuses nessa campanha que se aproxima.
Mas, acredito que você me receitará um bom medicamento.
Volto a pergunta tangenciada em sua resposta.
Que governo é esse que pratica a mais alta taxa de juros do mundo?
Val-André eu nunca afirmei que o modelo neo-liberal foi sepultado pelo atual governo. Nem poderia, porque o modelo neo-liberal não é econômico, nem local. Ele é global, é político e como tal está profundamente entranhado na sociedade, quer no ideário, quer no léxico, quer no discurso. Vai muito além de governo Lula, de tucanos, de Congresso ou partidos políticos.
Quanto ao Kruguer imagino a cara de quem tirou barato com ele na faculdade, depois que ele inscreveu o nome entre os ganhadores do Nobel e, sobretudo, embolsou uma milionária conta bancária por isso. Por fim eu faço recorrência ao modelo neoliberal, porque sou um adversário ideológico de quem o utiliza como instrumento para regular a vida social, e, nesse sentido, a citação que eu comento nitidamente representa um discurso relacionado a essa escola de pensamento político.
Sinceramente, penso que amarrar alguns reais avanços em ideário seja neoliberal, seja sob qualquer outro rótulo que se queira atribuir-lhes, pode prejudicar e muito, possíveis avanços à longo prazo, incluídos aí, geração de emprego e renda. Acho que a crítica a atitude neoliberal com todas os seus potenciais prejuízos aos trabalhadores é procedente e correta. Contudo, imagino ainda ser possível iniciar um novo modelo que busque atrair o capital estrangeiro para a a América Latina, transcendendo assim a forte polarização entre ideários pra lá de religiosos e conservadores de parte a parte. Há que se começar a flexibilizar sim, algumas coisas, tendo como metas algumas questões fundamentais de ordem social, ecológica e tantas outras que a sociedade pode e deve cobrar. Já que falamos de utopias, já começo a fugir daquelas que teimam em prevalecer, como se fossem as únicas disponíveis na atual capacidade de pensamento da humanidade. Não sou eu quem vai dar início a este processo de inovação. Longe de mim. Mas que já se forma um gradiente que acabará por pressionar pelas necessárias mudanças, sem que para isso tenha que aceitar a pecha fácil de "neoliberal", é só esperar para ver. Mas estamos aqui para tentar regular as idéias de terceiros, dentro de nosso parco conhecimento. É nossa missão.
Abs
A atual disputa ideológica no âmbito das políticas públicas, o que temos é o neoliberalismo x estado de bem estar social, no Brasil e no mundo. Não existe outra.
Quanto aos termos neoliberalismo e neoliberal quero deixar claro que não é uma referência pessoal, exatamente porque não lhe correspondem. Quanto a citação e o artigo da Crunch em ambos existem todos os elementos para justificar a conclusão que eu tirei.
Felizmente não posso concordar com a idéia de que para criar uma ambiência palatável ao empresariado tenhamos no Brasil que chegar ao ponto diminuir direitos sociais e fragilizar relações trabalhistas. Se pararmos para olhar é exatamente dessa impossível liberdade de mercado que os EUA estão hoje querendo escapar. Seja pela construção de um sistema inclusivo de saúde, seja porque estudando maneira de reativar uma economia que mudou suas empresas para a China, onde há exatamente o cenário que o artigo da Crunch deseja.
Ocorre que o revés da fortuna apregoada pelos neoliberais nos EUA foi o que? Diminuição da massa salarial, endividamento progressivo do cidadão médio para manter aquecido o consumo e uma espiral especulativa que não expressava a realidade do mercado.
Então com o advento da crise o país acordou para o pesadelo de não ter políticas sociais para fazer frente à adversidade, e ainda ter de enfrentar a crise com a maior parte de suas plantas tecnológicas no estrangeiro, com um mercado interno e externo também fragilizado e com problemas tão graves quanto as pessoas passarem a morar em estacionamentos porque não tinham mais como pagar a hipoteca de suas casas.
Nesse cortejo de problemas, o mundo assistiu estupefato que os arautos do estado mínimo agora buscavam socorro nas poucas fortalezas que restaram do Estado de Bem Estar Social de Franco Dellano Roosevelt. No início da crise, recordo que assistimos instituições financeiras norte-americanas serem estatizadas para conter a sangria violenta de recursos. Como contra-ponto interessante, na ocasião, também foi noticiado o quanto a era Bush flexibilizou o recolhimento de impostos para as empresas norte-americanas, normalmente definido por lei em 35% Ou seja, a farra do mercado foi bem longa e o caixa estava sem folga quando o mundo caia. E não parou até agora. Para ilustrar com um fato recente, você e eu, por exemplo, comentamos no Flanar e no Voo de Galinha sobre o fechamento de hospitais em NY e desemprego de pessoal na área da saúde.
Por essas razões, por absolutamente não acreditar numa doutrina que em termos práticos sobrevive de crise em crise do sacrifício de gerações, que destrói as relações sociais em nome do invididualismo cego, do consumismo e da mão invisível do mercado, me é impossível ficar indiferente as recomendações do artigo publicado na Crunch. É disso que eu estava falando.
Compeendi bem, amigo.
E sua análise é irretocável. E compartilho com você há alguns anos esta identidade de avaliações sobre o mundo que nos cerca. Contudo, como você bem conhece, sou um cara meio "punk". E resisto muito em aceitar este planeta dividido por homens, com apenas 2 modelos para definir seu "bem estar". É algo simplório demais. Tosco demais. Cartesiano demais. Po quantos anos, a humanidade assim não permaneceu, em outros contextos, sem que alguém surgisse para alavancar outras soluções mais inovadoras. É isso que me incomoda. E mesmo com todo o exercício de lógica existente, esta é uma realidade que vai sempre me incomodar. Longe de pairar na superficialidade, ouso almejar uma terceira ou quarta vias que possam vir ao encontro de nossos anseios. Muito embora, sem a menor dúvida, o artigo do Crunch esteja longe de formular nada mais além do mesmo.
É isso.
Abs
Desculpem, mas toda essa conversa é muito bonita no plano teórico. Quem defende o modelo de tributação e o excesso de burocracia a que estão submetidas as empresas no país simplesmente desconhece a realidade e a verdadeira natureza da atividade empresarial.
Um exemplo interessante é o da micro e pequena empresa, simplesmente o maior empregador no Brasil.
O peso dos tributos, a dificuldade de acesso ao crédito e a burocracia tresloucada (que onera de forma desleal as pequenas empresas) simplesmente inviabilizam a manutenção da maioria delas por um prazo superior a 5 anos. Esse cenário desfavorável ao empreendedorismos e à falta de competitividade serve para estimular a informalidade, a exploração do trabalhador e a formação de trustes e cartéis.
No fim das contas, o poder continua concentrado nas mãos de poucos porque estamos condendados a escassez de casos de sucesso empresarial.
Correção: Esse cenário desfavorável ao empreendedorismos e a competitividade serve para estimular a informalidade, a exploração do trabalhador e a formação de trustes e cartéis.
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