segunda-feira, 21 de junho de 2010

La Bobera


Imagem: ICS

É sabido há mais de uma década que a doença de Alzheimer tem um comportamento diferente na América Latina no que diz respeito ao início dos primeiros sintomas: entre nós o início pode ser dar mais precocemente, entre 65 e setenta anos de idade (contra 70 a 80, na Europa).
Na Colômbia em particular, algumas famílias vivem a estranha situação de verem a moléstia poupar os pais e atingir vários filhos, iniciando dos 40 aos 50 anos. A região dos Andes, Antioquia, é a mais atingida, havendo relato de início do “esquecimento” em paciente de 32 anos. Lá a moléstia é conhecida como La Bobera.
Nos últimos 300 anos o isolamento e o casamento entre parentes parecem tem acelerado muito a disseminação do quadro demencial e tal fato é atribuído a mutação genética..
Até hoje os tratamentos para o mal de Alzheimer tem se mostrado ineficientes, talvez por serem administrados tarde demais.
Estima-se haver 530 milhões de pessoas atingidas em todo o mundo, número este que pode duplicar ou mesmo triplicar nos próximos 40 anos.
A comunidade científica recruta patrocinadores na indústria farmacêutica para desenvolver e efetuar exames de DNA, testes de memória e rastreamento por ressonância magnética do encéfalo, assim como para realizar um estudo duplo-cego com várias drogas na Colômbia.
Na aldeia colombiana de Angostura, o lar ancestral de muitas famílias acometidas, o trabalho dos cientistas esbarrará num obstáculo firme: a região é controlada pela guerrilha.
Teremos como escapar de La Bobera no futuro tratando-a preventivamente como o fazemos com outras doenças? Ou iniciando as medicações bem precocemente?
Quem viver, e lembrar, verá.

4 comentários:

Val-André Mutran  disse...

Que tragédia Scylla.

Scylla Lage Neto disse...

Val, o problema é que o tratamento da D.A. está num cul-de-sac: encurralado pelas velhas teorias.
Precisamos de uma saída urgente e os casos colombianos podem nos ajudar.
Abs.

Yúdice Andrade disse...

Tenho verdadeiro pavor de perder a única coisa que funcionou bem em mim (e olhe lá). Também por minha mãe, por isso acompanho com interesse as notícias sobre essa doença. Eis aí mais um bom motivo para acabar com a guerrilha.

Scylla Lage Neto disse...

Yúdice, um dos chefes da guerrilha desta região tem uma mãe com Alzheimer e permitiu que uma enfermeira, de nome Lucia Madrigal, coletasse sangue para testes genéticos.
Como a confusão é grande por lá, a própria Madrigal acabou sequestrada e libertada 8 dias depois.
O curioso é que por ordem do "Big Boss" as amostras de sangue foram mantidas resfriadas em um rio para que não estragassem.
A história é totalmente surreal e cinematográfica, e foi contada no NYT.
Abs.