terça-feira, 3 de agosto de 2010

Dificuldades x Facilidades

Quem possui um veículo, já deve conhecer estes pequenos lacres, que são afixados a placas automotivas. A imagem mostra algo semelhante, aqueles que de fato são utilizados. Resolvi pesquisar na web alguma imagem que os mostrasse, tendo em vista que são uma coisinha tão pequena, que poucos sequer se apercebem de sua existência.
Muito bem. Nestas férias de julho, nos únicos dois dias que resolvi me aventurar com os filhos para um dos balneários que mais gosto, passei por uma daquelas rigorosas fiscalizações da Polícia Rodoviária Estadual. Lá fui parado, e após mostrar todos os meus documentos obrigatórios em dia, fui avisado que talvez não pudesse prosseguir viagem, pela ausência do lacre. Supreso, acompanhei o soldado que me mostrou o lugar onde deveria estar o lacre, absolutamente vazio. Os arames de aço que o prendiam a placa, ainda estavam lá, visivelmente cortados de maneira criminosa.
Supreso, expliquei ao diligente policial militar, que nem sequer havia notado a ausência do lacre. E para ser sincero, nem sequer compreendia como um elemento tão pequeno, exposto aos humores e ímpetos externos tivesse o potencial de causar tamanha dor de cabeça, à ponto de me fazer voltar para casa. Ainda bem que o diligente policial foi compreensivo e apenas me advertiu que providenciasse a colocação de outro lacre junto ao DETRAN, permitindo-me seguir viagem. Todos os elogios a este elemento, que inclusive se portou de maneira educada e cordial.
Muito bem. Em pleno século XXI, como alguém pode ter a brilhante idéia de criar e manter uma solução tão arcaica para sabe-se lá o quê? Qual a razão?
Afinal, algo tão pequeno e exposto, com todo o potencial de criar uma chateação tão desagradável ao mais diligente e responsável motorista, tem todos os ingredientes para se constituir uma máfia. Em tudo semelhante aos limpadores de pára-brisa traseiros, antenas de rádio, retrovisores e tudo o mais que a marginalidade possa, através de pequenos furtos, transformar em dinheiro fácil. Mas o lacre, parece ter uma particularidade que só ele tem. Ele é uma exigência de uma instituição pública. Que certamente, sabe desta grande vulnerabilidade do lacre. Então qual a razão de manter esta solução?

11 comentários:

Anônimo disse...

Caro CB,

A razão desse lacre remonta às origens do Estado brasileiro , cuja natureza ilustres e inteligentes cientistas sociais muito bem explicaram - a vitória do burocratismo, aqui entendido como a urdidura de tramas e quetais que , pra simplificarmos , criem dificuldades à sociedade a modo dela - burocracia/burocratas - vender facilidades .
Cem reais dados à pessoa certa dispensam o usuário de deslocar-se até àquela fábrica de , digamos , facilidades e obter o seu lacre em casa mesmo.
O espoliado proprietário de veículo automotor quase todo ano se vê às voltas com novidades que, via de regra, lhe assaltam o bolso quando não a paciência. Vg, o famigerado extintor , obejto absolutamente desconhecido em terras civilizadas e que aqui perdura "ad eternum ". No sul - e logo estará aqui, não duvide - a última moda e a "inspeção veicular". E tome taxa, tome fila, tome burocracia e seu corolário,etc,etc.
Se algum masoquista quiser listar a quantidade de impostos, taxas e assemelhados que paga anualmente em razão do seu carro, terá , com certeza , uma surpresa . Agora até remessa de documentos, via Correio , é cobrada de nós .

E assim "la nave va nesta Pindorama

Carlos Barretto  disse...

Seu comentário, além de muito bem redigido, ilustra com perfeição, sem tirar uma linha, exatamente o que penso a este respeito.
Obrigado

Prof. Alan disse...

Em tese, a finalidade do lacre é evitar a remoção e a troca da placa do veículo.

Por isso furtaram o seu: para usar como reposição em algum veículo que teve as placas trocadas - provavelmente com alguma finalidade escusa, pois se for preciso trocar a placa por razão aceitável a loja onde você faz a placa te dá um lacre desses de graça, de tão baratinho que é.

Uma dica: quando você levar em alguma loja para repor o lacre, peça para o camarada fazer uma "laçada", que é uma amarração na qual o lacre fica por baixo do arame. Daí é impossível retirar o lacre sem danificá-lo, e pro bandido ele só serve inteiro.

Carlos Barretto  disse...

Boa e prática dica, Alan. Vou atrás.
Abs

Itajaí disse...

São duas coisas distintas: uma o lacre, outra o imposto. Aquele antiquado, aquele um instrumento de cidadania. Se um é instrumento materialmente frágil e anacrônico para comprovar regularidade fiscal, de outra água é a questão dos impostos. Não há que misturar alhos com bugalhos.
Considero que o Brasil deveria ter uma base tributária mais moderna e mais equânime, mas não considero que esse raciocínio se aplique de igual modo a tudo, como por exemplo a veículos particulares de passeio na mesma medida em que se reclama redução de impostos para alimentos, medicamentos e geladeiras.
Por fim não entendi essa história de cobrança de remessa de documentos por correios. Trata-se de um serviço descentralizado e terceirizado pelo estado brasileiro, igual ao que há em outros tantos países capitalistas. Aqui pelo menos temos a tarifa da carta social, criada pelo governo Lula, que, parece-me, custa apenas R$ 1 - o mesmo ou um pouco mais do que pagamos aos trabalhadores informais que reparam nossos carros por alguns minutos, nem um pouco se esforçando para evitar que nos seja furtado o tal lacre pregado a cuspe.

Scylla Lage Neto disse...

Charlie, o lacre agora vem com um chip, me informou um amigo que leu sua postagem.
Agora, para que serve o dito chip, isso ele não soube me dizer.
Abs.

Yúdice Andrade disse...

Os comentários são bons pela crítica e pela ótima dica dada pelo Prof. Alan. Mas justamente dela vem uma pergunta que se recusa a calar: e por que os funcionários do DETRAN, que instalam os lacres, já não fazem a tal laçada desde o primeiro momento? Não seria razoável que assim procedessem, no interesse do administrado e dos fins sociais a que supostamente se destina o tal lacre?
Aposto que 100% das pessoas entenderão, como eu também entendo, que a ideia é facilitar a subtração, gerando assim receita para o DETRAN, por meio das substituições.

PS - Que sorte, Barretto: achei que o "talvez não possa prosseguir" fosse o começo de uma proposta de acordo...

Carlos Barretto  disse...

Cara. Eu ali, naquela situação, com dois filhos dentro do carro, sei não. Foi sorte mesmo. Daí os merecidos elogios ao policial.

Renato disse...

Caro Charles, já me aconteceu duas vezes. Numa eu fui pego numa Blitz e na outra percebi antes.
Atualmente o lacre vem com um chip que guarda todas as informações do veiculo,assim quando voce for pego em uma blitz o policial poderá 9em tese, desde que tenha instrumento para isso)analisar o chip e ver se corresponde realmente a placa e ao veiculo. Com isso, pretende-se diminuir o roubo de lacres.
Assim me disseram quando fui repor o lacre de meu veiculo.

Carlos Barretto  disse...

Pois é.
Mas será que ao invés desta @#$%*& deste lacre, não seria melhor embutir a @#$%&*$ do chip na própria placa, a exemplo dos cartões de crédito?

Itajaí disse...

Eles te roubariam a placa. O certo, pensei, seria fazer uma espécie de código de barra, que seria afixado pela face interna dos vidros.