Eu imaginava escrever um post bem-humorado nesta segunda-feira, antevéspera do fim do mês. O estilo seria aquele do saudoso Juvêncio de Arruda Câmara, no bordão que magistralmente criou quando escrevia Não é verdade que... Com esse mote de antítese e ironia, dizia Juvêncio muitas verdades sobre a política paraense e brasileira. Entretanto, em contrário ao que eu pensava, a estilística do post teve de mudar, porque lembrei-me que nesse país agosto é sinônimo de desasossego em política.
Lembrei-me claro de todo o drama de Vargas, do atentado na Toneleros, do Gregório que como um cão fiel morreu no mais completo silêncio e na miséria; da UDN, da mídia canalha que de forma sórdida movia o ânimo nacional contra o presidente por ser aliada de um projeto golpista e adesista à agenda da Guerra Fria e a entrada de empresas multinacionais que, ao modo de hoje, pretendem lucros maiores as custas de flexibilização de leis que regulam a relação capital-trabalho. Lembrei de majores baleados, de manifestos coronelistas e de clubes militares, pois naquela época de samba e prontidões, como observou Noel Rosa, essas eram nossas coisas, eram coisas nossas que tínhamos em comum com a mais ordinária republiqueta de bananas.
Mas enganam-se aqueles que pensam que depois da queda do muro de Berlim as trincheiras se pacificaram ao redor do mundo e nas linhas abaixo do Equador. Quando menos esperamos, descobrimos que sobrevivem saudosismos sob os pés de um Brasil democrático e liberal, que a irresponsabilidade de alguns não hesita revigorar ao oferecer os lábios para quem sabe o beijo da morte sobre os direitos e garantias individuais. A denúncia acima publicada desperta-me fúria, de raro acontecer, contra quem pretende disputar uma cadeira presidencial em eleições democráticas, usando de táticas dissimuladas que fazem lembrar as manobras de Mussolini para chegar ao poder na Itália.
Olho a minha frente o exemplar da Constituição Federal de 1988, que em seu tit.2, cap .1, art. 5o., xliv, pretende em letra tranqulizar a todos os brasileiros que "constitui crime inafiançável e imprescritível a ação de grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado democrático". Assim o será se tivermos nossa população bem informada, de modo a discernir as mandracarias que recheiam os conluios da extrema direita, a que agora está somado o pragmatismo irresponsável de quem está em vias de uma acachapante derrota eleitoral.
A notícia publicada em Brasília Confidencial traz indeléveis a minha lembrança os fatos que culminaram com a deposição do governo de João Goulart em 1964 e os seus lastimáveis fatos sucedâneos: o fechamento do congresso; a legislação de exceção que conduziu o país por vinte anos; a imagem de brasileiros matando e sendo mortos em conflitos armados nas ruas das capitais brasileiras e na selva amazônica; os escândalos de corrupção sem que nenhum culpado que não fosse da oposição fosse punido; os exílios voluntários e involuntários dos cidadãos; as aposentadorias compulsórias de funcionários públicos; a tortura como negócio de estado, digna até da concessão de altas honrarias... Lembrar desses fatos é recordar com amargor do preço o qual o país pagou para sair desse ciclo desvirtuador da pluralidade democrática; é reconhecer no farsante o desejo de repetir a História como farsa e, principalmente, de engendrar tragédia que lhe permita realizar seus intereresses pessoais e partidários, ambos tão mesquinhos e comezinhos quando confrontados com os interesses da sociedade brasileira.
Recomendo aos nossos leitores (as) que leiam a reportagem acima anexada, clicando duas vezes sobre a imagem e em seguida ampliando-a com outro clique sobre ela. Como vimos a manobra de portas fechadas vazou pelo zelo de algum presente na reunião ou mesmo da agremiação política que ali se fez representar porcamente, provando que para a decência não há limites ou pragmatismo que a circunstanciem: ou a temos, ou não a temos sempre que mandarmos às favas os escrúpulos.
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