domingo, 19 de setembro de 2010

Sobre sonhos e idéias



Cartaz americano de A Origem

Poucos filmes me deixaram tão confuso antes de ir ao cinema quanto A Origem, de Christopher Nolan.
Ao vê-lo pela primeira vez, há quase um mês, eu carregava comigo uma sacola cheia de dúvidas, esperando algo entre a chatice total e uma obra prima definitiva.
Saí do cinema com o mesmo feeling de quando vi Matrix e Blade Runner: o que é real?
Durante semanas fiquei re-digerindo, em divagações, passagens e idéias plantadas no meu cérebro pela película.
E finalmente tive a oportunidade de revê-lo há 3 dias, na folga de um congresso em Salvador, e passei a assumir que definitivamente adorei o filme.
Considerando que a ciência é plenamente incapaz de penetrar nos sonhos e que os considera como meras reativações de memórias estimuladas no decorrer do dia, a única maneira de neles interferir é através das experiências vividas no dia-a-dia. Isso inclui os delírios oníricos, ou seja, sonhar acordado. O filme, portanto, tem uma base científica 100% ficcional.
O tempo que passamos na fase REM do sono (onde os sonhos são ricos em imagens) é maior nos últimos ciclos, isto é, próximo à hora de acordar, e, ao contrário do filme, é proporcional ao tempo real. E nada impede, biologicamente, que haja um sonho dentro de um sonho.
As drogas hoje existentes são capazes de facilitar ou bloquear o sono REM, e só.
E mesmo que exames de Ressonância Magnética Funcional mostrem quais partes do cérebro são ativadas durante o sono, o conteúdo do sonho permanece secreto e restrito a quem o vivencia. Sonho e pensamento são territórios (ainda) secretos.
No filme de Nolan e na realidade das nossas vidas (ou do filme das nossas vidas), vagamos por um mundo em estado de aparente vigília, parcialmente sedados, esbarrando em alguns fantasmas, em muitos obstáculos e nas perdas passadas, projetando-os para um futuro de pouca definição.
A Origem (eu trocaria a tradução do título original Inception por A Absorção), apesar de ser um filme sobre sonhos, revelou-se para mim como uma obra de forte cunho realista.
E se, ao contrário do filme, o implante de idéias em nossas mentes tem que ser feito durante o nosso período de vigília, os psicólogos, padres/pastores, professores, médicos e políticos parecem ter um certo know-how intuitivo sobre a técnica a ser usada com esta finalidade.
Afinal, qual é a vida real?

Um comentário:

Anônimo disse...

Acrescento mais algumas palavras no seu belo comentário, o maior de todos os sonhos é o sonhar acordado, esse que sempre vem e nos tira da realidade, quer estejamos só ou acompanhados, porém, quando alguém pede nossa atenção dispertamos.
Se nossas vidas fossem como nos sonhos, certamente seriamos felizes.