Tinha decidido não escrever uma só linha sobre o novo governo tucano, que começará em poucos dias. Afinal, seria perda de tempo. A uma, pela sensação de mais do mesmo causada pelo retorno ao poder de um grupo que o teve por 12 anos, com total soberba e sem qualquer oposição viável, entremeado por um hiato de inúteis 4 anos de gestão petista. A duas, porque criticar as decisões tomadas por um tucano me transforma numa vitrine para todo tipo de ódio. Tucanos não erram. Tucanos não se enganam. São sempre perfeitos e praticamente divinais.
Assim, tenho visto as notícias sobre a formação do secretariado com aquele ar de obviedade. Colocar nas funções gente para vagar suplências parlamentares, permitindo o retorno de amigos velhos na política, no mau sentido. Tudo permeado pelo já conhecido discurso jatenista de união, de mãos dadas, de isenção. Quem odiava meio mundo era o Almir. Ele não, é apenas um administrador cônscio de suas responsabilidades. Sei.
Ontem, todavia, estremeci quando vi o anúncio de que o arquiteto Paulo Chaves voltaria à pasta da cultura. Mesmo assim, não quis escrever sobre. Acabei me rendendo, sensibilizado por esta postagem do Edyr Proença, que vive no e para o teatro e sabe do que está falando. E por que, num Estado repleto de conflitos agrários, caos na saúde, isolamento geográfico e sub-desenvolvimento científico-tecnológico, o que me incomoda é justamente a cultura? Talvez por ter na família uma pessoa ligada a esse mundo e que, como Edyr, sabe o que se pode esperar do futuro que se desenha. Talvez por ter escrevido, mais de uma vez, sobre a falta de políticas culturais, em meu outro blog.
Acima de tudo, com certeza, por ver na presença de Paulo Chaves uma síntese do estilo PSDB de governar: elitista, preocupado com obras milionárias (mas projetadas sem ter, sequer, um fraldário), que caem no gosto da verborrágica classe média. Daí o sucesso. Ricos não se manifestam (os ricos de verdade, bem entendido), porque para eles tudo está sempre bom. Pobres até se manifestam, mas ninguém lhes dá ouvidos. Aí entra a classe média, com sua gana por funcionar como formadora de opinião, e define quem merece viver e quem não. Conheço uma cidadã que me proibiu de ir à Estação das Docas, porque é uma obra tucana. Que tal? Em sua cabecinha, ou eu me ajoelho perante seus deuses pagãos e os adoro, ou não posso exercitar a liberdade de ir e vir que uma tal de Constituição me deu. Porque antes do PSDB não tínhamos nem isso. Sei. Já conheço esse discurso.
Enfim, nada de novo no horizonte. Pelo contrário, apenas velharias que não valem um antiquário. Mas fica aqui o meu lamento, que nem protesto isto chega a ser, sempre esperando que sirva de advertência aos vivos. O futuro dirá quem errou. Se bem que, em se tratando de PSDB no Pará, nem essa esperança podemos ter.
PS - Para avisar os cidadãos ofendidos com este texto, eu não tenho nenhum cargo no governo petista. Minha vida pessoal não vai mudar após 1º de janeiro, ok?
3 comentários:
Yúdice, você percebeu que com a ausência do anonimato, os comentários ofensivos que seriam de ser esperar numa postagem como essa simplesmente sumiram?!...
Abs.
Belo texto Yúdice. Tenho a mesma opinião/sensação de "nada de novo no front" e por morar fora de Belém atualmente, ás vezes recebo de amigos algo do tipo "ah,mas é assim mesmo."
O pior foi conferir alguns desses "eleitos" do secretariado se vangloriando no twitter de terem apoiado grupos vencedores quando era claro que o faziam por ja terem seus nomes amarrados aos cargos feito mandinga do ver-o-peso.
Com efeito, Scylla, não tive nenhum problema até agora.
Pura verdade, Arthur. E como eu esperava pedras, o teu apoio me serviu de alento. Bom ano novo!
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