quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Solidariedade a Franssinete Florenzano

A triste notícia da morte de Steve Jobs acabou por ofuscar um pouco outra má notícia, essa bem mais próxima de nós: a de que a administração do Tribunal de Contas do Estado sucumbiu à pressão do vereador Gervásio Morgado e exonerou a jornalista Franssinete Florenzano da assessoria do TCE, fazendo-a retornar a seu órgão de origem, a Assembleia Legislativa.

Para quem não acompanhou o imbroglio, Franssinete, que edita o blog e o jornal Uruá-Tapera, passou a ter sua cabeça a prêmio depois de denúncias feitas contra o vereador na internet. Como de hábito entre os poderosos da terra, em lugar de responder às acusações e prestar contas ao eleitorado, Morgado optou pelo caminho mais vil: pediu a exoneração da jornalista ao presidente do TCE e a obteve, no que teve como cúmplices outros edis, inclusive o presidente da Câmara Municipal de Belém.

Presto minha solidariedade irrestrita a Franssinete, fazendo minhas as palavras do professor Fábio Castro, que em seu Hupomnemata, definiu de maneira exata a questão:

A jornalista Franssinete Florenzano, editora do blog Uruá-Tapera e do jornal de mesmo nome foi exonerada do Tribunal de Contas do Estado por motivos políticos.

Franssi é uma jornalista competente, uma profissional honrada e dedicada ao seu trabalho. Há muito tempo vem sendo perseguida pelos poderes sujos do estado do Pará. Em episódios sucessivos, tem tido seu trabalho de jornalista cerceado. Dentre outros, pelo ex-deputado federal Vic Pires Franco (DEM); pelo atual governador Simão Jatene (PSDB), durante a campanha de 2010; pelo vereador Raimundo castro, presidente da Câmara Municipal de Belém e, ainda, pelo vereador Gervásio Morgado (PP). Recentemente, começou a receber ameaças anônimas.

A demissão da jornalista é resultado da pressão do vereador Morgado sobre o TCE.

Gervásio Morgado, por sua vez, não é um vereador competente. É o autor da proposta de mudar o nome da Travessa Apinagés, o autor de inúmeros atos de perdão de dívidas para com a prefeitura e o mesmo que foi fotografado bebendo cerveja em plena Câmara Municipal.

Esse tipo de situação exige que as pessoas se posicionem. Defender a Franssi é defender a sociedade, pois o trabalho dela é exemplo do jornalismo que interessa à sociedade, ao bem público, ao interesse comum. Um exemplo do jornalismo que não pactua com os interesses pessoais e empresariais que tomam a comunicação e a política, traindo, nelas, sua função elementar.

Essa situação é um abuso de poder político e nos leva a perceber o quanto o estado do Pará tem-se tornado refém desses interesses e de seus poderes sujos.

Não temos jornais, rádios ou TVs, mas temos a internet - e justamente é isso que tem incomodado a gente como Gervásio Morgado. Façamos uso dela: de nossos blogs, do Twitter, das redes sociais, enfim, para ajudar a evidenciar a maneira como as elites paraenses, na sua covardia, ganância e arrogância - sim, e na sua ignorância, é claro - têm abusado de prerrogativas públicas e do poder econômico para cometer injustiças e arbitrariedades.

12 comentários:

Edyr Augusto Proença disse...

Por algum motivo técnico que não sei resolver, não consigo postar comentários no blog de Franssinete. Então venho aqui em Flanar manifestar meu apoio incondicional contra a violência que está sofrendo.
Edyr Augusto

Yúdice Andrade disse...

Assim que soube do ocorrido, meu caro Francisco, passei dois dias acessando o blog de nosso amiga várias vezes, a fim de ver se ela se pronunciava a respeito. Mas até o momento não houve a mais remota menção. Por isso, decidi não escrever nada a respeito.
Obviamente, não te faço nenhuma crítica por esta postagem. Aliás, pelo contrário, venho me somar a tua sugestão e manifestar publicamente o meu apoio a mais uma profissional perseguida, que perde frente aos ímpios. E olha que, nesse caso, nem se pode dizer que caiu diante do poder. Que poder?
Vai ver que o mais triste é isso, mesmo: perder algo para um sujeito da estatura desse vereador, que nada fez, jamais, pelo benefício da cidade.

Marise Rocha Morbach disse...

O que fazer? Meu apoio irrestrito para Franssinete Florenzano!

Francisco Rocha Junior disse...

Edir e Marise,

Está feito o registro de vocês. Força à Franssinete.

Yúdice,

Tuas considerações denotam sensibilidade. A Franssi, realmente, nada divulgou a respeito, talvez para não parecer que estava defendendo um interesse pessoal.
No entanto, divulguei um post do Fábio Castro, que tornou pública a questão. Além do mais, o fato virou notícia também porque foi publicada uma nota a respeito no Repórter Diário.
Finalmente, o assunto tem sido muito falado no Twitter, dando uma dimensão suficiente para que eu me sentisse à vontade para falar disso aqui no blog.
No entanto, mesmo que ninguém tivesse escrito nada sobre, creio que seria necessário falar disso onde fosse possível, porque o fato é de interesse claramente público. É um evidente caso de tráfico de influência, de censura e de uso vil de um cargo público perpetrado pelo tal vereador.

Abraços nos três.

Carlos Barretto  disse...

Sem dúvida, FRJ.
Sua lembrança foi bem vinda e totalmente procedente.
É por esta razão que me orgulho de ter parceiros tão bons neste blog.

Abs

Annita disse...

Com todo respeito a todos, não vejo dessa forma. Não acho que houve nenhuma arbitrariedade por parte do Luis Cunha, o cargo é dele e ele decide quem fica ou naão ao seu lado. Se a Franssinete não era digna da confiança dele, paciência, ela tem aceitar e não ficar atirando pra todos os lados. Ela disse que é honesta, leal e séria, mas me perdoem, ela não está sendo nenhuma das coisa nessa novela toda.

Francisco Rocha Junior disse...

Annita,

Não chamei o presidente do TCE de arbitrário. Falei que ele sucumbiu à pressão do vereador Morgado, o que é muito diferente.
As circunstâncias concordantes tornam evidente que a exoneração da jornalista se deu em razão desta pressão. Ou seja, houve censura - em uma forma indireta, mas houve.
Não há, certamente, coincidência no fato de que a exoneração se deu poucos dias após a publicação das críticas a Gervásio Morgado no blog da Franssinete Florenzano, e pouco após a visita nada cortês que o vereador fez a Luiz Cunha. Não fosse assim, porque devolvê-la à ALEPA logo após os episódios?
Quanto a atirar para todos os lados, discordo também. Nada do que o Uruá-Tapera disse é mentira: Gervásio tomou cerveja em plenário, promoveu a troca do nome de rua dos Apinagés, propôs leis que em nada beneficiam a população... Ele é agente político e aquilo que faz na função deve ser de conhecimento de toda a população. Se Franssinete divulga esses fatos de interesse geral, onde está o erro dela?
Obrigado por sua visita e comentário.

Silvina disse...

Se o cargo fosse dele, quando ele saísse da presidência do tce, ele levaria o cargo com ele. O cargo é da instituição. A confiança deve ser em relação aos interesses do órgão, nao pessoalmente do seu gestor. Órgãos publicos são impessoais. Nenhuma instituiao publica deve ser tratada como se privada fosse! Entendeu?

Annita disse...

Francisco,
Permita-me ponderar sobre alguns pontos dessa situação:
Não tenho procuração e nem interesse em defender ou acusar quem quer que seja nesse episódio protagonizado pela Sra. Franssinete. Muito menos tenho simpatia pelo vereador Gervásio, só acho que a Sra. Franssinete está extrapolando e aproveitando-se de toda essa situação, inclusive em detrimento de um órgão sério, composto por servidores públicos que merecem respeito e consideração pela Sra. Franssinete, inclusive por já ter sido integrante do quadro do TCE/PA. É patente a antipatia que a mesma demonstra contra o edil em questão, verifica-se que suas publicações em seu blog referente ao mesmo já se tornaram questões pessoais, deixando de lado a ética, o profissionalismo transformando-se em ojeriza figadal. Inclusive publicando assuntos de ordem familiar, com publicação de um B.O. que tem como parte um filho do vereador. O que tem isso a ver com a atuação do vereador? Como ela conseguiu cópia digitalizada deste? Compartilho da corrente que, antes de instruírem a Ação Penal, os B.O.’s são sigilosos, podendo apenas haver vistas para os advogados dos envolvidos.
Ao ser empossada no cargo comissionado de assessor de conselheiro, a Sra. Franssinete passou a ser antes de tudo servidora do TCE/PA, devendo obedecer as regras e normas do órgão. Regras essas constantemente descumpridas em seu blog (vide art. 61 do Regimento Interno do TCE/PA), inclusive misturando o particular com o público. O cargo comissionado por natureza é de confiança, agora pergunto: quem ficaria com uma pessoa que estaria batendo de frente com seu superior hierárquico e querendo impor situações, que não tem consonância com o funcionamento com o órgão? Ou seja, um blog?! Até hoje a Sra. Franssinete não disse nada que desabonasse a conduta de qualquer servidor do TCE, ao contrário, quis impor um comportamento dela, só dela. Mas fica, sem provar, colocando em xeque todos os conselheiros. O que é isso, pelo amor de Deus? A não ser o de colocar seus interesses particulares acima dos outros? Segundo ela, houve a opção pelo blog, então pronto, o que tem ela de reclamar? Censura? Em que momento houve censura, se até hoje ela destila seus gostos e desgostos no blog? Querer responsabilizar todos os conselheiros por sua exoneração é no mínimo desprezar a inteligência dos outros.
O caso Gervásio é só uma desculpa para ela tentar desmoralizar terceiros.
Por fim, o cargo é de livre indicação do conselheiro e enquanto permanecer como tal. E cabe regimentalmente ao presidente nomear.

Yúdice Andrade disse...

Francisco, subscrevo todas as tuas palavras. E lamento o formalismo cego de manifestações como a da Annita. Falta uma visão maior do interesse público e melhor consciência da cultura patrimonialista com que as autoridades costumam se relacionar com seus cargos.

Franssinete Florenzano disse...

Queridos Francisco, Edyr, Marise, Carlos, Yúdice e Silvina, muitíssimo obrigada, de coração, por suas palavras.

Confesso que tudo isso me deixou muito abalada, nunca pensei que um dia a coação moral e a censura fossem estender seu manto de forma tão odiosa sobre meu trabalho, ainda mais na forma como aconteceu no TCE-PA.

Não quis me pronunciar por causa do meu estado emocional. E também para não alimentar comentários maldosos de que eu estaria resistindo à exoneração.

Foram muitas as manifestações públicas, a começar do Sindicato dos Jornalistas, dos blogueiros e colegas jornalistas, além de amigos e até desconhecidos, no twitter e no Facebook, mensagens, e-mails e telefonemas.

Vejo, pela posição de Annita, que devo fazer um post esclarecendo de uma vez por todas o que aconteceu. É incrível como há quem pense que cargo público é um feudo, e que servidor é um empregado pessoal.

Não. Não é assim. Sou servidora pública. Tenho 28 anos de serviços prestados ao Estado do Pará, não a governos nem a particulares. Se as coisas ainda acontecem dessa forma repugnante, é por causa do entendimento colonial que infelizmente perdura, inclusive na cabeça de gente dita esclarecida.

No serviço público, só se deve fazer o que está previsto em lei. E não me consta que a Constituição tenha sido revogada nos seus dispositivos acerca das liberdades individuais, da livre manifestação e expressão do pensamento, e da liberdade de imprensa.

Meu abraço fraterno e agradecido. ;)

Francisco Rocha Junior disse...

Franssi, o assunto merecia o destaque, não somente pela censura que te foi imposta, mas também pela tua seriedade e honradez.

Abs.