Tive, mais uma vez, a certeza de que podemos nos enganar redondamente com as pessoas quando vi e revi, prazerosamente, o documentário “Filhos de João, o admirável mundo novo baiano”.
Uma das coisas que mais me impactou foi ouvir, dos próprios músicos, que o bossanovista João Gilberto foi o mentor intelectual de um dos grupos que é a cara do Brasil-pandeiro, o encantador Novos Baianos. Pra mim, até então, isso era simplesmente impossível: João, um “quadrado”, conspirando a criação de algo tão vanguardista e saculejante. O documentário, aliás, é construído a partir desta perspectiva e, não à toa, o nome de João Gilberto é destaque no título da película.
Imagens de época são costuradas delicadamente com depoimentos generosos dos músicos, narrando várias etapas de construção até a desconstrução do grupo, movido à paixão, paixão pela música e pelo futebol. Chegaram a se achar melhor jogadores que músicos! Torravam grana em tantos jogos de camisa que poderiam ter quitado o sítio que alugavam para morar juntos. Pepeu Gomes descreve quase incrédulo.
Hoje dizem que viveram intensamente até que a liberdade no modo de se relacionarem uns com os outros começou a ser contaminada pelo modelo capitalista de se controlarem uns aos outros. E foi aí que os Novos Baianos deu o ponta-pé para sua derrocada. Essa é uma versão levantada por eles. Não se sabe a versão de Baby, por exemplo, a única do grupo que não topou fazer parte do documentário.
Recomendo muito. E podem começar por aqui.
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