sábado, 17 de dezembro de 2011

Simples mortais



Se tem uma coisa que eu adoro na Bélgica é a maneira como vivem as autoridades em geral - prefeitos, parlamentares, ministros etc. O vídeo acima mostra a equipe de uma TV regional do norte da Holanda, esta semana no centro de Bruxelas, procurando o Manneke Pis ( a famosa fonte que é estátua de um menino fazendo xixi, atração turística da capital belga) . Eles pedem informação a um passante, que responde em bom neerlandês: "na primeira rua à direita". A produtora da equipe parece duvidar, e o passante firme reafirma: "acredite-me é lá, à direita". Uma senhora belga se aproxima e faz um elogio em francês ao cidadão que ajuda os jornalistas, pois ela sabe quem é o passante: o novíssimo primeiro-ministro da Bélgica, Elio Di Rupo (do PS, o Partido Socialista francófono). O premiê agradece o elogio e só aí então os jornalistas holandeses perceberam de quem se tratava . A cena ganhou os sites, jornais e TVs belgas, depois que a TV holandesa, bem-humorada, publicou o vídeo no seu próprio site como o "fail of the year" (a falha do ano).
Isso mostra um dos princípios básicos do comportamento dos homens públicos na Bélgica: eles são simples mortais. Aqui o prefeito, por exemplo, é o burgemeester - palavra em neerlandês usada tanto do lado flamengo quanto do lado valão, francófono. Em tradução livre seria algo como cidadão-principal.
Em Brugge, por exemplo, o nosso bugermeester Patrick Moenaert anda sozinho nas ruas, à pé ou de bicicleta. No verão, o vejo sempre, em short e camiseta, nas tardes de domingo, cuidando do jardim, quando visitamos minha cunhada e sobrinhos que moram ao lado dele, num bairro comum, com casas comuns. Recentemente, Moenaert, que tem 62 anos de idade, foi um dos DJs numa festa organizada por uma associação de estudantes. Dizem que ele arrasou nas pickups.

11 comentários:

Carlos Barretto  disse...

Post espetacular!
Uma delícia!

Erika Morhy disse...

Adoro os textos do Edvan, Carlos. Leio como se estivesse num papo bacana, numa mesa de bar. Na boca da noite.
Edvan, esse modo de viver dos belgas, em especial a postura das autoridades, a que te referes, parece algo tão simples, não é? Imagino como seria bom se essa prática se tornasse comum na nossa cultura... Mudança estrutural e de grande impacto.

Edvan Feitosa Coutinho disse...

Bedankt, bloggenoten (obrigado, companheiros de blog). Sim, Erika, é assim também com a coisa pública. Aqui tenho a impressão que os prédios públicos - escolas, especialmente - são melhor cuidados do que instalações de empresas.

Anônimo disse...

É, Edvan, ainda estamos alguns milênios atrasados nesse ponto. Aqui as autoridades só aceitam se locomover em carros de luxo do ano, sempre cercados por uma numerosa horda de áulicos.

Exatamente como os faraós do Antigo Egito em suas liteiras, com a corte em volta.

A ministra Cármem Lúcia, do STF, chegou a ser barrada na garagem do Tribunal, privativa dos ministros, no dia em que lá chegou dirigindo seu próprio carro. A maior dificuldade que teve em convencer o segurança de que era ministra derivou do fato de que ela não estava em carro oficial...

Anônimo disse...

A propósito, Edvan e Amigos Flanares, posso reproduzir o seu texto no nosso blog, o Blogosfera?

Scylla Lage Neto disse...

Enquanto isso, no novo mundo, na metrópole da Amazônia, fez-se hoje uma caminhada contra a dengue, na Praça da República.
E o prefeito Dudu, aclamado pelo trio-elétrico como o "general do exército da prefeitura contra a dengue", teve direito a uma ala própria, com meia dúzia de acessores, isolado do povo.
O resto (entenda-se, um punhado de pessoas) não pôde se misturar com o general e caminhava em outra ala.
Este é o comportamento dos homens públicos, como o nosso burgemeester aqui na floresta, Edvan.
Abraços.

Edvan Feitosa Coutinho disse...

Prezado Alan, sim, fique à vontade para publicar no Blogosfera.
Essa é uma das muitas diferenças que me faz entender porque muita gente troca a vida num país tropical para viver num lugar tão frio quanto a Bélgica ou os países mais ao norte. Aqui, por exemplo o filho do empregado frequenta a mesma escola do filho do patrão. Mais isso é uma outra história que conto depois.

Pedro do Fusca disse...

Scylla, será que o nosso Prefeito não esta se lembrando de quando clinicava sem ser médico formado? Por sinal guardado não sei onde tenho cópia do diploma desta figura assim como uma de suas receitas passadas ao povo humilde de nossa terra.

Scylla Lage Neto disse...

Pedro, ele não voltará a clinicar.
Isso não será necessário.
Abs.

Andrea filha do Pedro do Fusca disse...

E isso que eu adoro na Belgica, nos somos todos iguais. Tive meu primeiro filho na mesma ala do hospital que a princesa Elisabeth, futura rainha belga nasceu. Por sinal, ela e os irmaos estudam numa escola publica de Bruxelas. Vocês ja imaginaram filhos de politicos brasileiros em escolas publicas??? Nem em sonho...
Adorei ver o nosso Primeiro Ministro ELIO (sem H) falar neerlandês, ja que por aqui dizem que ele entende, ms nao fala.

Edvan Feitosa Coutinho disse...

Andréa, grato pela correção: é mesmo Elio, sem H.
O sentido de igualdade é mesmo um conceito que no Brasil perdeu o sentido há muito tempo. Infelizmente.