A cólera, como expressão da raiva e da indignação, é assustadora. Transforma o rosto e o comportamento humano em formas diabólicas. Me vi assim esta semana, depois de me deparar com o que considerei uma afronta ao meu direito de consumidora. Mas não só isso, porque esse cenário, que julgo ser uma acintosa tendência de mercado, me fala sobre os rumos das relações humanas.
Sobre demônios: Depois de ter perdido meu notebook para uma deliciosa cachaça mineira, que derramou quase inteira sobre ele, ganhei antecipadamente do Papai Noel um outro note, adquirido na loja da HP do shopping Boulevard. Pra mim, era o lugar certo, especialmente porque entendi que a loja era "coberta" pela Sol Informática. Eis que no 12o dia da aquisição, o note começa a travar. Manual pra cá e pra lá, decido ir até a sede da Sol. A assistência técnica me atendeu, sim, mas era informalmente. Disse que havia defeito físico, mas não poderia formalizar laudo, já que esse era papel da HP. A Sol apenas adquiriu a franquia da marca. Queixo caído, liguei pro tal 0800 e a saga começou a me transformar numa "forma abominável". Eram 12h e dali até às 21h não consegui fazer mais quase nada no dia, a não ser os testes que me indicavam por telefone: HD, memória, F2... A esta altura, eu já tinha dito uma série de impropérios aos atendentes. E não era pessoal, deixava claro, no que me restava de sanidade. Me senti de macacão e graxa na cara. Esse trabalho deveria ser da assistência técnica, não do consumidor, pois não? A lógica do mercado parece ter transferido a responsabilidade da empresa para o consumidor, tornando os custos menores para a empresa, obviamente. Não era justo, fosse comigo ou com qualquer cidadão.
Às 21h e tantos, quando o oitavo atendente me informou que, passados os testes, eu teria de reinstalar o sistema, "blasfemei" pela última vez no 0800 e parti pra loja do shopping. Respirei fundo e expliquei para a simpática atendente todo meu drama. Caderno em punho, com todos os protocolos e testes e nomes que consegui anotar. "Aqui está o notebook. Ou me dão outro novo e funcionando ou quero meu dinheiro de volta". Ela retornou da conversa com seu "superior" em menos de cinco minutos, garantindo a troca, que se efetuou na manhã seguinte.
Sobre anjos: Recuperada da minha forma diabólica, fui fortemente tocada pelo que me dá a leveza dos anjos. Sempre tive encanto enorme por rituais e tradições. E a Marujada de São Benedito, de Bragança, é uma delas. Conheci a Pérola do Caeté a trabalho. Início do ano 2000. Foi paixão a primeira vista. Mas daí pulo para esta quinta-feira (15), quando a comitiva com a imagem peregrina veio pela primeira vez à capital e à Basílica de Nazaré. Saí do trabalho com minha pequena cidadã "nos braços" e parti pra igreja. Foi como entrar num portal. E não consigo conter o pranto, que tem um quê de convulsivo e de reflexivo. Aproveitando os clichês, "lavo a alma e me torno melhor".
Podemos ser anjos e demônios, radicalmente, em certas ocasiões, mas sempre somos um pouco de tudo isso diariamente.
Ótima sexta-feira para todos!
6 comentários:
É praga da Marinor, do Puty e do PT,
já passei tambem por isto.
Muito bom,Erika! Tenho estado nos dois limites, ultimamente...
Conheci a Marujada em 2009, tb a trabalho, e me encantei. Quero ir de novo. A procissão principal é no dia 26 de dezembro, não é?
Bjs e agora apenas use e abuse do note novo. A gente vai querer ler tudinho aqui :)
Bjs!
Lu.
Trago do facebook dois comentários de amigas que passaram por situações semelhantes:
Simone Machado: Tá reclamando, experimenta comprar algo da Sony e vá precisar do apoio deles, eles nem te dão bola, tive uma péssima experiência e é pra nunca mais.
Cristina Trindade: Querida , fiquei 4 dias sem internet e a velox fez o mesmo comigo. Tive que bancar a técnica até eles se convencerem que tinham que fazer o papel deles. !!
Ótimo post!
Que saco!
É nesta hora difícil para o consumidor, que as empresas devem se diferenciar ainda mais. Não só exatamente na hora de vender o peixe, com propaganda vistosa e milionária.
Como vc sabe, não sou usuário da plataforma Wintel. Mas pelo que sei informalmente, a HP, (junto com a Dell), possuem boa reputação neste mercado. É uma lástima que a HP jogue no lixo esta boa fama, justo na hora onde poderia fazer ainda mais a diferença.
Já passei algumas vezes por situações semelhantes. E sei exatamente como nos sentimos pequenos e impotentes.
Cólera absolutamente justificada.
Boa sorte!
Pedro, tenho minhas convições sobre "pragas", mas não estou certa de que os três tenham motivos para me roga-las.
Lu, difícil alguém não se encantar, não é? A procissão é dia 26, sim. Alvorada dia 25. A explicação de alguns historiadores que entrevistei é a seguinte: o padre ia raramente na cidade, àquela época, e a missa era para os brancos, que não permitiam presença mútua dos negros. Daí a comunidade aproveitou a presença do padre dia 25, para o Natal dos brancos, e estabeleceu como data da procissão o dia seguinte ao Natal.
Eras, Carlos, pensei nisso desde o momento da escolha da máquina. Minha anterior era HP, durou mais de cinco anos e só me fez feliz. Sempre estive certa da reputação na prática, portanto. E a Sol, nem se fala. Meu pai é cliente fiel! E acho que, não a toa, na hora e resolver mesmo, quem resolveu foi ela...
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