O blog Generacíon Y já foi eleito o melhor do mundo por um jornal internacional. Sua autora, a controversa jornalista Yoani Sánchez, desvela para o mundo a realidade de Cuba, do ponto de vista de quem vive lá e sofre as consequências das opções de seu governo.
Disse que ela é "controversa" porque sua fama não é nada boa no próprio país e, aqui fora, muitos senões são levantados, porque existe uma aura de santidade em torno de Cuba e de Fidel Castro, o que a meu ver chega a ser quase um extremismo de esquerda. E olha que eu sou esquerdista. Mas não posso fechar os olhos para o fato de que um povo guiado por décadas pelo mesmo homem, e sucedido por decisão própria por seu irmão (como se o poder fosse patrimônio pessoal), não está exatamente numa democracia.
Conheço gente que me atiraria pedras só por eu fazer tal ponderação. Afinal, Castro lutou contra o imperialismo dos Estados Unidos e blá-blá-blá; tem também o Che Guevara, que é um ícone sagrado e até hoje vende muitas camisetas.
Não pretendo fazer um discurso sobre ciência política aqui, primeiro porque não tenho formação para isso, segundo porque não é a finalidade. Só direi, assumindo os riscos de estar sendo simplório, que não acredito em democracia sem alternância no poder e sem que as Forças Armadas sejam apenas auxiliares do governo, sem se confundirem com ele.
Yoani Sánchez pretende vir ao Brasil. O governo brasileiro já concedeu o visto, mas ela não pode sair de Cuba sem autorização expressa e pessoal de seu governo (o que não me parece nada democrático). As 18 tentativas anteriores fracassaram. Será que a iminente visita de Dilma Rousseff àquela ilha facilitará as coisas para a blogueira?
E assim chegamos ao ponto. Digamos que Yoani consiga vir ao Brasil. Eu aposto que, uma vez aqui, ela pedirá asilo político. Quem concorda? Quem discorda?
3 comentários:
Yudice o seu texto me lembrou o trecho de um poema de Fernando Pessoa: "O primeiro passo é ser honesto, e isso significa ser livre". Eu não sou esquerdista, nem sou liberal: sou socialista. Acredito nos ideais do socialismo, e acredito que precisamos ter contestação e liberdade em qualquer regime político, seja ele qual for. Penso que se Che estivesse vivido mais um tempo não concordaria com os rumos da revolução cubana. Impossível sobreviver com o embargo econômico dos países capitalistas depois da queda do regime soviético. A experiencia soviética foi fundamental para nós que vivemos sob o capitalismo, foi libertadora. Mas não teve o mesmo efeito e consequência sobre os povos que viveram seu jugo, vide Cuba. Precisamos desesperadamente de oposição e contestação, públicas.
O escritor cubano Juan Gutiérrez mora em Cuba mas não pode vender seus livros por lá, e faz uma abordagem dura sobre o regime cubano. Não sei se a blogueira em questão pediria asilo. Tem aquela coisa que o Caetano Veloso escreveu: a língua é minha pátria, e eu não tenho pátria eu tenho mátria e quero fratria. Às vezes o coração é mais forte que o desejo de liberdade para fora dos muros de um regime político. Abração.
Bom, quem discordaria da concessão do asilo a Yoani, eu não sei. Mas já sei quem concordaria: a mesma turma que gritou furiosamente contra o asilo concedido a Cesare Battisti...
Agradeço o reforço de ideias que nos trouxe, Marise. No fundo, também acho que ela voltaria para Cuba, onde sua luta faz mais sentido.
E viva o socialismo! Com liberdade, claro.
Acho que os círculos são um pouco diferentes, Alan. Entendo o seu ponto e não acho que esteja de todo errado, mas a questão com Battisti é mais séria devido ao teor e contexto das acusações que recebeu. É muito mais fácil simpatizar com Yoani e sua dicotomia entre um corpo aparentemente tão frágil e uma vontade aguerrida. Espero que ela consiga vir.
Postar um comentário