quinta-feira, 5 de abril de 2012

Escolhendo sabiamente


A campanha Choosing Wisely, desencadeada em dezembro último por várias associações médicas americanas com o objetivo de conscientizar médicos e pacientes sobre o excesso de exames solicitados e feitos, culminou com o lançamento ontem de uma lista de 45 exames que devem ser pedidos com menor frequência.
Em breve mais 40 exames serão acrescentados à lista, a qual pode ser consultada no próprio site da campanha.
Como médico e prestador de serviços aos planos de saúde, vejo claramente boa fé na ideia original, assim como má fé na maneira como a mesma pode ser executada.
É indiscutível que a moderna medicina dispõe de instrumentos precisos e muitas vezes caros de diagnóstico à disposição do médico responsável por conduzir a propedêutica e ulterior terapêutica de um paciente.
Também não é difícil presumir que a auto-referência e/ou os interesses financeiros ocultos possam levar facilmente ao sobre-diagnóstico, com ênfase à solicitação de exames rentáveis e talvez desnecessários, que venham a gerar consequentemente tratamentos desnecessários.
A dura restrição aos exames pode induzir o médico a deixar de solicitar o que é necessário, ficando passível inclusive de penalidades legais pelo seu ato.
A "central de boatos" indica há algum tempo que um grande plano de saúde atuante em nossa cidade estaria prestes a remunerar os médicos credenciados com uma tabela inversamente proporcional ao gasto em exames por ele gerado. Quem pedisse menos exames, receberia um coeficiente de honorários maior do que aquele de maior "sinistralidade". O recado embutido no boato parece ser o seguinte: peçam menos exames, ou receberão menos do que os seus colegas "bonzinhos"!
Acho eu que essa hipotética situação caracterizaria uma forma de assédio ou mesmo de abuso moral.
A saída parece ser o equilíbrio e o bom senso na dose de utilização da caneta para pedir exames, não esquecendo que enquanto tudo dá certo, o médico é o herói, mas quando algo vai mal, porque "ele deixou de pedir tal exame", qual a cabeça que rola primeiro?

6 comentários:

Silvina disse...

A primeira cabeça que rola é a do paciente que "levou o farelo".
E sim, se tal pratica (de pagar mais pra quem pede menos exames) viesse a efeito, seria classicamente assedio moral e um abuso IMORAL.
Parece-me que os administradores dos planos de saúde perderam a aula de "medicina preventiva" que, apesar de dispendiosa, ainda configura como mais econômica e inteligente, além do alcance social que a abrange.
Ah, e pra mim, mesmo que alguma coisa nao desse certo (coisa que nunca aconteceu), voce é SEMPRE O MEU HERÓI!

Scylla Lage Neto disse...

Você é sempre suspeita, Lois Lane!!!
Rss
Kss

Pedro do Fusca disse...

A velhice chegando e eu tive um mal estar, socorrido em uma emergencia de um grande hospital só faltei ir aos tapas para que fosse passado exames para saber o que tinha acontecido, pois nesta emergencia foi passado somente um litrinho de soro. Os bons médicos responsaveis não vão certamente cair no conto da sereia destes planos de saude.

Scylla Lage Neto disse...

Pedro, na urgência é onde menos se deveria economizar recursos e onde deveriam estar os melhores e mais experientes profissionais da saúde, não é mesmo?
Abraços.

Edyr Augusto Proença disse...

É imoral
Abs

Scylla Lage Neto disse...

Triste, mas verdadeiro, Edyr.
Abs