sexta-feira, 17 de agosto de 2012

A veia nativa paroara made in Bujaru



“O Curupira protege os animais e a floresta.
Ele tem os pés tortos para afastar os caçadores.”
MG Calibre, em Brazzônia, 2005.

MG Calibre preparou o roteiro de seu disco “Brazzonia” como se estivesse sentado sobre uma saca de farinha no interior de uma baiúca na ilha de Maiandeua.  Ouvia Miles Davis ao pé do ouvido esquerdo e Verequete ao direito - ainda assistia à Almodovar com um dos olhos. Com o bago do outro olho apreciava, pela parte de fora, um pescador entretido com o mar e pela parte de dentro um caboclo apanhando caranguejo no mangue. Por sua vez escrevo este texto no tempo presente, ouvindo MG Calibre do tempo pretérito (2005). Um deleite de Jazz moderno sob influência do ritmo tecno-maresia de seu carimbó, funk e hip-hop à beira do mangue ou melhor, uma mamadeira de leite-jazz amamentada pelas mamas da mama amazônia.
Eu, aqui, tomando café de um real. Ele, lá, tomava 1 litro de açaí do grosso, empapado numa quarta de farinha, das bagudas, tirando gosto com quatro tiras de charque. Mistura que lembra Arapiranga, Curuperé, Cravo, Santana, Castanheiro, Jutaí, Itapuranga como uma coisa só: a mesma água de igarapé que impulsiona a regionalização sonora de sua veia nativa paroara made in Bujaru.
“Meio quilo de açúcar e uma quarta de café” sussurrou a menina. Ele retrucou: - Eu já disse que é 1 litro de açaí e uma quarta de farinha baguda para tirar gosto com charque. Pago depois, quando vender meu CD em frequência modulada. Eu, no tempo presente, comprei, ouvi, li e agora repico no tarol: que loucura maravilhosa. Que acústica a Amazônia é capaz de nos amamentar, Sumaaaaano!
Para ouvir Brazzonia tenho que ficar nu da pele que envolve meus pré-conceitos musicais. Tenho que me vestir de nada e jogar fora todas as pedras que atirei contra o que não entendia como música. MG Calibre sai do Caribe amazônico e adentra no vão que insistimos em desdizer sobre o Jazz contemporâneo brazuca de Brazzonia. O vão fica entre o calado de Belém e o Mar estupefato do Marajó, que vejo do lado de cá do Amapá sobrevoando Mexiana e Caviana, ou como se pororocasse a vida numa prancha de Surfe rauaiana no sentido Bujaru.
Se não fosse algo do mar, algo da terra, ou algo do ar, eu diria ser algo de mim querendo entender a força com que a música é capaz de nos afrontar. Porquanto diria que o Jazz que percorre Brazzonia tem a distância que se equivale do Caribe ao Marajó tendo eu viajando com um Catraieiro, pois a sua mensagem não é de afronto, e sim de paz, como se fora um pedido de NÃO à violência. E por aí “se vamo” caminhando entre a poesia e a pedra, descamando essa literatura brazzônica, fazendo sentido à arte .
Conheça Brazzônia. Você verá que, se existe algum preconceito com música, ela se esvairá no final de cada arranjo.

5 comentários:

Edyr Augusto Proença disse...

Calibre é sensacional!
Abs

Marise Rocha Morbach disse...

Que delicia de texto Roger. Não conheço, mas vou conhecer; valeu!

Geraldo Roger Normando Jr disse...

Você vai sentir um abalo sísmico nos seus conceitos musicais. Não ouça com salto Luis XV que é capaz de torcer o tornozelo.

Geraldo Roger Normando Jr disse...

Proença, acertaste na Mosca.

Scylla Lage Neto disse...

Super post, Roger.
Adorei!