sábado, 24 de novembro de 2012

Salomé é Straus e Wilde


“E o mistério do amor é maior que o mistério da morte”.
Oscar Wilde, em: Salomé.

A tal epígrafe de Oscar Wilde martela por alguns momentos o dedo de quem assiste à ópera "Salomé", encenada neste finde no Teatro da Paz (“finde” é emprestado do Edyr Augusto em “Selva Concreta”. Forma contraída de: fim de semana).  Como se não bastasse, de onde eu sentava no ensaio geral, ressoava no pé do meu ouvido esquerdo uma harpa perdida da regência de Miguel Campos Neto. Toou como verdadeiros matizes estereofônicos de Strauss.
A ópera é desumanamente linda. Mistura amor, dor, lascívia e morte. É de segurar a bexiga para não se perder um aprazível momento, pois tem apenas um ato. Certamente solidifica um público amante da boa arte, como bem adianta Gilberto Chaves, coordenador do XI Festival de ópera do Theatro da Paz: “Fazer a roda começar a girar na estrada, não da perfeição, mas da qualidade, é uma tarefa árdua, porém, depois que ela começa (a girar), as perspectivas e as metas em movimentos passam a ser maiores ainda.” Isso mesmo, Chaves! Juntar Oscar Wilde e Richard Straus num palco secular, como o da Paz, não é tarefa das mais simples, independente do custo operacional.
Valeu maninho, diria o mais humilde dos cabôcos achegado à palma. Foi um respiro de genialidade que aflou para o interior dos meus pulmões a enchê-los de ar, ou melhor, ARte.

4 comentários:

Silvina disse...

É! O mistério do amor todo mundo quer descobrir para experimentar, já o da morte, nem todos.
Mas como é fascinante a idéia de morrer de amor.
Sorrir, sonhar, amar e morrer. Morrer sorrindo, morrer sonhando, morrer amando.
O amor é um mistério que quer ser desvendado, para existir.

Geraldo Roger Normando Jr disse...

Silvina, em " Salomé" mata-se por amor, daí o mistério segundo Oscar Wilde. Aliás esses foi um dos motivos da peça não ter sido encenada em Londres, na língua de Wilde. Os compatriotas de Wilde não o aceitavam bem. Ele não desistiu e escreveu em francês. Deu nisso: um enigmático texto. Atemporal, eu diria, na minha reles posição de caboco batedor de palmas.

Lafayette Nunes disse...

Roger, vi "Salomé" ontem. As harpas estavam lá. Lindas!

Segue um textículo(rs) que fiz sobre o que vi e ouvi ontem (não da Ópera em si, mas do "...público amante da boa arte...").

Abraço.

"SALOMÉ, ópera baseada nos Evangelhos segundo São Mateus (14:3-11) e São Marcos (6:21-28), é uma das mais dramáticas e trágicas que existe.

Conta um dos momentos mais fortes e cruéis, segundo a Bíblia, de Roma contra os seguidores de Jesus, neste caso, o que o batizou.

Enfurecida por ter sido rejeitada pelo Profeta João Batista, Salomé se entrega à Herodes em troca da decapitação de João.

Salomé pede, numa bandeja de prata, a cabeça de João Batista. Uma vez com ela, beija-a na boca, conversa, discute e faz sexo, em um transe final.

Herodes, espantado e humilhado, manda seus soldados romanos matar Salomé logo após.

...mas, porque estou relembrando isto pra vocês?

É por que (não tenho dados científicos), mas Belém deve ser o ÚNICO LUGAR NO MUNDO e em TODA A HISTÓRIA DA ÓPERA, que ri vendo Salomé!!!

Sério pessoal. Quando João Batista nega pela 3ª vez dar um beijo em Salomé (negar, 3x, lembram?), a galera: RIA!!!

O Rei Heródes, dramáticamente e desesperado, pede à Salamé que mude seu pedido. Oferece metade do Reino, jóias, o Clero!

Mas, Salomé, séria e vingativa, só repete: "Quero a cabeça da João Batista!" ...e o povo caia na gargalhada!!! ...putsalamiseria! :-) :-) :-)

Parabéns ao Governo do Pará pelo Festival de Ópera. ...agora, repitam trimestralmente até formar público. A galera pensa que é reality!"

Geraldo Roger Normando Jr disse...

Lafa (relembrando "finde"),
Eu vi o ensaio geral na quinta, por convite de um dos músicos. Um ensaio sem um errinho - isso mesmo! Sentei ao lado das harpas para nunca mais esquecer Strauss. A sua visão do riso, perfeitamente tolerável e compreensível, é o estilo Wilde: provocativo, fogoso, libidinoso por vezes. Foi uma jogada densa do governo. No futebolês diria: gol olímpico.