quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Tem lugar sobrando. Onde?





Onde? Eu me pergunto onde há lugar para os direitos dos cidadãos; para a delicadeza entre as pessoas; para as diversidades se encontrarem sem pudores... Onde? Em tempos de saltos cada vez mais baixo, se é que os vesti algum dia amis altos, foi muito simbólico, depois do calor da hora, o momento do embarque de Belém para minha nova morada, nesta terça-feira de carnaval. Mãe de um lado, filha do outro, assentos devidamente conferidos e... havia uma pessoa lá. Havia um homem ali. Não era um pedra, mas estava com cara de poucos amigos. Minha mãe e minha filha à frente, pergunto ao homem-de-cara-franzida-na-janela se ele poderia conferir o número do assento dele, porque havíamos reservado as três poltronas para viajarmos juntas. Qual não foi minha surpresa ao receber como resposta que havia muito lugar sobrando no vôo e que eu deveria procurar por eles. Respirei fundo para não ser grossa logo de pronto. Disse a ele que éramos uma família, queríamos viajar juntas e, acima de tudo, tínhamos o direito de viajar na cadeira que reservamos. Ele insistiu que havia sido orientado a se sentar onde desejasse. Minha mãe logo disse que eu deixasse pra lá, sentasse com minha filha, que ela ia procurar outro assento qualquer. Obviamente disse a ela que não, pelo menos até um consulta. Antes que um rapaz da tripulação atendesse ao meu chamado e confirmasse que as cadeiras eram marcadas, sim, o cidadão já havia se levantado me mandando comprar o avião inteiro! Engoli de novo a baixaria que eu gostaria de fazer, dizendo apenas que eu não precisava de um avião, só das vagas reservadas naquele vôo.

A TAM se ocupou de causar uma série de outros transtornos durante quase 12 horas de viagem até meu destino final. E continuo a pensar: cadê tantos lugares sobrando? Viajemos todos. Viajemos para onde quisermos e pudermos. Viajemos em qualquer lugar. Troquemos de lugar. Ofertemos vagas às belezas das relações humanas; entreguemos a mancheias as vagas que existam para a compreensão; criemos vagas aos diretos de cada criatura.

Fica aqui um dos momentos bonitos de mais esta viagem de regresso à minha morada na Argentina: Paul Simon cantando com Olodum, depois do empurrão dado por Mazzola. Sim, eu cantei em silêncio; sacudi a poltrona em duas seqüências, com minha pequena cidadã; afinal, ela queria muito saber o que me movia. E gostou. Benza Deus!

3 comentários:

Marise Rocha Morbach disse...

Bom regresso querida e que muitas outras cadeiras venham a ser ocupadas por você e pelos seus.

Geraldo Roger Normando Jr disse...

Érika, Eu não consegui sequer embarcar de volta para Belém. A TAM foi desleal comigo. Me pôs num voo que eu levaria mais de 24 horas para chegar...

Erika Morhy disse...

Obrigada, Marise! Que ocupemos um montão!
Roger, tô "passada-pretérita-futúrita" com a TAM. Tudo bem, pagamos pra viajar, não para comer. Relevamos a fome com os polenguinhos. Depois o avião de Sampa só deu um rolé na pista e nos fez esperar lá dentro mais de uma hora até dizerem que teríamos de trocar de avião, que necessitava de manutenção. Outro tanto tempo para a troca. Outro tanto de tolerância com a fome. E... minha bagagem chega completamente destruída em todas as alças. Honrosamente, colocaram alguns pedaços dela ao lado, na esteira já parada. Lá fui eu reclamar e... "não aceitamos reclamação se a mala estiver muito pesada". Depois de muito argumentar - afinal, a mala embarcou ilegal? e a TAM foi minha cúmplice? e a mala troca três vezes de vôo e chega quebrada na última, com a peça e tudo, sem ser responsabilidade da empresa? - eis que só me restou garantir uma queixa... É-gú-á!
Abraço grandão pra você e melhor sorte também a todos nós