terça-feira, 5 de março de 2013

A pele que habito

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Faz um tempo que estou querendo escrever sobre um filme que me deixou parada, perplexa e aturdida. Confesso que depois dele o mundo dos homens - mundo masculino - passou a ter uma outra dimensão na minha precária consciência do que é o sexo masculino. Os números da AIDS são deprimentes, diante de uma sociedade como a nossa. Estamos no topo da cadeia biológica, e em todos os sentidos. Dizem que o mundo de antigamente era melhor; sinceramente? Não vejo como. Os números da violência são esmagadores, mas, penso, já foi pior. Mas, havia uma violência que eu projetava nos seres do sexo masculino, mas não conseguia descrever. E, próximo ao Dia Internacional da Mulher, esta violência inominável acabou por adquirir uma forma, um conteúdo, um sentido. Eu voltei à tela de cinema para relembrar, em detalhes, um dos filmes mais violentos que já vi:  A pele que  habito. O filme do cineasta espanhol Pedro Almodóvar me deu um soco no queixo, de tal magnitude,  que fiquei pasma, calada, alucinada. Como foi possível escrever e dirigir aquilo? O que era aquilo?  Meu filho, de 22 anos, chegou do cinema calado e mudo. Depois que assisti, entendi. Se homem fosse - no sentido de ter um falo real - não conseguiria dizer nada a ninguém por long long time. Desde que comecei a ver os filmes de Almodóvar, dizia sempre a mesma coisa: Nenhum homem conhece mais as mulheres do que o Almodóvar. Ele fala sobre nós como se uma de nós ele fosse. Depois de A pele que habito, posso dizer com tranquilidade: pela primeira vez um homem me disse o que é um homem. Entendo o silêncio de meu filho.





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