domingo, 28 de julho de 2013

Daí que...

Daí que ela saiu de manhã de casa. Sim, esse detalhe faz diferença para quem tem a vida noturna como seu dia. Daí que ela saiu ao som de um duo dramático; melancólico. A poesia encaminhava aquela mulher a seu cotidiano e a seus desejos mórbidos. Caminhava quase por outros caminhos, no ensurdecer de um trânsito sempre desagradável. Agradava a dor tida e a não-tida também; talvez mais ainda. O descontexto, em toda sua dualidade, logo aterrissava num plano iluminado por outras cores, outros cheiros, outra gente, diferente da que parecia representada nos afetos daquele duo. Na sua leviandade irreversível, ela saltou com gosto. Vez ou outra, ela interrompe seu contemplar com a beleza e a feiúra do arredor que, ao mesmo tempo, lhe estimula e apavora e a confunde. Os detalhes delicados de prédios abandonados; o grotesco de estruturas conservadas. Gente em duvidoso estado de conservação se dedicando aos mais saborosos sabores que seus lábios já provaram. Gente num esforço de alimentar barrigas e fantasias. Gente atravessada pelo ladrão-de-galinha, que apanha e vomita o ouro alheio ostentado em praça pública. Um homem moribundo matiza o rio com seu mijo bêbado. Tudo pertencia a ela. Ela reconhecia tudo e já pouco lembrava das emoções provocadas pelo som dramático e melancólico que lhe acompanhou até ali. Já a meio caminho andado, ela pensou em convidar alguém para lhe fazer companhia naquela manhã; e para que ela servisse de companhia também. Seu círculo de amizades talvez acreditasse que ela não precisava de ninguém mais e abdicava de convidar aquela personagem? Não convidou ninguém. Ela investia afeto naquela solidão. Gozo. Foi ao encontro de suas metas da manhã cheia de sol. Parte delas estava fechada em si. Outra parte estava falante, ofegante e expressava seus sentimentos por ela. E ela se inquietava com tanta doação. Queria oferecer algo que aquela gente rejeitava, no texto do carinho, no argumento do amor. Daí que ela sempre se metia em confusões. De noite ou de dia. Com ou sem frases feitas.

Nenhum comentário: