É muito provável que boa parte dos leitores do blog já tenha ouvido falar do Café Tortoni quando se trata de passear por Buenos Aires (AR). Coisas do tipo: é o mais antigo; é lindo; e outras coisas do gênero. Endosso. Aliás, eu mesma, quando estive em Buenos Aires com minha família, fui visitá-lo e fiquei bem impressionada. O detalhe é que reconheci - entre os três bonecos de cera (talvez) e em tamanho real que adornam o lugar - as duas figuras masculinas. Ah! Claro! Jorge Luis Borges, que já havia passado pelas minhas leituras um par de vezes; e o solene Carlos Gardel, ainda que não esteja entre minhas vozes prediletas. Mas quem era aquela mulher entre os dois? Uma tal Alfonsina Storni; estava escrito. Não me soou familiar. As três obras de arte, obviamente, estavam ali representando frequentadores ilustres e assíduos, como muitos outros escritores, cantores e jornalistas que passaram por lá. Ainda assim, não me interessei em saber quem havia sido Alfonsina Storni. Eis que, dia desses, alguns anos depois, em um merecido descanso dos estudos e de bubuia diante do meu canal favorito na Argentina, o Encuentro, sou surpreendida por um programa sobre aquela, justo aquela terceira figura a quem dei tão pouca importância. Que dura vida ela teve! E que beleza de audácia para enfrentá-la também. Sempre acho que não vou dar conta quando vejo histórias assim. Se fosse comigo, hummmm. Já até me acostumei com essa minha reação derrotista. O gostoso mesmo foi sentir uma vontade louca de comprar os livros dela citados na tela; ler os poemas e textos que ela escreveu, alguns até assinados com nome masculino. Ainda não consegui. Mas já tenho lido algumas coisas pela internet, pra aliviar a cuíra.
Alfonsina Storni entregou sua carne ao mar, aos 46 anos de idade. E deixo aqui suas últimas letras, escritas poucos dias antes do suicídio, e que foram entregues ao jornal para o qual escrevia à época, sob o título “Vou dormir”.
Voy a dormir
Dientes de flores, cofia de rocío,
manos de hierbas, tú, nodriza fina,
tenme prestas las sábanas terrosas
y el edredón de musgos escardados.
Voy a dormir, nodriza mía, acuéstame.
Ponme una lámpara a la cabecera;
una constelación, la que te guste;
todas son buenas, bájala un poquito.
Déjame sola: oyes romper los brotes...
te acuna un pie celeste desde arriba
y un pájaro te traza unos compases
para que olvides... Gracias... Ah, un encargo:
si él llama nuevamente por teléfono
le dices que no insista, que he salido.
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