- O palhaço, o que é? É ladrão de mulher!
Passava um palhaço com um
megafone conclamando a cidade para uma assistirem à apresentação em praça pública,
naquela noite que se aproximava. Era o primeiro circo do lugar, um interior
cravado no seio da Amazônia, por nome Baturité. Eram artistas com aspecto ciganos
que pulavam e ululavam ao ritmo da zabumba e de cornetas. Muito barulho. Um
artista chamava atenção de Leide, a mais bela cabocla da cidade, apoiada na
janela de sua casa, de Angelim-pedra, fitando o movimento. Ele, uma espécie de Jack
Sparrow dos dias atuais, sentava-se na carroça-propaganda,
fazendo pose de galã holiudiano em plena floresta tropical.
A cruzada de olhares deixou-a sem graça e
desconfortável, pois a figura era estranha, Tinha brincos grosseiros, barba por
fazer, íris verdes e um olhar profundo. Ele fez uma graça maliciosa para
atraí-la para o show de logo mais, na única praça da cidade.
Repetiu a malícia logo em
seguida, após o palhaço ter gritado pela segunda vez: - O palhaço, o que é? É ladrão
de mulher!
A jovem cabocla sentiu algo estranho: as tetas enrijeceram, calor no corpo a incendiava, tinha sensação de nudez abissal e uma vontade enlouquecida de seguir atrás daquela trupe e ficar olhando para aqueles olhos. Leide se sentia magnetizada, apesar de já saber da história do boto que atraia mulheres virgens para o fundo do rio, deixando-as grávidas, cujo filho jamais conheceria o pai. Sentia ojeriza desta lenda, ao mesmo tempo em que se sentia atraída por aquele homem.
A jovem cabocla sentiu algo estranho: as tetas enrijeceram, calor no corpo a incendiava, tinha sensação de nudez abissal e uma vontade enlouquecida de seguir atrás daquela trupe e ficar olhando para aqueles olhos. Leide se sentia magnetizada, apesar de já saber da história do boto que atraia mulheres virgens para o fundo do rio, deixando-as grávidas, cujo filho jamais conheceria o pai. Sentia ojeriza desta lenda, ao mesmo tempo em que se sentia atraída por aquele homem.
Show lotado. Umas 250 almas. Quase
toda a cidade boquiaberta com a pirotecnia e as graças do Palhaço Rai-o-Mundo. Leide, sentada na cadeira que trouxera de casa, assistiu ao show
na primeira fila e não tirava o olho do Pirata. Entre a coxia e o público, pulsava em sua veia o amor verdadeiro. Ele, por sua vez pouco retribuía o olhar, até que o artista, na vez de seu número, a tirou para dançar no picadeiro e deixou em suas mãos um lenço
com sua inicial: B.[Momentos de aplausos].
No outro dia, cedo-cedo, Leide
foi visitar a praça, e a encontrou totalmente vazia. Nem cadeiras; nenhuma
sujeira; não havia uma viva alma. A trupe vazou de madrugada. Correu para o trapiche
e viu uma embarcação no horizonte sem destino. A tristeza tomou de conta da
alma, e o corpo a acompanhou de volta até a cozinha de sua casa.
Próximo à panela de maniçoba, que estava fervendo há menos de dois dias - por
ser festejo de Nossa Senhora de Nazaré - apanhou um copo e mergulhou na panela para
retirar duas medidas daquele produto que tinha o gosto de chumbo do seu sentimento. Bebeu de uma solapada só.
Leide se foi...
Labareda, do bando de Corisco. História adaptada de "O Sertão de São Marcos", de Marcos Quinan (Letraviva).
Um comentário:
QUE NÃO SE TORNE MODELO, SINA
dos males do amor não correspondido
quiçá, também, do amor não sorvido
o desespero em face do horizonte
que se torna distante, inacessível
Leide, o que fizeste de ti?
Por quê deixaste que aquele olhar
te roubasse a própria vida?
Que a tua triste história
não se repita, não se torne sina
Que outros enredos, Leide, sejam possíveis, sejam tecidos!
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