Labareda, do bando de Corisco
Dizer da travessia: “Troca-se morte certa por um mar de esperança”.
O menino bebeu a lógica do mar,
e regurgitou areia;
a golfada inundou pulmões,
minhas retinas ... O coturno do general.
minhas retinas ... O coturno do general.
É um menino que já não arfa.
tal um querubim sem asas
sobraram-lhes indigência e a cova de meio metro.
Ruge a imagem mais que estampido de canhões.
Ruge a imagem mais que estampido de canhões.
Nunca vai findar a tinta que pinta a tristeza;
vontade de gritar dentro de mim, feito Munch;
O mundo sem se ir, sem se ficar.
Sem se caber em si.
(com Irna, Clarice, Luiz e Ana)
Corisco, irmão de cangaço de Labareda:
Teu texto sangra a dor do mundo, Labareda.
Essa criança desacontecida
me deu vontade de voltar pras árvores.
Tarde demais.
Penso, logo existo em desrazões
O êxodo da guerra
Atitudes do passado
Essa mão que se estende
Na memória da história
Dudu Neves:
Varando mares sagrados
Degredados e rebentos
Sofrimentos refugiadosO êxodo da guerra
Não encerra essa dor
O clamor ainda berra
Entre a paz e opressor
Atitudes do passado
Renovando vaidades
Apartheides bem farpados
Camuflados de bondade
Essa mão que se estende
Não entende que um dia
Pedia tão inclemente
Outra urgente alforria
Sem o filho em seu braço
Retratado numa praia
Um bebe morre afogado
Na memória da história
Tudo é glória e sacrifício
Armistício não haverá
Ao pai que sepulta o próprio filho.
Wilson Gorj:
Nenhum tubarão nem peixes tocaram neste pequenino refugiado.
Ao que parece, o menino chegou à praia intacto.
Como se o mar dissesse à humanidade:
'Não me envolvam nisso. Esse horror é exclusivamente responsabilidade de vocês'
José Camargo:
Aquele abraço que não se desfazia e a falta de palavras foram uma espécie de catarse, como se estivéssemos perplexos à margem do Mediterrâneo, sem mais o que fazer do que pedir desculpa pela naturalidade com que aceitamos, sem gritar, as mortes absurdas que todos os dias deixam mães inconsoláveis, e seguimos a nossa vida como se fosse razoável toda tragédia que não nos atinge diretamente.
Mãe que perde um filho perde o mesmo filho todos os dias.
Clarice Lispector:
Sou atraída aqui pelo que assusta
Jorge Luis Borges:
Los ecribo ahora asi.
Cumplida la agonia
quiero morrir del todo
Fernando Pessoa (Bernardo Soares):
Que coisa é essa que nos nos mede sem medida
e nos mata sem ser?
Mario Quintana:
Numa esquina do labirinto às vezes avista-se a lua
"Não! Como é possível uma lua subterrânea?"
6 comentários:
Zilhões de emoções em um punhado de palavras. Este é o nosso poeta Roger. Entre tantos talentos domina também este!
Emocionado pela sua generosidade, Clarice.
A Palavra as vezes pena é leve enleve, outras navalha mortalha. Parabens mano Roger!!!!
Impotente...assim me sinto...
Dudu, a palavra ou corta como navalha, ou afaga como um cafuné.
Lela, diante da impotência soltemos o verbo, ou a pena do desenhista e pintor, já que temos pomo e dedos.
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