Marcha da Resistência está de volta depois de 11 anos Foto: Erika Morhy
Enquanto o golpe de estado se consumava no Brasil, neste dia 31 de agosto de 2016, eu terminava de escrever matéria sobre a extensa queixa por repressão de movimentos sociais argentinos no marco do governo neomenemista de Maurício Macri. E nesta primeira frase da postagem já estão embutidas várias concepções muito pessoais, claramente. Ainda que esteja disposta a discutir sobre cada uma delas, tomar partido também é necessário e quase inevitável.
É uma tolice enorme dizer que há quem queira politizar tudo. Ora, ora. Parece que é preciso então aclarar o que significa política, porque o que de fato não há é algo despolitizado nesta vida. E devemos estar bem ajambrados neste contexto.
Admiradora da nordestina Cátia de França, posso parodiar e dizer que, sim, minhas tristezas lavam pratos. Escutem “Ensacado”. É belíssimo. Tenho vivido muitas delas e não posso deixar de cuidar do cotidiano mais trivial. Ainda bem que posso fazê-lo, ainda que preferisse nestes momentos ter alguém a meu lado.
Feito estes convites, deixo essa amadora imagem que captei durante a primeira Marcha da Resistência depois de sua interrupção em 2005. Ela começou a ser realizada de 1981, para fazer frente ao governo ditatorial do país, e é retomada agora com a adesão de trinta organizações identificadas com o kirchnerismo, sob o lema “Pelo direito a trabalhar, resistir sem descansar. Cristina no comando”. Como é tradição, foram 24 horas de protesto em frente à casa de governo, mas desta vez reclamando contra um dos vários e graves problemas pelos quais vem sofrendo a Argentina desde dezembro, que é o desemprego em massa – depois de um grande lapso temporal, o macrismo informa que o índice é de 9,3% no segundo trimestre; há seis meses, estava na casa dos 5,9%. Faziam 7 graus, 5 de sensação térmica, debaixo de chuva e vento inclemente.
O presidente Maurício Macri teve a audácia de chamar de transtornada ("desquiciada") a principal dirigente da organização, Hebe de Bonafini, de 87 anos de idade. Pois o que eu vejo, dia após dia, é que transtornado está o país, ou quase todos neste país, exceto os poucos que se beneficiam de suas medidas neoliberais, excludentes e covardes. Mas esses transtornados estão no legítimo direito de se organizar, de protestar, de lutar por um mundo mais justo. Às Mães, que já foram taxadas de loucas pelos militares, meu mais profundo respeito e solidariedade.
Antes que eu me esqueça, esta a Argentina de Macri é a Argentina de José Serra, que disse em seu discurso de posse no governo do então interino, mas sempre golpista, Michel Temer: semelhante política e economicamente ao Brasil.
De golpe em golpe, que venha o povo!
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