Foto original de Gonzalez-Rivas
“A new earthquake in thorassic surgery”
Joel Dunning, cirurgião inglês (2022)
Em 2010 o espanhol Diego Gonzalez-Rivas surfou na geometria euclidiana com abordagem por incisão única, em vez de duas ou três, para videocirurgias. Criou-se uma revolução dentro da evolução da cirurgia minimamente invasiva. Desde então o galego anda navegando pelos sete mares, a disseminar seu pioneirismo.
O italiano Gaetano Rocco, pioneiro na ideia usando ressecções menores, descreve que a vantagem da uniportal em comparação à convencional está na projeção da lesão-alvo, que preserva a profundidade de visualização fornecida pelos monitores bidimensionais. Na bi ou triportal o plano de torção criado ao longo do losango dificulta a enxergar o fundo. Leonardo da Vinci aplicou a geometria euclidiana em suas pinturas, chamando de “ponto de fuga”, que seria a tradução de lesão-alvo.
Com a chegada da plataforma robótica, finda o plano bidimensional e a visão
3D emplaca. O problema do robô é o custo alto e isso acabou amargurando a fila de espera até a poeira financeira baixar – se baixar -, o que acabou espanando para o final da fila alguns entusiasmados.
No Brasil, Ricardo Sales (São Paulo, 2011) realizou as primeiras cirurgias
robóticas. Em seguida vários começaram a seguir suas pegadas, certamente inebriados pela ergonomia e visão 3D. Passado mais de dez anos da publicação de Sales, é notória a adesão de diversos brasileiros, nos últimos anos, à nova plataforma.
Mas quando se pensou que a uniportal (Uni-VATS) estaria sendo engolida pela
robótica, Rivas e seu séquito voltam à cena, agora com a uniportal robótica (Uni-RATS). Ao descartar a ideia euclidiana que o prendia à configuração geométrica do paralelograma, qual seria o feitiço de Rivas a continuar com a idéia da Uniportal, já que a visão 3D é a maior contribuição da robótica?
A resposta está na recente visita feita à América Latina, começando pelo Brasil.
Em Brasília ele realizou a primeira ao lado de Humberto Oliveira: cisto
mediastinal e lobectomia em braçadeira. O resultado foi animador. Oliveira ficou
entusiasmado com a ideia. Ele afirma que na Uni-VATS a câmera do auxiliar fica
esgrimando com os instrumentos do operador e isso acaba dificultando a liberdade dos movimentos no campo operatório. Paula Ugalde corrige isso ao se apossar da câmera com uma das mãos. Com a outra ela disseca e o auxiliar traciona e fasta os tecidos. No robô esse problema acaba, pois a câmera é controlada pelo cirurgião, com isso aumentam as chances de mais adeptos à incisão única.
Após alguns dias de convivência com Rivas, Humberto Oliveira noticia a
realização da primeira Uni-RATS brasileira: lobectomia inferior. Rivas ululava: “foi a primeira na América Latina”.
Com essa transmutação da Uniportal, o inglês Joel Dunning ressalta: “Pode ser
a próxima revolução as duas melhores abordagens combinadas!”. Numa bela manhã de domingo Paula Ugalde (Boston, USA) posta: “coisas interessantes aconteceram hoje por aqui: primeira uniportal robótica em humanos [sai do console experimental para a prática clínica, nos EUA]”.
Ao ler as mensagens de Ugalde e Dunning, o teatrólogo inglês Bernard Shaw, se vivo fosse, diria: “O homem sensato se adapta ao mundo; o insensato insiste em tentar adaptar o mundo a si. Portanto, todo progresso depende do insensato”.
É lógico que com o passar das horas, dos dias [...], dos anos, os sentidos ficarão mais apurados e será mais fácil não só essa adaptação, mas também ouvir estrelas, tropeçar nos astros, ou ainda passear no vento das ideias para sentir no peito a sinfonia das pulsações arteriais e o arfar dos pulmões, para sabermos se o método diferencia. A partir daí teremos espaço para avaliar se é revolução ou contemplação. Tudo para que os gostos pelos conquistas sejam tão aplicáveis quanto interpretar a geometria euclidiana e a passagem por uma
rota interminável chamada desafio.
Texto originalmente publicado no J-SBCT
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