Mais uma notícia para meu camarote, desta feita na Folha Online também do último dia 10.
Esta nos informa que Associações médicas brasileiras ameaçam entrar na Justiça contra a portaria do Ministério da Saúde que permite que profissionais da saúde não-médicos exerçam a acupuntura no SUS.
Esta é mesmo uma questão muito polêmica. Pessoalmente, em favor até mesmo da qualidade do atendimento, sou plenamente favorável a regulamentação do trabalho médico. Todos os outros profissionais de saúde tem suas atribuições regulamentadas. Até então, só os médicos ainda não estavam regulamentados. E agora, quando finalmente resolveram fazê-lo, eis que aparecem muitos para reclamar. E sempre argumentando a mesma coisa: os médicos estariam fazendo "reserva de mercado". Um argumento estranho, a meu ver, pois se volta contra quem o utiliza, que parece se preocupar com o mercado e não com a qualidade do serviço prestado. O currículo médico, mesmo que criticável sob muitos aspectos, ainda é infinitamente diferente dos currículos de outras especialidades da área de saúde, não bastando conhecimentos elementares de anatomia e fisiologia para credenciar qualquer um a aplicar esta ou outra terapêutica. Volta-se além da anatomia e fisiologia, para o diagnóstico e tratamento de uma infinidade de acometimentos, estando o médico plenamente capacitado a aplicar terapêutica e controlar suas complicações. O que efetivamente não acontece com outros profissionais de saúde. Quanto aos maus profissionais, estes existem aos quatro cantos em variadas especialidades médicas e não médicas. Não cabendo o uso deste argumento para ceder capacitação a quem acha que deve tê-la.
E de fato o MS vem tomando algumas medidas onde salta aos olhos o mero objetivo de barateamento de recursos onde, de fato existe um vácuo histórico de sua atuação. É o que se vê por exemplo no caso da Anvisa querer resolver a questão do real déficit de UTIs públicas no Brasil, reduzindo-lhes as exigências técnicas de funcionamento e ainda querendo substituí-las por unidades semi-intensivas. Quando o correto seria trilhar os dois caminhos simultaneamente, criando as semi-intensivas e construindo novas UTIs onde a demanda se mostrasse superlativa.
Por outro lado, existe sim a necessidade de conter custos, que sou plenamente favorável. Existem também aqueles que indicam mal os pacientes de UTI. Existem os gastadores, portanto. E devem ser monitorados mas não fazer a gastança de uns, onerar a todos aplicando a plaina cega, nivelando tudo por baixo. Para todas estas distorções, existem soluções diferentes. E me parece um flagrante sofisma tentar resolver estes problemas, deixando de atender demandas reais de UTIs públicas, sugerindo medidas "falsamente" corretivas. A diferença entre a legítima e necessária racionalização de recursos e o mero barateamento é muito sutil e exige exaustivas discussões com as entidades representativas. Incrementar a interface entre o MS e as entidades representativas para que uma parte saiba das dificuldades da outra - trazendo real benefício à população - é missão árdua que deve continuar.
Ainda temos muito o que discutir neste particular.
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