quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Direitos Humanos

O deputado estadual Alessandro Novelino compareceu à Assembléia Legislativa do Estado do Pará depois de longo afastamento, motivado por luto pela morte de seus dois irmãos, vítimas em crime bárbaro fartamente noticiado na imprensa. Em que pese não possamos avaliar a dor que sente, não se pode concordar que em nome dela o deputado ultrapasse certos limites.
Em plenário, a pretexto de denunciar alegado favorecimento de regalias penitenciárias aos réus confessos (que facilmente podem ser revogadas pela justiça), Novelino decidiu fazer um ataque aos direitos humanos. No mal-inspirado discurso o deputado ainda ironizou os portadores de deficiência física, ao comentar que esse prolema de saúde, apresentado por um dos reús, é um estigma divino.
Certamente o deputado não sabe o que diz. É ignorante que a Declaração Universal dos Direitos Humanos (ONU, 1948) é uma das maiores conquistas da humanidade contra o arbítrio de poderosos encastelados nos governos, ou contra os que em comandita conspiram contra os mais elevados valores da sociedade.
Aliás, é graças a esses direitos que o Sr. Alessandro Novelino pode praticar o desatino cometido. Diz o artigo XIX da citada Declaração: Todo ser humano tem direito à liberdade de opinião e expressão; este direito inclui a liberdade de, sem interferência, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir informações e idéias por quaisquer meios e independentemente de fronteiras.

4 comentários:

JOSE MARIA disse...

Por compreensível que seja o estado de espírito do Deputado e de seus familiares, seu discurso volta-se contra ele e eles, ao contrário do que pode parecer a algum desavisado.
Essa crítica recorrente aos defensores dos direitos humanos é uma aposta na barbárie da qual foram vítimas.
Nos anos setenta e oitenta eram comuns assassinatos de taxistas aqui em Belém. Eram os chamados crimes da Bandeira 2. Esses crimes nunca foram desvendados. Muitos deles já prescreveram. De lá para cá a situação não melhorou, ao contrário, a violência avançou.
Ontem, mais um homicídio chocou a cidade. Um pesquisador do Museu Goeldi foi a vítima. Seus colegas fizeram uma manifestação.
A barbárie assim avança e o discurso do Deputado não contribuiu para sua redução, antes pelo contrário.
Lamento que assim tenha sido e espeço que ele, mais adiante, compreenda que barbárie se combate com a defesa dos direitos humanos e não com ataque a eles e seus defensores.

Yúdice Andrade disse...

Ia fazer um comentário, mas o Alencar resolveu a questão. Assim, limito-me a assinar embaixo.

Anônimo disse...

Oliver,

por aqui abraço e cumprimento o Alencar.

Não tive a serenidade dele para comentar seu post, estampado ontem no Quinta Emenda.

Não mudei minha opinião. Mas, entre a minha opinião e a análise do Alencar, ele contribui para o avanço da discussão. Eu,reconheço hoje, fiz do meu comentário apenas um espasmo de cansaço desta barbárie que nos espreita em todas as esquinas. E de todas as maneiras.

Abração

Itajaí disse...

Meus caros,
É difícil manter a serenidade frente a um fato como esse. Minha preocupação é que em pleno século XXI ainda temos que assistir essas e outras do tipo. De Abu Graib e afins , da ação da polícia carioca nos morros do RJ, da voracidade mercadológica da indústria farmacêutica em ensaios aéticos na África, do assassinato diário de homossexuais até esse ataque verbal aos Direitos Humanos a distância entre um e outro é pequena. Mais do que nunca vivemos um mundo perigoso, exatamente porque a maioria de nós assiste a essas questões achando que não é consigo.
Imagino que a SDDH e as associações dos portadores de deficiência física dêm uma dura resposta ao deputado, ensinando-o a não confundir alhos com bugalhos. Agora, tem uma questão séria: boa parte desses ataques aos Direitos Humanos tem espaço garantido na mídia brasileira, que os ecoa, formando opiniões cada vez mais estúpidas sobre a ilegitimidade desse direito.
Grande abraço e obrigado pelas intervenções.