TRF da 1ª Região suspende obras do Projeto de Transposição do Rio. AGU apresentará recursos contra decisão
O Desembargador Federal Antônio Souza Prudente, do TRF da 1ª Região, concedeu liminar no dia 10/12 para suspender as obras do Projeto de Transposição do Rio São Francisco. O magistrado suspendeu a Resolução CNRH 47/2005, que aprovava o aproveitamento hídrico do Projeto de Integração do Rio São Francisco com Bacias Hidrográficas do Nordeste Setentrional, bem como os demais atos administrativos derivados, com destaque à outorga e ao Certificado de Sustentabilidade Hídrica da Obra.
Trata-se de recurso, apelação em mandado de segurança, do Ministério Público Federal contra sentença da 2ª Vara Federal do Distrito Federal.
Segundo a liminar, o projeto não poderia ter sido aprovado pelo Conselho Nacional de Recursos Hídricos sem que um procedimento administrativo que trata de conflito de águas fosse analisado pelo comitê de bacia hidrográfica do Rio São Francisco. No entendimento do magistrado, registrada tal pendência, não se poderia deliberar quanto ao aproveitamento hídrico do projeto de transposição do Rio São Francisco ou quanto à integração deste com bacias hidrográficas do Nordeste Setentrional, pois deve-se aguardar definição das pendências em âmbito administrativo.
Além disso, acrescentou o magistrado que diversas ações sobre a validade do estudo de impacto ambiental realizado ainda aguardam julgamento no STF. O estudo deve anteceder à licença, registrou o Desembargador do TRF da 1ª Região, evitando-se assim desrespeito à Constituição e à legislação ambiental. Para o magistrado houve um atropelamento do devido processo penal e desatenção aos princípios constitucionais que privilegiam a defesa do meio ambiente (CF, art. 170, VI).
Restaram, assim, suspensas a Resolução CNRH 47/2005 e as obras do Projeto de Transposição, até que se restaure a legalidade de todo o procedimento para a aprovação pelo Conselho Nacional de Recursos Hídricos do Projeto.
Apelação em Mandado de Segurança 2004.34.00. 046483-4/DF
AGU apresentará recursos contra decisão que suspendeu obras de transposição
A secretária-geral de Contencioso da AGU, Grace Maria Fernandes Mendonça, anunciou ontem que a AGU recorrerá ao STF e ao TRF da 1ª Região, contra a decisão que suspendeu as obras de transposição do Rio São Francisco.
"Apresentaremos uma reclamação constitucional no STF e também um agravo de instrumento no TRF. Esta questão não é nova no Supremo. Várias liminares já foram deferidas na Justiça de primeiro e segundo grau, mas conseguimos suspendê-las em sede de reclamação", destacou.
Segundo ela, o STF reconheceu que sua competência originária julgar as ações relativas à transposição do Rio São Francisco e avocou todos os processos sobre o tema. A previsão é de que os recursos sejam apresentados ainda nesta semana.
A história é longa, tem inúmeros capítulos e é prima próxima de outra tão longa quanto, que nós conhecemos na pele: a da construção das eclusas de Tucuruí.
O engraçado, a respeito da transposição do Velho Chico, é que as exigências descumpridas pelo governo são de cunho administrativo e dependem, por isso mesmo, de órgãos do próprio Poder Federal. Vale dizer: o governo desrespeita a si mesmo; vai respeitar quem, então?
2 comentários:
Existem hoje 14 ações contra a transposição do Rio São Francisco no STF. Esta, que citas, é apenas uma delas.
Eta, assunto polêminco, que mobiliza até Bispo para grevar com fome no interior da Bahia!
Então como dormir com uma algaravia dessas, hoje o melhor da máxima de que não se pode agradar a gregos e troianos?
Discussões leigas, técnicas e políticas à parte, o que há mesmo é a inavegalididade de grande parte do Velho Chico, a iniquidade do semi-árido para os nordestinos, o agravante do aquecimento global e a absoluta ausência de um projeto que supere a escandalosa indústria da seca, que chegou a constranger o imperador D. Pedro II, obrigado a penhorar as jóias da Coroa.
Mudamos para a República - Velha, Nova, Novíssima, ou o que seja -, e a bandalheira continua do mesmo jeito, quando o governo manda rios de dinheiro anualmente ao NE e as condições sociais do sertão permanecem se agravando ano a ano.
É, Oliver: a seca no Nordeste e as condições que dela decorrem para a população são um prato cheio para as elites locais, que ainda sobrevive à custa dos votos de cabresto, conquistados agora com força midiática, além dos velhos métodos.
Caberia bem, neste cenário, uma "CPI da Seca". Mas quem a iniciaria, se quase todos os partidos estão envolvidos na bandalha?
O assunto da transposição, de resto, sempre esbarra no descumprimento das exigências legais: ora a falta de um estudo de impacto ambiental, ora a inobservância de regras criadas pelo próprio governo que as descumpre. É assim em quase todos os projetos nacionais que impõem grandes mudanças na paisagem natural.
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