quarta-feira, 23 de julho de 2008

Calhordices da imprensa - I

Desejo com este post inaugurar uma seção, aqui no blog, para tratar sobre calhordices da imprensa nacional, vistas por um mero leitor.

O texto de lançamento da série, digamos assim, foi a postagem Calhordice, do último 15 de julho. Era para ficar só nesse. Mas as malinagens são tantas que passou a ser inevitável tentar desvendar as intenções por trás das matérias ditas jornalísticas.

Hoje, o Diário do Pará deu sua contribuição. Em 1a página, com letras garrafais, a folha dos Barbalho grita a plenos pulmões: Candidata do PSol na lista suja. A chamada para a matéria, logo abaixo da manchete, exulta: Lista da Associação dos Magistrados do Brasil inclui Marinor Brito, que concorre à prefeitura, e os candidatos a vice-prefeito João Carlos Mesquita (PSL) e Leila Santos (PCdoB). Respondem a processos na Justiça.

Antes que digam que estou fazendo a defesa de Marinor - cujo processo penal tramita por invasão e depredação de prédio público, ocorrido em passeata ou greve -, assevero firmemente que não apóio, de modo algum, o uso da força para imposição das próprias razões. O Quinta Emenda trata de maneira corretíssima a questão em postagem de hoje, à qual aderi integralmente, inclusive comentando-a.

Porém, o que não se pode deixar de criticar e veementemente repudiar é o uso maldoso do jornal para denegrir a imagem da candidata do PSol, colocando-a ao lado de outros que estão sendo alvo de ações criminais por desvio de dinheiro público e outras traquinagens do gênero. Afinal, é evidente que desde o início a chamada lista suja vem sendo vinculada a crimes de corrupção e assemelhados e o Diário do Pará sabe disso. A manchete não foi, de forma alguma, ingênua.

Certamente por esta razão, a assessoria de Marinor Brito apressou-se em tentar dividir o joio do trigo, em releases enviados aos blogs paraenses, hoje. Não tem razão ao justificar o ilícito que cometeu, que materializa crime e que deve ser por isso alvo de processo judicial. Mas também não se pode deixar, repito, de apontar o dedo na cara do Diário, pelo uso maldoso e pela veiculação distorcida da informação.

19 comentários:

Anônimo disse...

Francisco:
É verdade que a manchete é maldosa, no entanto, a Marinor acaba ganhando projeção com essa estória, ou não?

Antonio carlos monteiro

Francisco Rocha Junior disse...

Antônio Carlos, se ganhou, terá sido um tiro pela culatra do Diário. Mas eu não acho que a projeção tenha sido boa, não. A própria assessoria dela avalia da mesma forma, ao se defender da manchete.

Yúdice Andrade disse...

Concordo que se Marinor considerasse útil a publicidade que ganhou, deixaria o estardalhaço prosseguir e, daqui a alguns dias, daria uma desculpa qualquer, quando já tivesse "lucrado" o bastante.
Na verdade, o essencial é não o nome associado à tal "lista suja", porque o eleitor comum só vai entender uma coisa: quem está na lista, é corrupto, é safado. Por isso, compreende-se a atitude da candidata e sua assessoria. Só o fato de figurar na mesma lista que o sedizente prefeito de Belém e Paulo Maluf já é de morte.
Também não acho que a explicação do presidente da AMB ("não fazemos juízos de valor") seja suficiente. Quem quer ser útil à sociedade deve fazer o serviço completo: divulgar a lista separando quem responde por atos de improbidade ou crimes contra a Administração Pública em geral e quem está enrascado com outras acusações. Afinal, há muitos políticos respondendo ações penais por crimes contra a honra, sem justo motivo, mas devido a represálias de adversários, justamente para deixar o opositor em má situação numa hora como esta.
Por fim, eu também gostaria de saber se um candidato responde a uma acusação de homicídio, violência contra a mulher, trabalho escravo, etc. - informações que podem influenciar decisivamente o voto, se não de todo, mas de uma parte do eleitorado, p. ex. o feminino, o negro, o trabalhador rural, etc.

Francisco Rocha Junior disse...

Yúdice,
Creio que o discurso do presidente da AMB é para não bater de frente com a disposição do Supremo Presidente Gilmar Mendes, como o chama o Paulo Henrique Amorim, que já disse que não concorda com a divulgação da "lista suja".
No entanto, concordo com o que o Juvêncio disse, no Quinta: se é crime, tem que ser apontado, ainda que não tenha a mesma conotação dos crimes de colarinho branco ou contra a Administração Pública. Afinal, crime é crime. A AMB, quanto à ausência de alguns membros ilustres na lista, já disse também que ela (a lista) será atualizada sempre, até as eleições.

Anônimo disse...

O pior é saber que todo esse tipo de repercussão não serve de nada. Não serve de exemplo, não melhora, nem piora nosso querido Brasil.

Francisco Rocha Junior disse...

Discordo, Marcos. Acho que boa fatia do eleitorado tem compreendido melhor a importância do voto. A divulgação da lista, se repetida em outras eleições, pode ter um efeito pedagógico interessante.
Obrigado pela leitura e comentário.

Anônimo disse...

Mensurar ou não a responsabilidade de uma pessoa pelo crime que cometeu, por si só já é uma discriminação. E não deixa de se qualificar. Não vejo diferença de uma pessoa apregoar-se defensora dos pseudos interesses de outrem e para isso usar de artifícios meramente demagogos.
Ao contrário, estes deveriam ser exemplarmente punidos, até porquê, usar de subterfúgios, ladainhas passadas e repassadas, é de uma pobreza mental já vista e utilizada por déspotas, tiranos, tiranetes e afins.
E olha que têm muitos que ainda defendem estes opressores, por uma ideologia atávica. E acham e se acham o máximo!
Ninguém está acima e por cima de outro, mesmo sendo conotado como melhor ou maior. Ou pior, se fazendo de vítima do sistema com o intuito de enganar os desavisados.
O time muda, mas o jogo é o mesmo. Às vezes fica bem mais medíocre.
Atualmente para ser ecológica e modernamente correto você tem que se fazer de engajado.
Pecou tem pagar! Mas quando você assume o erro seja por qualquer motivo, já é uma atenuante. Guarda-se lógico, as devidas proporções, agora, se fazer de politicamente escorreito é próprio de quem tem objetivos escusos.
O restaurado sai pior do que o original.
Por fim, não vislumbro diferença de quem invade o patrimônio público ou privado daquele que mete a mão no erário.

Anônimo disse...

Você pode ser contra a divulgação da lista. Há quem veja nesta divulgação um pre-julgamento. Mas querer separar criminosos do "bem" e criminosos do "mal" é demais.

Francisco Rocha Junior disse...

Ranieri e das 10:40, obrigado pela leitura e comentário.
Espero ter ficado claro que a crítica do post é quanto ao uso malicioso da informação pelo Diário do Pará.

Yúdice Andrade disse...

Só gostaria de esclarecer que minha sugestão, quanto à divulgação da espécie de crime do qual o sujeito está acusado, não se destina a justificar certas condutas, como a de Marinor Brito, p. ex., e sim para orientar o eleitor quanto a aspectos particulares. P. ex., uma mulher pode não querer votar num candidato até onde se sabe honesto quanto à coisa pública, mas que agredia a esposa. É isso.

Anônimo disse...

Seria o caso de fazer uma lista suja para "estupros" e outra para "estupros seguido de morte". Como pediu Paulo Maluf, inocentando os que apenas estupram.

Anônimo disse...

Puxa. com tanta orientação, não seria melhor adotar um só candidato, para não confundir o eleitor?

Anônimo disse...

Todos os jornais do Brasil deram manchete apontando os candidatos locais na lista.
A imprensa não inventou a lista. Apenas noticia e é claro procura nela as peculiaridades locais. Imparcial ela não é, mas está dentro das regras democráticas.
Calhorda é a censura e a informação de Estado, em regimes de excessão.

Francisco Rocha Junior disse...

Das 17:06, quanto mais candidatos, melhor, né não?

Francisco Rocha Junior disse...

Das 17:15, discordo. Dar manchete não é o problema. O que o DP fez foi desqualificar eventuais críticas de Marinor a candidatos "sobrancelhudos" (thank's, Quinta Emenda): afinal, se ela está na lista, não poderá criticar Jader Barbalho, por exemplo.

Anônimo disse...

Jader Barbalho pode ser um calhorda.
Mas o DP fez seu papel ao mensionar a candidata na lista suja.
DP não é imparcial e desde quando dequalificar adversario é "Calhordice da Imprensa"?
Ela (candidata) que faça as criticas aos seus adversarios.
Nós eleitores tiramos a conclusão.

Francisco Rocha Junior disse...

Das 10:44, realmente não falamos a mesma língua. Se a notícia é parcial, então não é notícia: é panfleto.
Ademais, por que só a Marinor aparece com seu nome estampado na manchete de capa? Ela é a única na lista suja?
Se você respondeu que não, certamente terá que concordar comigo: a manchete é, sim, calhorda.

Anônimo disse...

Marinor é a unica candidata a prefeitura de Belém, na lista.
Daí a manchete, no jornal, em Belém.
Toda imprensa é parcial, inclusive a sua. Ou você acredita que está acima do bem e do mal?
Não é calhordisse ser parcial. Calhorda é o ausencia de diferentes pontos de vista.
Prefiro vários pontos de vista parciais, que uma informação oficial, "isenta".

Francisco Rocha Junior disse...

Das 13:38:

1. Pode ser que por Marinor ser a única candidata a prefeita até agora na lista, tenha-se dado maior destaque à sua inclusão. Mas isto não retira a crítica que fiz sobre o uso da manchete pelo DP. Afinal, a chapa é fechada, e a candidata a vice da Frente Belém Popular, apoiada pelo governo de coalização do Estado, também está na lista e não houve destaque para isso;

2. Este blog não pode ser considerado imprensa: não é feito por jornalistas, nem se destina a informar; quer, unicamente, debater. Por isso os epítetos do Flanar: "opinião em livre expressão", posteriormente substituído por "diversidade de opinião". É um exercício de crítica, e não um órgão de imprensa. Damos a cara a tapa (você não está aí, à vontade, batendo??), não estamos acima do bem e do mal;

3. Posso dizer, porém, que em nossos objetivos somos muito mais honestos aqui que os editorialistas do DP. Não travestimos opinião e parcialidade em notícia. Não sou da área, mas sei bem identificar, em um jornal, onde é lugar de notícia e onde é lugar de opinião. Esta, se o noticioso for honesto, vem no editorial - o que o Diário do Pará finge não saber;

4. Estamos de acordo em preferir "vários pontos de vista parciais". Mas é calhordice, sim, ser parcial e se valer de uma alardeada isenção para exercer esta parcialidade, sem expô-la claramente ao digno leitor, como fez o DP.

Agradeço sua leitura e comentário. Volte sempre.