sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Quem precisa de apoio?

Caso se confirme a ridícula disposição da governadora Ana Júlia de dar dinheiro público aos times de futebol paraenses - diga-se com sereno senso de realidade: aos ordinários times paraenses -, é melhor que algum cidadão de bom senso (estou certo de que há muitos por aí) proponha uma ação popular, na qual peça ao Judiciário que determine a restituição do dinheiro aos cofres públicos.
Não interessa a justificativa engraçadinha dada. Quem quer investir em esporte cria programas específicos para isso. Cria e mantém espaços onde os atletas podem praticar suas atividades, devidamente orientados por treinadores e assistidos por profissionais de saúde. Cria meios para que os atletas consigam participar de competições nacionais e até internacionais. De modo algum se pode admitir como "incentivo ao esporte" dar dinheiro a instituições privadas e sem credibilidade - seja quanto aos seus resultados, seja quanto a sua administração. Isto sobretudo. E aqui não me refiro apenas ao histórico de dilapidação patrimonial dos clubes. Refiro-me, também, à insana política de contratar jogadores mulambentos por salários fabulosos, sem sequer reconhecer a inidoneidade financeira do clube. Queria saber se algum desses cretinos paga cinco mil reais para a empregada doméstica deles. E olha que a doméstica exerce uma função social bem mais relevante.
Portanto, dona Nhá Júlia (thanks, Fred Guerreiro), dê do seu dinheiro para essa joça. Não do nosso. Mesmo que a maioria do eleitorado concorde com tamanha imbecilidade.

3 comentários:

Anônimo disse...

É engraçado. Ela era criticada por não ajudar. Agora, é criticada por fazê-lo. E há os que gostam de criticar, pela crítica. Definitivamente, não se atende a todos, o tempo inteiro. .

Yúdice Andrade disse...

Em primeiro lugar, anônimo, o titular de um mandato político não tem por função "ajudar" ninguém. Ele tem missões constitucionais e legais a cumprir, baseadas no modelo de Estado vigente. Ao estabelecer as políticas sociais que aqui no blog cobramos continuamente, ela não estaria "ajudando" as pessoas, e sim cumprindo a sua função de governadora.
Como eleitor de Ana Júlia - e mesmo que não o fosse -, tenho todo o direito de criticá-la por atitudes estúpidas, tais como dar uma assessoria para a cabeleireira ou dar o nosso dinheiro para esses clubinhos ordinários. É minha condição de cidadão que me dá esse direito. Não se trata de uma crítica gratuita. Minhas razões foram apresentadas e poderiam ser lidas, fosse o caso.

Francisco Rocha Junior disse...

Yúdice,
Concordo com quase tudo o que tu disseste: realmente, não há como negar que o Estado possui muitas outras prioridades que o impedem de distribuir dinheiro aos clubes de futebol paraenses. E mesmo que o Pará fosse a Dinamarca dos estados brasileiros, seria um despautério entregar dinheiro a associações privadas assim, gratuitamente.
No entanto, discordo veementemente da expressão "clubinhos ordinários" que tu empregaste para te referires a Remo e Paissandu - principalmente estes.
Tu não gostas do esporte, e isso é impossível recriminar: eu, particularmente, não tolero muitas das coisas que são de gosto popular. Mas o futebol tem uma dimensão que extrapola o simples esporte. É ele, queiras ou não, uma identidade brasileira, um produto exportação, um pólo de atração (e, conseqüentemente, de receita) para os olhos do mundo todo. Não é à toa que a Copa do Mundo tem muito mais apelo de mídia, publicidade, turismo e que tais do que uma Olimpíada. Esta dimensão do futebol é inegável, repito, goste-se ou não do esporte, e é ela de apelo global.
Já tive oportunidade de viajar para o exterior às vésperas de uma Copa do Mundo: o frisson que o futebol (e, particulamente, o brasileiro) causa é de espantar - e é real, não é fantasia.
Em nosso rincão, Remo e Paissandu também não podem ser limitados aos seus times medíocres de futebol e seus diretores de meia-tijela. A identidade do paraense está associada à rivalidade quase centenária - quase centenária, repito, o que não é pouco - dos clubes, que não se deve a outra coisa que não seja o futebol. Isto tem valor: valor econômico (o mercado do futebol é enorme; muita gente sobrevive, direta ou indiretamente, de alguma atividade vinculada a Remo e Paissandu, e não são só os chamados "cartolas"), social (os clubes ainda são meio de ascensão social para muitas crianças e adolescentes da periferia e interior, mesmo no nosso pobre Pará), até mesmo cultural. Digo e repito: a identidade cultural paraense está definitivamente associada ao duelo RePa, como está ao Círio de Nazaré, ao carimbó, à maniçoba, ao pato no tucupi, ao "égua, paidégua" do nosso vocabulário e a muitas outras manifestações do paraensismo.
O que falta, aqui como alhures, é gente séria e ética para gerir este aspecto de nossa cultura.
Não é com dinheiro público que nossos clubes vão sair da atual situação - concordo integralmente contigo, torno a afirmar. Mas toda a dimensão à qual me referi, que os clubes de futebol paraenses conseguiram construir em 100 anos de vida, merece respeito.
Abração.