terça-feira, 28 de outubro de 2008

No campo

Da newsletter do Migalhas, sob o título acima

Duas equipes do ministério da Agricultura foram mobilizadas para tentar solucionar aquele que promete ser o maior problema brasileiro em 2009. Estamos no fim de outubro, e os 30 maiores plantadores de grãos (que estão em GO e MT) não estão se mexendo para o plantio. Nos últimos anos, eles vêm sendo financiados pelas grandes empresas (multinacionais) que, diante do cenário, não estão comprando antecipadamente a produção. E mesmo porque ninguém sabe qual será o preço do produto, o qual não pára de cair. Afora a queda das commodities, o preço dos insumos é em dólar. Ou seja, esticou-se a corda dos dois lados. O produtor, no meio do furdunço, nada pode fazer. Assim, ou o governo se mexe, ou em 2009 teremos a pior safra agrícola. Melhor dizendo, para não fugir do enredo, nunca antes na história desse país.

Se o cenário se definir realmente neste sentido, haverá certamente um refluxo das invasões e protestos dos movimentos de sem-terras. Afinal, declarar as multinacionais vilãs se tornará muito mais fácil. A não ser que se considere 2010 e o custo que isto poderá ter para a candidatura de Dilma Rousseff.

Quanto à marola, esta só faz crescer.

6 comentários:

Itajaí disse...

Como leigo, até onde eu sei esses produtores rurais celebraram um contrato privado com os detentores da propriedade intelecutal das sementes geneticamente modificadas. Se existe um instrumento contratual que é do foco do direito privado, como você está invocando a esfera pública para dar a solução no alegado conflito?
Como pode o governo federal, sem agravar o direito público, comprar uma safra que por copyright pertence a outrem? Essa é a pergunta e a tese a resposta.
Por fim, cabe esclarecer ao leitor desavisado que esse tipo de agricultura está altamente mecanizada e uma crise nela poquíssimo somaria deserdados ao lumpem dos sem-terra. Este sim um grande problema, que a solução exige revermos as relações sociais no arcaico meio rural brasileiro.
Abs.

Francisco Rocha Junior disse...

Caríssimo,

não invoquei a esfera pública para resolver um problema da esfera privada. Não sei, por isso, de onde tiraste a ilação.

Par contre (como dizem os franceses), qualquer tremor neste setor afeta a balança comercial brasileira e a arrecadação tributária. Daí porque, talvez, o Ministério da Agricultura esteja interessado no assunto; e isto é notícia, não uma conclusão minha.

Ademais, não creio que a nota esteja falando somente de compra de safras geneticamente modificadas. Afinal, se fosse este o único caso corrente no campo, os contratos deveriam prever (e certamente prevêem) multas ou compensações para o caso de quebra da aquisição antecipada. Então, não haveria crise, mas tão somente uma queda de arrecadação provocada

Finalmente, quando falo do MST, falo de protestos do movimento contra o grande empreendimento agromecanizado. A crise no setor com certeza dará força às alegações de que o setor agrícola brasileiro não pode ficar nas mãos do capital externo, muito menos em grandes propriedades rurais. Daí, conseqüentemente, o que chamei de refluxo das invasões. A não ser, repito, que os próceres do MST e assemelhados entendam que isto poderá prejudicar o projeto de eleição de Dilma, já que o governo federal é grande parceiro dos movimentos sociais, na forma inclusive de subvenções.

Abração.

Itajaí disse...

Agora entendi. Obrigado pelo eslcarecimento.
Abs.

Anônimo disse...

Caro Francisco,

você acertou no que viu e assim me permitiu ir atrás do que não vimos.

O Encontro da Via Campesina realizado em Maputo na semana passada alerta que :

"... apesar de a produção permanecer elevada, a aposta dos especuladores na escassez para incrementar artificialmente os preços teve sucesso. A produção mundial de grãos na safra 2007/2008 está estimada em 2,1 bilhões de toneladas, o que representa um aumento de 4,7% em relação à safra anterior. Apesar disso, o número de esfomeados no mundo cresceu dramaticamente até alcançar a cifra de um bilhão de pessoas.

João Pedro Stedile sintetizou em cinco pontos a ofensiva do capital financeiro internacional pelo controle da agricultura através de vários mecanismos. Primeiro, através de seus excedentes de capital financeiro; os bancos passaram a comprar ações de centenas de empresas que atuavam em diferentes setores relacionados com a agricultura. E a partir do controle da maior parte das ações, promoveram um processo de concentração monopolística.

Segundo, mediante a dolarização da economia mundial. Isto permitiu que as transnacionais se aproveitassem das taxas de câmbio favoráveis e entrassem nas economias nacionais comprando facilmente as empresas locais dominando assim os mercados produtores e o comércio dos produtos agrícolas.

Terceiro, utilizando as regras impostas pelos organismos internacionais, tais como a Organização Mundial do Comércio, o Banco Mundial, o Fundo Monetário Internacional e os acordos multilaterais, que normalizaram o comércio de produtos agrícolas segundo os interesses das grandes empresas, e obrigaram os governos servis a liberalizarem o comércio destes produtos.

Quarto, graças ao crédito bancário a produção agrícola, cada vez mais dependente de insumos industriais, ficou à mercê da utilização de créditos bancários para financiar a produção. E os bancos financiaram a implantação e o domínio da agricultura industrial em todo o mundo.

Finalmente, na maioria dos países os governos abandonaram as políticas públicas de proteção do mercado agrícola e da economia camponesa."

Pelo visto, Stédile não está disposto a "refrescar" ninguém. Vamos esperar pra ver.

Abração.

Anônimo disse...

Boa noite, Francisco:

em tempo, aqui na nossa casa também acontece algo inusitado, no que se refere à agricultura familiar..

Na apresentação das "correções" do PPA 2008-2011, entre Programas e Ações incluídas e excluídas em relação à proposta original, o Governo excluiu o programa de Fomento á Agricultura Familiar, embrulhou-o numa miscelânea à qual chamou pomposamente de Campo Cidadão e nesse troca-troca desapareceram recursos significativos. Estou tentando fechar até segunda-feira onde foram parar os recursos reduzidos de um programa para o outro.

Depois te conto.

Abração.

Francisco Rocha Junior disse...

Bia, belas contribuições. Vou aguardar sua contribuição sobre o caminho que os recursos destinados à agricultura familiar tomaram para abrir um novo post sobre o assunto.
Obrigado.