segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Milagres de Nossa Senhora

Na minha infância, quando vinha passar férias em Belém, sempre íamos, eu e meus primos, ao Largo de Nazaré. Quando reconstruíram a praça que fica em frente à Basílica de Nossa Senhora, aquele espaço passou a ser chamado de CAN, sigla para Centro Arquitetônico de Nazaré. Como implico com siglas e preservo uma certa melancolia como traço de personalidade, ainda hoje faço referência ao Largo.

Na frente do Largo, havia três cinemas (houve um quarto, antes, do outro lado da praça, mas este não é do meu tempo); dois deles exibiam filmes pornôs: o Ópera (que, creio, ainda está na ativa) e um dos Nazaré – se o I, ou o II, não me é possível lembrar.

Nesta época, durante a chamada quadra nazarena – os quinze dias que medeiam o Círio e o Recírio –, os cinemas pornôs, em respeito à Santinha, trocavam seus habituais cartazes (Senta Na Minha Que Eu Entro Na Tua era um dos títulos mais leves) por películas religiosas. Quase sempre, era exibido Marcelino, Pão e Vinho, um velho filme espanhol de alta potência lacrimejante.

O tempo passou, o Largo agora se chama CAN e os Cines Nazaré I e II viraram uma filial das Lojas Americanas, mas alguns hábitos permanecem iguais. O Amazônia Jornal de ontem, por exemplo, não exibiu as diárias beldades (ou outras nem tanto) em poses sensuais, nem os cadáveres com marcas de barbárie. Em seu lugar, surgiu a imagem da padroeira dos paraenses.

É o estilo Ópera fazendo escola entre os jornais locais.

2 comentários:

Yúdice Andrade disse...

O pornô era o Nazaré II. Depois da reforma, quando ele virou um cinema convencional, divertíamo-nos dizendo que íamos ver um filme lá. Também me diverti muito vendo as caras de acanhados com que muitos adolescentes entravam nele ou no Ópera (o "bonzão" e "bonitão"). Dizia-se que era só dar uma graninha para o porteiro e tudo bem. Dizia-se, mas devia ser boato...
De tudo que mudou, mais uma Lojas Americanas ocupando aquele espaço é o que há de mais indecente.

Francisco Rocha Junior disse...

Yúdice,
Antes uma Americanas que uma Universal.
Abração.