sábado, 18 de outubro de 2008

Quando 2 + 2 São o Que É

FHC, que não consegue manter-se quieto, como penso conviria a um ex-presidente, saiu-se com esta pérola, referindo-se a candidatura de Dilma Roussef à sucessão do presidente Lula: Eu, no auge da popularidade, em 1996, junto com o Covas e o Montoro, apoiamos o Serra para prefeito e ele perdeu.
A conversa, contudo, não é bem assim. Esconde o príncipe dos sociólogos brasileiros que o desfecho político têm referência ao momento histórico dos fatos, que, para o lembrado, não se resume às excelências citadas.
Ou de outra forma:

A popularidade do presidente Lula em 2008 ultrapassou de muito aquela de FHC em 1996, que, sem dúvida, esteve ligada aos efeitos imediatos de um plano econômico que, ao final, após ser deixado fazendo água por todos os lados pelo criador-sociólogo, adquiriu maturidade nas mãos de Lula que o trouxe, gostemos ou não, até onde estamos. Paciência, é humana a choradeira de FHC - que, para imaginarmos o tamanho do caudal, basta que a igualemos ao tamanho desse ego inigualável!!
Mas esqueçamos os males do príncipe e na régua, ao modo que as coisas se resolviam no balcão de taberna, podemos com noves fora concluir : o PSDB de hoje, na oposição, nem em sonho tem o mesmo gás, largura e estatura que o PT tinha nos anos 90.
E quanto aos que se animam para usar de raciocínio inverso, que ouçam a Tarso Genro, quando avalia que nenhum dos prefeitos eleitos ousou dizer-se na oposição declarada a Lula. Porque senão por não baterem na mãe, não comerem manga com leite, nem rasgarem dinheiro, ao menos por bom senso, santamente, só pretendiam eleger-se.

4 comentários:

Yúdice Andrade disse...

Amigo, faço apenas uma ressalva: FHC não foi o criador do "Plano Real", como todo mundo pensa. Se recapitularmos alguns fatos, lembraremos que naquele ano de 1994, quando o plano em questão foi lançado, começando com a tal unidade real de valor - URV, que mantinha uma paridade artificial com o dólar americano, o presidente era Itamar Franco (aquele da Lílian "Vamos") e o ministro da Fazenda era Rubens Ricúpero.
Ocorre que Ricúpero foi gravado clandestinamente, dando aquela célebre declaração de que "Eu não tenho escrúpulos: o que é bom a gente fatura, o que é ruim a gente esconde" (o "escândalo da parabólica"). Flagrado nessa inconfidência, perdeu o cargo e Itamar convocou FHC, então seu ministro das Relações Exteriores, para ocupar a pasta da Fazenda. E assim o garboso assumiu com o "Plano Real" já em execução - plano esse concebido por uma equipe de economistas (e nenhum sociólogo), da qual faziam parte Pérsio Arida, Gustavo Franco e Pedro Malan, para citar alguns nomes conhecidos.
Com o sucesso da política econômica, Itamar indicou FHC para sua sucessão e, naquele clima de euforia, poderia indicar até um poste da rua e teria êxito. E foi assim que FHC se permitiu colher os louros da paternidade do Real, que não é cria sua. Mas esse detalhe ele esconde, para faturar o que é bom. Embora não fature mais nada.

Itajaí disse...

Muito bem lembrado e registrado, Yúdice. Demonstra como algumas imagens públicas nesse país são construídas à custa da oportunidade política.
A política econômica daquele momento foi uma chave mestra, gazua operada com técnica esmerada, acertada para o fim de garantir o poder a grupos políticos conservadores e seus interesses mais caros.
Em termos práticos, as conseqüências mais sérias foram mais além do que o aumento do poder de compra da classe média sudista, e foi com acerto de mira alcançada pelo desmonte promovido no patrimônio nacional, seguida de uma regulação de fachada, pelo fortalecimento do econômico sobre o social (o imperativo do superávit), pela adoção de políticas sociais focais aos pobres (vale gás, vale isso, vale aquilo) e pelo achincalhe aos servidores públicos, sempre descritos como incapazes, inoperantes e vagabundos, dependendo de qual sotaque a voz do dono tivesse.

Anônimo disse...

Caros Itajaí e Yúdice:

quanto ao ego do ex-presidente, seu tamanho ainda supõe muitos rios de lágrimas para tentar empatar vaidade e comedimento.

Quanto aos que se sustentam em planos - econômicos ou sociais - com a leveza do ar, mais trinta anos de história vão equivaler nossos dois heróis contemporâneos: FH e Lula.

Quanto ao que este país merece, ambos ficarão devendo muito. E se houver um céu especial para ex-presidentes brasileiros, poderão lá resolver suas aparentes divergências. Discutir as "boas intenções" centradas no mesmo internacionalismo de cócoras.

E nós, estaremos mortos. De preferência no outro céu especial, aquele dos que acreditam que é possível construir uma nação apesar dos seus dirigentes.

Abração.

Anônimo disse...

Muito boa a observação da manga com leite. Não se esqueça de manga com febre, também.
Beto Carepa