segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Voltando de Mosqueiro

Mais um retorno de um período de apenas 2 dias inteiros em Mosqueiro. Embora o tempo não seja medido naquele lugar mágico, ele sempre volta aos relógios na hora do duro retorno ao cotidiano, que nos dá condições de sobreviver e continuar voltando para lá.
E a cada vez que volto à ilha, sempre a vejo com alguma novidade. Algumas, um bálsamo para os olhos. Como as mudanças que as marés sazonais imprimem às praias, ora expondo completamente as rochas que a constituem, ora escondendo-as quase completamente, cobrindo-as com areia, que também acaba por invadir parte de sua beira-mar. Sempre foi assim ao longo de séculos. Quando inclusive, haviam dunas de pequeno tamanho dispostas em certos pontos da praia. Antes da obra do muro de arrimo, que encerrou brutalmente sua formação natural.
Embalado com este persistente espírito supostamente desbravador com que sempre me dirijo a Mosqueiro, consegui sair um pouquinho do conforto de minha rede para fazer as fotografias de sempre. E a cada vez que faço isso, surpreendo-me um pouco com as imagens que aquele lugar nos presenteia. E nenhum dia, em nenhuma parte do universo, é exatamente igual ao outro. Em Mosqueiro não seria diferente.


A árvore e o vento

Esta imagem aconteceu na hora em que apreciávamos o vento e as ondas da maré cheia noturna. E mosta um fato que já acontece há anos por lá. As árvores continuamente açoitadas pelo vento. Algumas, ousadamente, se desenvolvem indo em direção ao vento. Como se, num embate sem vencedores. Natureza contra natureza. Mas nem todas resistem. Muitas sucumbem ao longo dos tempos, renovando a vida.


A pedra e as ondas

Neste ciclo de vida e morte, nem as rochas resistem. Apesar de sua consistência, perdem volume continuamente de maneira gradual ao serem continuamente atingidas pelas ondas. Mas em certas horas, mesmo elas, parecem algo integradas neste sistema.


Ouçam o ruído das folhas dos açaizeiros

E a vida surge em ciclos que explodem frutas, flores, as mais variadas. Uma para cada época.
O açaí é parte importante do cenário. O vento quando os açoita, produz um ruído característico, que para ouvidos atentos e experientes, é fácil distinguir dos demais.


A banana, quase pronta para consumo.

Passear pelo quintal e perceber o ritmo das plantas é um exercício solitário. Dificilmente se consegue o mesmo prazer ao lado de alguém. Nunca da mesma exata maneira. E isso é uma das atividades que pessoalmente, mais admiro fazer na ilha.


A macaxeira.

E neste exercício, é possível encontrar esta tenra Macaxeira (ou Aipim). E alguém sabe como diferenciá-las da mandioca? Percebam que trata-se de um conhecimento crítico uma vez que, a mandioca, é conhecida por seus efeitos venenosos. O mesmo não acontece com a macaxeira.
Para complicar, a árvore, estruturalmente falando, é rigorosamente igual. Como então fazer a diferença entre elas.
Aprendi com um caboclo: na macaxeira, o "ôlho" é roxo; na mandioca ele é verde. E o "ôlho" ao que o caboclo inteligentemente se refere, é a região do topo da inflorescência, onde estão os galhos mais jovens. Neste ponto, verifique a cor dos galhos e mate a charada.
E como se pode ver claramente na fotografia acima, os galhos são roxos.
Pode arrancar, raspar as raízes, cozinhar e comer de imediato com manteiga.

6 comentários:

morenocris disse...

Pura poesia. Texto/imagens. Parabéns.

Belo.

Beijos.
Boa semana.

Anônimo disse...

Égua moleque!! Essa aula de macaxeira e o diagnóstico diferencial com a mandioca foi absolutamente DUCARÁ. Parabéns e mto obrigado.
Beto Carepa

Carlos Barretto  disse...

Deixei levar, Cris. Primeiro nas imagens (no local) e depois, no texto, na hora de publicar o post.
Bjs

Carlos Barretto  disse...

Tu sabias dessa, mano velho.
Pois é. De intoxicação por folha de mandioca, já não morro mais.
Já há algum tempo. Na verdade, esta informação não me foi fornecida em Mosqueiro. Mas no igarapé de Caraparu, em Sta Isabel do Pará.
Lá os ribeirinhos plantam as 2 espécies. E em uma das visitas que fizemos por lá, aprendemos isso.

Abs

Anônimo disse...

Bom dia, Carlos:

já havia visto as fotos e lido o texto, mas volto agora pra engrossar o côro: fotos lindas emoldurando um ensinamento que eu, mesmo tendo vivido muitos anos amando a macaxeira - simplesmente mandioca lá na minha terra - e morrendo de medo de envenenar-me..rsrsrs...não havia aprendido.

Abração.

Carlos Barretto  disse...

Verdade, Bia?
Bem, podemos então dizer que a partir de agora, vc poderá transitar livremente entre as duas espécies, sem medo de se envenenar com a folha da mandioca.
Rsss...

Bjs