Comentando a canalhice humana

Devido à discussão instalada na postagem "Da canalhice humana", aí embaixo, tenho a dizer o seguinte:
1. Considero um reducionismo estéril, além de um clichê chatíssimo, esse papo furado de contrapôr aos argumentos contra a ditadura militar brasileira o amplo leque de ditaduras de esquerda. A ditadura brasileira foi de direita. Isso é um fato. Eu não a repudio por isso, mas por ter sido uma ditadura. Eu a repudiaria se fosse de esquerda, como tantas que a História registra e que acumulam incontáveis e injustificáveis mortes. Minha inclinação pela esquerda não muda o que, para mim, é decisivo: o respeito à dignidade humana deve implicar, necessariamente, em uma oposição incondicional à barbárie.
2. Qualquer regime que se imponha pela força deve ser execrado. Faço até concessões à desobediência civil. Isso vale para os nossos despóticos militares, para Fidel Castro, para Saddam Hussein e tantos outros que, adotando um discurso democrático, na verdade cerceavam toda a liberdade do povo. Nesse particular, levanto um questionamento: qual seria a situação de Hitler, considerando que, durante algum tempo, a maioria do povo alemão legitimava seus atos?
3. Por trás desse recorrente argumento das ditaduras de esquerda, acredito haver uma mensagem subliminar, covarde o suficiente para jamais ser dita com todas as letras: uma ditadura pode ser tolerada, se for de direita. Se morrerem os comunistas - ou os negros, ciganos, judeus, párias, estrangeiros, etc. Uma ditadura de esquerda deve ser desprezada, porque compromete a segurança de certas classes sociais, aquelas que estão próximas dos centros de decisão.
4. Reafirmo o meu comentário: qualquer tolerância à ditadura e à tortura devem ser abominadas. Note que não fiz nenhuma limitação de origem ideológica. A não ser assim, admitiremos que os fins justifiquem os meios, em alguns casos. E se justifica para um lado hoje, justifica para outro amanhã. É o ciclo da barbárie.
Para isso, não contem comigo.