domingo, 14 de dezembro de 2008
CHE GUEVARA, JACK LONDON E SALVADOR NAHMIAS
Há muito tempo, li, em algum lugar, que Ernesto "Che" Guevara era leitor assíduo de Jack London.
Apesar da estranheza que tal fato me provocou, fiquei feliz em saber que Che e eu compartilhávamos do mesmo interesse por um dos clássicos autores da literatura americana. Imaginei, então, que o revolucionário guerrilheiro se divertia apenas, lendo obras como "Chamado Selvagem", "Lobo do Mar" e "Caninos Brancos".
Em 2003, no entanto, a Editora Boitempo lançou no mercado brasileiro o livro "O Tacão de Ferro", Iron Weed, no título original.
Encontrei um exemplar na quase-finada Livraria Jinkings, e, ao mergulhar na leitura, descobri o lado socialista "hardcore" do autor.
A obra, verdadeiro exercício de futurologia, escrita antes da primeira guerra, praticamente descreve o que viria a acontecer (e ainda acontece) no planeta Terra.
O poder ilimitado dos autocratas, o papel de fantoche do judiciário e o domínio subsequente pelo "Povo dos Abismos", são abordados de tal forma que algum leitor distraído poderia pensar que London possuía uma máquina do tempo, ou mesmo uma bola de cristal.
E o posfácio de Leon Trotsky, escrito em 1937, é arrebatador.
Curiosamente, quando eu soube da morte de Salvador Nahmias, a primeira idéia que me ocorreu foi a de que o "Povo dos Abismos" finalmente emergira em Belém do Pará.
A propósito, o final do livro não é de todo pessimista.
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4 comentários:
Scylla você é demais!
Antes do precoce desaparecimento de London. Há registros valiosos, fruto de pesquisadores (que inveja!) que poderam resgatar a correspondência desse personalista observador inglês.
Numa leitura mais apurada de pesquisadores desse material; observou-se o que seria mais ou menos o retrato de um homem confiante e sensível, com rasgos de grande coragem e generosidade, mas também ferozmente obstinado e capaz de uma franqueza brutal.
Febre que acomete pessoas sensíveis.
Figura muito bem lembrada por você.
Recomendo: Cartas de Jack London, publicado pela Editora: Antigona.
Por hora, disponível nas boas livrarias.
London era membro do Partido Socialista nos EUA. Tinha portanto sensibilidade e elementos filosóficos para fazer uma leitura diferente, a clef, dos problemas sociais vistos na transição XIX/XX, que foi violentíssima para os trabalhadores e para as colônias dos páises centrais, e ainda hoje perenes.
Eu não li "The Iron Heel" a que Scylla faz referência. Li "O Povo do Abismo", tradução literal do título em inglês, publicada pela Editora Fundação Perseu Abramo.
Transcrevo-lhes a vinheta, que ilustra bem a reflexão de Scylla sobre o assassinato de Salvador Nahmias...
"Os rejeitados e os inúteis! Os miseráveis, os humilhados, os esquecidos, todos morrendo no matadouro social. Os frutos da prostituição - prostituição de homens e mulheres e crianças, de carne e osso, e fulgor e espírito; enfim, os frutos da prostituição do trabalho. Se isso é o melhor que a civilização pode fazer pelos humanos, então nos dêem a selvageria nua e crua. Bem melhor ser um povo das vastidões e do deserto, das tocas e cavernas, do que ser um povo da máquina e do Abismo".
Abs.
Em tempo: The Iron Heel é obra posterior a The People of the Abyss. Esta segunda é de 1903 e a outra de 1908.
Obrigado, Val e Itajaí pelos preciosos comentários.
A descrição da "Galera dos Abismos" (talvez esta seja a terminologia atual) é absolutamente perfeita.
Jack London, no entanto, se desligou do partido socialista, antes de morrer, precocemente, aos 40 anos de idade (suicídio?).
Suas idéias, porém, continuam flanando mundo afor.
Abraços.
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