quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Ética e sono

Conversava animadamente com amigos ontem, em um jantar de aniversário, quando se tocou no nome de outro amigo em comum, ausente da comemoração em razão da morte recente de seu pai.

Um dos presentes, então, lembrou de um comentário que um ex-chefe de executivo lhe havia feito sobre o morto, comparando-o a outros que haviam feito parte de seu secretariado. O tal ex-administrador disse ao meu amigo que o falecido, juntamente com o pai do próprio que contava a história, eram dois burros, pois tinham sido os únicos secretários que não haviam enriquecido durante sua gestão. Não haviam “aproveitado a ocasião”, por assim dizer.

Eu disse, então, que os pais de quem se falavam – tanto o do que contava a história, quanto o falecido – poderiam responder, se ouvissem este comentário da boca do próprio ex-gestor, que, contrariamente ao boquirroto, dormiam todas as noites com a consciência tranquila.

Nisso, outro conviva retrucou: “essa história de não dormir tranquilo, infelizmente, não existe mais; os canalhas também dormem tranquilos. Tomam duas doses de Black e vão dormir, sonhando a noite inteira”.

Fui forçado a concordar. Temos vários exemplos de que nem o medo da cana ou do Ministério Público certas pessoas têm mais.

Medo, mesmo, tenho eu, cidadão comum, de morrer na rua, de bala, facada ou acidente, longe dos meus e sem ter concretizado metade dos meus sonhos.