sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Quando a orquestra tocar...

Imagine-se o grau de dedicação exigido para fazer funcionar uma simples banda com apenas 3 músicos. Levando em conta a situação financeira de seus integrantes, talvez isso signifique conciliar horários para ensaios, já que, possivelmente, a maioria deles necessite de outra fonte de renda para pagar suas contas. Horas e mais horas de ensaios, ajustes de harmonia, passagem de som, mudanças em arranjos, longe de casa, dos filhos e da família. Tudo isso, para você ouvir naquelas poucas horas, um espetáculo que agrade os seus ouvidos.
Agora imagine todas estas variáveis - algumas certamente não citadas - e projete a complexidade de manter uma orquestra de 30, 40, ou mais músicos. Todos com boa formação acadêmica e profundo amor pela música, em uma terra não exatamente de bons ouvidos.


Filarmônica de Berlim, executa a Sinfonia No. 6 de Tchaikovsky
Orquestras não são feitas para serem ouvidas em mídias eletrônicas. Até pelo simples fato de que ainda está para nascer uma mídia que consiga reproduzir a capacidade do ouvido humano em discernir, orientar e direcionar os diversos timbres de uma orquestra. Elas, por vocação, não se coadunam com aquele som chapado do melhor sistema sonoro que seu dinheiro possa comprar para a sala de estar.
Imagine agora, todos aqueles instrumentos tocando com plena harmonia, em uma sala de razoável acústica, onde você com facilidade identifica o momento em que o fagote sola, o tarol repica e os contrabaixos soam ao comando do maestro.
Sublime. É tudo o que poderia dizer.
Mas isso, para acontecer de forma aparentemente mágica em uma única noite, não é nada mágico no duro cotidiano dos músicos. Por esta razão, manter uma orquestra de música erudita, é acima de tudo, além do mero desejo da sociedade que a abriga em vê-la funcionando (quase sempre ausente), exige investimentos de grande monta. Não é a toa que fomento, e não a composição ou número de integrantes, acabou por dividir as orquestras em 2 categorias em todo mundo: sinfônica e filarmônica. Sendo que a primeira é teoricamente mantida por recursos públicos e a segunda pela iniciativa privada.
Sendo assim, louvo todo e qualquer esforço que se faça, para que continuemos ouvindo a Orquestra Sinfônica do Teatro da Paz (OSTP) e seus dedicados músicos. Muitos dos quais, ao saírem dos espetáculos, são vistos entrando em motocicletas, ônibus e outras formas de transporte público, a exemplo da esmagadora maioria da população brasileira. Nada que desabone por completo o fato. Contudo, levando em conta a péssima qualidade do transporte público em nossa cidade, não é razoável aceitar que aqueles que trabalham para deliciar nossas almas, estejam sendo recompensados desta maneira. E o fato, é ilustrativo de que o músico erudito no Pará, há muito é quase um bóia-fria, (se não, um diletante) com todo o respeito aos sofridos trabalhadores dos canaviais nordestinos. Nem vamos falar de outros setores da área cultural tradicionalmente desestimulados como atores, palhaços, escritores. Tão somente o foco deste post, são os músicos da OSTP.
Por isso, quando a orquestra tocar, me avisem que eu vou lá debulhar minhas alegrias e lágrimas. E disposto a pagar pra ver. Com imensa emoção e com todo o prazer.

NOTA 1: sou um músico de formação incompleta e completamente frustrado por não ter conseguido avançar no sonho de tocar um instrumento com maestria.
NOTA 2: "Lelê". Obrigado pelo convite. Mais uma vez, você acertou em cheio.
NOTA 3: a imagem que ilustra o post, é do sítio do Teatro Carlos Gomes, em Blumenau/SC.