quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Um assunto delicado I

Se você fosse um deputado federal ou um senador?

Se você fosse um médico ou advogado praticante de qualquer religião?

Você autorizaria, que um ente querido seu, sob sua responsabilidade; após te darem conhecimento que o caso é irreversível, sob o ponto de vista do conhecimento médico que hoje detemos. A morte dessa pessoa. Você autorizaria? Sob a justificativa de Direito à boa morte? Se é que isso existe.

Pois o senador petista Augusto Botelho, de Roraima, que é médico, deu parecer favorável ao projeto de descriminalização da ortanásia (boa morte), de autoria do senador capixaba Gérson Camata (PMDB).

A matéria deve entrar em pauta para votação no Senado tão logo os trabalhos legislativos recomecem.

Segundo a imprensa. Na prática, é uma espécie de eutanásia, assunto polêmico, que costuma gerar celeuma entre religiosos e familiares de doentes terminais. Para emitir o parecer, Botelho conversou com monges budistas, pastores e padres. Fez audiências públicas com a participação da Ordem dos Advogados do Brasil, da União dos Advogados Católicos do Brasil, do Conselho Federal de Medicina e de outras entidades. Porém, enfrenta o poderoso lobby da saúde privada, que lucra com os recursos do SUS ao manter pacientes terminais internados por longos períodos sem necessidade, conforme nota, hoje no Correio Brasiliense.

Botelho confessa que já deixou pacientes irem morrer em casa porque eles manifestavam essa vontade. “Os médicos só deixam quando há uma grande confiança entre o médico, o paciente e seus familiares. Porém, nós já fazemos sabendo que corremos o risco de haver um processo, algum problema. Porque a lei não permite que se faça isso”, ressalva. Segundo Botelho, é um direito da pessoa não querer sobreviver à custa de aparelhos se tem uma doença incurável.

10 comentários:

Lafayette disse...

Sim.

E sempre que tenho oportunidade, espalho por aí, como o faço agora: é favor fazer o mesmo comigo (toc toc) caso não puder expressar na hora.

Carlos Barretto  disse...

Val-André.
Sobre este assunto, sou decano por aqui. Digite "ortotanásia" ou "lei do bem morrer" (SIM. Existe o bem morrer) em nossa área de pesquisa e encontrará minha opinião. Sinceramente, tudo o que poderia ter argumentado a favor da lei da ortotanásia, já fiz. Tenho a mais absoluta consciência do aspecto humanitário da questão, e não me restam dúvidas de que o Brasil, precisa avançar neste particular, a exemplo do que outros países já fizeram. Patinar nesta questão, que nos mais variados campos culturais, religiosos, médicos e afins,já se encontra com discussão bem avançada e amadurecida, é a meu ver um retrocesso injustificável. Mesmo parte da imprensa, já tem avanços no entendimento da questão.
Quem tiver ainda seus "tabus", deve pesquisar o nível avançado das discussões para livrar-se deles o quanto antes.
É meu ponto de vista objetivo, de quem já cansou de tanto repetir argumentos aos 4 ventos. Agora não é mais hora de desenterrar velhos fantasmas. É hora de votar e aprovar. Esta é minha humilde opinião, como médico que é obrigado a presenciar desumanidades e covardias muito frequentemente, por falta de amparo legal.

Abs

. disse...

Bom, eu ia fazer todo o meu discurso sobre o assunto, mas li o comentário do Carlos e vi que qualquer coisa que eu falasse seria redundante.

Só acrescento a experiência de viver um caso na família. O bisavô do meu ex-marido já nem sabe mais se está vivo ou não há mais de 4 anos. Um caso irreversível. Mas ainda fica no vai e vem de hospital. Toda vez que eu o vejo naquele estado e vejo minha sogra preocupada e desesperada para tentar dar mais uma sobrevida pra ele, eu penso no quanto gostaria muito de ter a coragem de agir diferente, caso um dia eu precisasse tomar uma decisão dessa. Deve ser difícil, mas acredito ser a mais sensata.

Val-André Mutran  disse...

Caros, obrigado por manifestarem seus pontos de vista.
Sempre a decisão pela morte é muito difícil.
Vou ler mais sobre o assunto para emitir uma opinião.

Carlos Barretto  disse...

Sem dúvida, Val-André. E ninguém nunca disse que ela é fácil. Esta lei, tão somente deve existir, para aqueles momentos em que ela é inevitável. O que poderemos, se devidamente amparados por lei, com absoluta aprovação do paciente (em especial) e seus familiares, em uníssono, todos devidamente informados, sofridos e amadurecidos, decidir juntos.
Esta é a tônica. Portanto, não se preocupe com aquela história, de que alguém virá matá-lo na calada da noite.
Pessoalmente, no dia em que tiver uma doença incurável, torcerei para que não me entubem, retirem minha dignidade e mantenham-me com sedação e analgesia ponderadas, de maneira a trazer-me conforto e tranquilidade, bem como aos meus familiares.
É o que se chama de bons cuidados paliativos.

Abs

Lafayette disse...

INSCRIÇÃO PARA UM PORTÃO DE CEMITÉRIO

Na mesma pedra se encontram,
Conforme o povo traduz,
Quando se nasce - uma estrela,
Quando se morre - uma cruz.
Mas quantos que aqui repousam
Hão de emendar-nos assim:
"Ponham-me a cruz no princípio...
E a luz da estrela no fim!"

Mario Quintana - A Cor do Invisível

Yúdice Andrade disse...

Vale lembrar, meus caros, que a lei proposta não obriga a ortotanásia, como muitos pensam, tolamente. Ela cria uma mera faculdade, retirando a possibilidade de responsabilização disciplinar, cível ou criminal das pessoas que tomem a decisão, ou a executem, familiares ou profissionais de saúde. Mas se alguém quiser enfrentar a doença por mais algum tempo, estará livre para isso, de acordo com o direito de autodeterminação que deve ser reconhecido por qualquer Estado de Direito.

Lafayette disse...

Mas, Yúdice, e se a autodeterminação já foi pro espaço?

E se antes dela ir pro espaço, o moribundo não expressou nada sobre a questão?

De todo modo, amigos, acho que a questão maior é o limite entre o mero deleite dos parentes e a realidade orgânica da pessoa.

Claro que tal discussão, quando se abre em vasto leque, ultrapassa o racional, a ciência, e cai no sentimento religioso, no misticismo, na "espera por um milagre".

Sem querer por água fria, acho que o projeto não passa, como nunca passará a Lei do Aborto, do Casamento Gay. Vivemos num país em que a Constituição começa assim:

"...promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL."

claudio disse...

Pois é lamentável pois deve haver a separação entre estado e religião, enquanto seitas ou igrejas quiserem impor suas vontades a todos, nunca haverá respeito pelo próximo ou tolerância. Espero que esta lei seja aprovada assim como o casamento gay e o direito ao aborto seguro (pois o aborto inseguro já é praticado livremente)

Carlos Barretto  disse...

Amigos.
A igreja católica já se manifestou favorável a ortotanásia, dizendo-se contra "obstinação terapêutica" que implique em sofrimento ou tratamento cruel e fútil, que tentem interferir na lei natural de Deus. As demais religiões, até onde me informei, também já deram suas posições favoráveis, após serem informadas exaustivamente sobre o aspecto eminentemente humanitário da morte digna.
Portanto, imagino que elas não sejam mais o maior obstáculo a aprovação do projeto de lei.

Abs