sábado, 13 de março de 2010

Estado da arte, Parte I: Gustav Mahler

Divulgação


Na inevitável e breve passagem por este mundo. Faz-se necessário o entendimento de algumas regras, de modo que possamos compreender alguns acontecimentos que julgamos injustos no viver e sobreviver nessa "selva" chamada Terra.
Mundo cercado de armadilhas de gente que come, bebe e até pede dinheiro emprestado para você, abusando de sua boa índole e generosidade; e cospe, e trai e revela-se; e é apenas um apêndice de nosso aprendizado. Apenas um. Há muitos.
Na quarta música deste especial clássico em que revelo aos leitores minha predileção clássica a qual fui induzido por critérios de qualidade e eliminação por meus pais; lá atrás, há quase 50 anos, no que chamo de privilégio. Destaco a beleza inexplicável da Terceira Parte da 5.a Sinfonia em Dó sustenido menor (Adagietto), composto pelo imortal maestro e compositor "apátrida" Gustav Mahler meu compositor predileto.
Este movimento, o "Adagietto" (em fá maior, mas com uma grande quantidade de modulações a meio do movimento), segundo o estudioso da obra do maestro Willem Mengelberg, no andamento "muito lento" (absolutamente poético) é uma declaração de amor que Mahler faz a Alma no verão. Parece que ― e ambos afirmam o mesmo ― uma vez terminado, Mahler o enviou a Alma, que o leu imediatamente.
Alma, por sua vez, vem a ser a mulher do gênio austríaco. Segundo consta, Mahler não queria que ele fosse interpretado em um andamento demasiado lento, tal como fazem muitos maestros hoje em dia. Fica muito doce e perde todo o caráter meditativo, ressalta, com proficiência, o especialista.
Dois dos principais maestros executores da obra do genial judeu "apátrida", qual sejam: Bruno Walter e Mengelberg, não menos extraordinários, consignaram que esse movimento ― um dos mais belos jamais criado pela civilização ― não poderiam passar de 7' e meio (às vezes, chegam quase a 8'), enquanto que há maestros que chegam aos 11' e até mais.O quê os dois melhores intérpretes da "atormentada alma" Mahleriana querem dizer é que, numa típica forma A-B-A, em que B é uma grande modulação com variações, escrita exclusivamente para quinteto de cordas e harpa; não cabe ou, não seja aconselhável, o equivocado entendimento cartesiano de que este movimento em particular, cuja melodia empregada por Mahler tem um estrito ou aproximado parentesco com as utilizações anteriores em várias ocasiões e que se distinguem pela sua evolução em graus conjuntos. É ascendente e proporciona modulações também ascendentes como o leitor pode, com facilidade constatar ao ouvir com atenção e repetição a magnífica passagem da sinfonia em tela.
Fico, ainda, com a perfeita definição do crítico e maestro português Eduardo Ríncon, a quem deploro as melhores impressões pelos livros publicados em linguagem acessível e esclarecedora.Ríncon finaliza: O movimento foi escrito com verdadeira mestria, pintado amorosamente, sem recorrer a grandes explosões orquestrais, mas com uma intensidade tal que prova que para compor boa música não é necessário fazer demasiado barulho."
E para não cansar o leitor. É de Mahler a sentença que, como descendente de libaneses, muito me toca e fortalece qualquer indício de intolerância: "Sou apátrida por três razões: como nativo da Boêmia na Áustria, como austríaco na Alemanha e como judeu no mundo inteiro. Sou um intruso em toda parte!". O grito de protesto contra o fator de ser tolerado, mas não totalmente admitido é do próprio Mahler.
Quantos de nós não nos sentimos assim em determinadas ocasiões de nossas vidas?
Grande maestro, tardando para ser reconhecido como excepcional compositor, a vida de Mahler foi inteiramente dedicada à música.
Ouça o que considero sua melhor sinfonia: a n.o 5, em soberba execução da Royal Philharmonic Orchestra, de Londres.
Mais sobre Mahler aqui.
Não menos extraordinário é o fechamento da obra com "Rondo Finale", da Terceira Parte.
-Senhores(as) leitores(as) : é quase como as boas-vindas de chegada ao Céu. Supimpa!
Mahler incompreendido em sua época, apresentou à melhor música um sistema inovador de composição, dado sua complexidade, atualmente firmado como polifonia.
Não se deixe reprimir nesse turbilhão arrebatador, pois, Gustav era assim.
- Eu sou assim!
Eis Mahler: "Com mais de oitocentos compassos, é quase impossível referir o seu caminhar sem seguir a partitura e uma descrição minuciosa, que aqui é impossível realizar", cravou o prestigioso regente lisboeta Eduardo Rincón sobre o gênio da polifonia.
- O homem que ligou a música do século XIX ao nossos dias.
Set List

Sinfonia N.° 5 em Dó Sustenido Menor – Gustav Mahler
Regente: Frank Shipway conduzindo a Royal Philharmonic Orchestra de Londres

Primeira Parte
1- Trauermarsch (Marcha Fúnebre)
2- Stürmisch Bewegt (Tempestuoso Agitato)

Segunda Parte
3- Scherzo * Trompa: John Bimson

Terceira Parte
4- Adagietto
5- Rondo Finale


P.S.: Chopin. Minha segunda predileção musical clássica. Será publicado amanhã.

8 comentários:

Carlos Barretto  disse...

Surpreendente e espetacular! Bom sábado!

Val-André Mutran  disse...

Chegou o magic aqui.
Você parece que tem poderes mediúnicos, sô!
Li seu post sobre a experiência da utilização do hardware.
Realmente, o acessório vale quanto custa, mas, demora pra burro pra chegar né?

Val-André Mutran  disse...

Olha só Carlos.
Observando o selo da caixinha do magic mouse. Fiquei passado ao constatar que ele foi fabricado na China!
Cara, os chineses já são os donos do mundo.

Scylla Lage Neto disse...

Val, what a surprise - Valeu!
E me pergunto quem virá depois do Chopin...
Abs.

Nilson Soares disse...

Prezado Val,

Interessantes seus comentários, olhe que nunca prestei muito atenção em Mahler. Inclusive comprei a revista Concerto deste mês, dedicada ao citado compositor, só para ler uma entrevista de Nelson Freire sobre Chopin. Vou "ouvir" a tua música então.

Lhe dou uma dica, se não conhece, acredito que vai agradecer para o resto da vida.

Anote esse endereço http://pqpbach.opensadorselvagem.org/ é um espaço interessantíssimo onde se discute a boa música e se disponibiliza para download gratuitos excelentes gravações de dezenas de compositores clássicos.

Olhe lá o que vai dizer de Chopin! É meu segundo predileto.

Abs,

Nilson

Scylla Lage Neto disse...

Val, você já viu a Ilha do Medo? Mahler domina a trilha sonora.
Veja!
Abs.

Yúdice Andrade disse...

Realmente, Val, totalmente inesperada a tua seleção de músicas. Contudo, desde logo posso te dizer que nenhuma outra me deixou mais satisfeito.

Val-André Mutran  disse...

Verei o filme Scylla.
Obrigado Yúdice. Sei de seu refinado gosto.
Nilson Soares muito obrigado pela recomendação da página - realmente excelente.
E já está publicado uma pequena introdução à Chopin.
Espero que todos apreciem e que possa continuar o desafio que, à mim, muito tempo absorve para apresentá-los algo com um mínimo de consistência histórica e incentivo ao especial mundo da música clássica, a mais bela e universal das invenções humanas.