Quem ainda acredita naquele velho papo de que "uma mídia não substitui a outra" (geralmente porque trabalha numa mídia que ameaça ser substituída), deveria ler o relatório E-Books: The Next Killer Application?, de Sampo Timonen, diretor da divisão de papéis gráficos para a Europa, na RISI. Timonen, ao contrário de muita gente que finge que não se abala com as mudanças trazidas pela digitalização, é um representante da indústria do papel, mas anda tão preocupado com o futuro que decidiu, sem rodeios, abordar o assunto. Em seu artigo, parte logo para o "pior cenário" e constrói uma analogia com a combalida indústria musical. Usando dados da própria indústria fonográfica (disponíveis na Wikipedia), Sampo nos conta que, antes da internet, a "canibalização" teve início já com a fita cassete. O LP teve seu auge em 1981, com 1,1 bilhão de unidades vendidas. Ocorre que o walkman (alguém se lembra?) surgiu no horizonte em 1979 e, até 1988, o mercado de fitas cassete foi crescendo 13% a cada ano (mesmo com a qualidade sonora inferior). Enquanto isso, a venda do LPs caiu 39% de 1981 até 1986; 74% até 1991; e 98% até 1996. Lógico que o CD já havia surgido nos mesmos anos 80 - e cresceria, na casa dos dois dígitos anualmente, nos 1990s. Enquanto isso, a fita cassete experimentaria seu auge em 1989 (com 1,54 bilhão de unidades vendidas), para decair 12% até 1994, 45% até 1999 e 76% até 2004. Já o CD chegaria ao topo do mundo no ano simbólico de 2000, com 2,45 bilhões de unidades vendidas. E, com o advento do MP3, o compact disc despencaria, logicamente, 21% até 2005 e 45% até 2008. Hoje, 95% da música que circula ou é distribuída de graça ou é ilegal mesmo. "Isso tudo poderia acontecer com o papel?", Sampo Timonen se pergunta no meio do texto. Para responder que já aconteceu (alô, jornalistas) com a mídia impressa - cuja demanda caiu 16% de 1999 (o pico) até 2004; e 57% (mais da metade) até 2009. Se a analogia realmente funcionar, a demanda por notícias impressas deve cair, segundo Sampo, de 75 a 98% nos próximos 5 anos. E para aqueles que tentam se convencer de que "o papel nunca vai morrer", afirmando que o velho LP triplicou suas vendas nos últimos 3 anos - afinal "uma mídia não substitui a outra" etc. -, Sampo Timonen informa que o long play, em sua gloriosa ressurreição, alcançou exatos 0,8% do que vendia no seu auge (despencando outros exatos 99,2% de 1981 até hoje)
Por Julio Daio Borges.
E aí? Ainda estão incrédulos?
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