domingo, 7 de março de 2010

O pior livro do mundo?



Se há um escritor de ficção científica que eu venero é o americano Philip K. Dick, o qual já mencionei algumas vezes aqui no Flanar.
Autor de mais de 50 romances e de várias coletâneas de contos, ganhou notoriedade no mainstream literário e em Holywood dois meses após a sua morte, com o lançamento de filme Blade Runner, baseado em seu livro Do Androids Dream of Eletric Sheep?, em 1982.
Desde então outros tantos filmes foram feitos baseados em sua obra, como Minority Report, O Vingador do Futuro, O Vidente, O Pagamento, O Homem Duplo e A Scanner Darkly.
Através dos anos tenho tentado ler o máximo possível de seu trabalho, às vezes recorrendo para os textos originais, em inglês, e outras tantas através de edições portuguesas.
Dentre seus livros, destaco muitos como meus favoritos: o próprio Blade Runner, O Homem do Castelo Alto, Ubik, Eye in the Sky, The Game Players of Titan, The Three Stigmata of Palmer Eldricht, The Zap Gun, A Scanner Darkly e Flow My Tears, the Policeman Said.
Em outubro passado me deparei com um desconhecido livro de Dick, chamado Vozes da Rua, da Editora Rocco, flanando em um prateleira da livraria Newstime da Estação das Docas.
Comprei-o imediatamente e constatei ter sido lançado originalmente em 2007 pela The Philip K. Dick Trust.
Em tenho uma natural aversão por lançamentos póstumos e o fato do livro, supostamente escrito na década de 50, ter sido lançado 25 anos após o óbito do escritor acendeu uma espécie de alarme no meu inconsciente.
Deixei-o repousando, na fila, sobre o criado-mudo por meses e somente agora resolvi atacá-lo.
O que encontrei me deixou surpreso: um livro bem escrito, ambientado na mesma década de 50, de ficção “não-científica”, algo previsível e ligeiramente monótono.
Se eu o tivesse lido crendo ser de qualquer outro escritor contemporâneo, o acharia regular ou mesmo “bonzinho”.
Mas em nenhum momento encontrei o Philip K. Dick das realidades plásticas, das topografias torturadas de mundos que nunca existiram, das íntimas batalhas internas, e dos medos projetados na ilusão da realidade de nossas próprias existências.
A resultante deste confronto foi uma profunda decepção e um livro bom acabou arquivado em meu cérebro como um dos piores já lidos nos últimos anos.
Como o próprio Dick dizia, “reality is just a point of view”.

2 comentários:

Edyr Augusto disse...

Scylla, eu o comprei mas ainda não li. Será que também me decepcionará?
Abs
Edyr

Scylla Lage Neto disse...

Edyr, leia-o por favor e emita a sua opinião.
Eu torço imensamente para que eu esteja errado e para que a minha expectativa enorme tenha estragado tudo.
A propósito, estou lendo um P. K. Dick inédito (para mim), Martian Time-slip, e estou literalmente encantado.
Abs.