Eis então que chega o grande momento. A platéia, agora não esconde a excitação ao ver os primeiros preparativos para a entrada de Manu Chao. Luzes sendo testadas, cabos conectados, auxiliares e técnicos de som circulando freneticamente.
Começo a circular, junto com Jorane Castro, procurando o melhor lugar para testemunhar o evento. Mais uma vez, contamos com a gentileza da produtora paulistana do Manu. Mais uma vez, após aproveitar o intervalo para refazer as baterias e recanalizar as energias, entramos na área VIP. Procuramos um lugar estrategicamente posicionado, bem abaixo do palco, não exatamente perfeito para a fotografia, mas ótimo para assistir o show, a poucos metros de distância dos protagonistas. Apesar de estar fotografando, promovendo e divulgando, eu era acima de tudo, um fã, interessadíssimo em participar do show, dançar e me divertir.
Aparecem nos bastidores, os 3 integrantes do grupo: Philipe (baterista), um excelente guitarrista e Manu Chao.
O baterista Philipe (Gambacito), Manu e o guitarrista Madji nos bastidores. Imagem: Carlos Barretto
Ele, um poliglota por necessidade e oportunidade, nascido Jose-Manuel Thomas Arthur Chao, em Paris em 21 de junho de 1961, iniciou sua carreira ainda adolescente, com forte influência punk (via The Clash). Mas surgiu para o mundo com a formação da banda Mano Negra. Desta época, seu primeiro single Mala Vida, rendeu-lhe enorme sucesso na França e um contrato com a gravadora Virgin.
É considerado atualmente um dos Top Ten da World Music. Suas músicas são irreverentes, dançantes e com tom de protesto. No Brasil, surgiu em meio ao enorme sucesso de seu CD Clandestino, onde detonou com músicas antológicas como Minha Galera, Luna y Sol, Mentira, Desaparecido, Clandestino entre outras. Lançou outros álbuns como Proxima Estación: Esperanza, Radio Bemba Sound System, Banylonia en Guagua, Sibérie m'était contée (em francês), La Radiolina (2007) e Estación Mexico (2008). Mas saiba mais sobre Manu Chao consultando este verbete na Wikipedia ou visitando seu website pessoal.
Voltando ao show, digamos que o palco e as condições climáticas não fizeram jus ao momento extraordinário. O palco, apesar de grande o suficiente para 3 músicos, talvez não fosse digno para este grande artista. E a chuva, resolveu apertar a galera. Felizmente, já no finalzinho do show, quando então um aguaceiro desabou sobre a platéia. Mas ninguém arredou o pé. A estas alturas, eu já circulava molhado da cabeça aos pés. Mas estava pronto para campo de futebol: uma bermuda, uma camiseta e uma sandália, garantiram minha despreocupação com as intempéries.
O show foi simplesmente espetacular. Som de primeiríssima qualidade, performance de palco descontraída e extremamente animada. Uma estratégia de começar as músicas com seu ritmo original e, subitamente, acelerá-lo, levou o público presente ao delírio.
Uma característica marcante das músicas de Manu. Aliás, diga-se que na França, ele é chamado de "mani". Mais à frente, conto como consegui esta e outras informações.
Quase todos os principais sucessos do álbum Clandestino foram executados. Outros do penúltimo álbum La Radiolina também foram ouvidas. Como Malavida, Politk Kills, Tristeza Maleza, Mundoreves entre outras. Senti falta de Besoin de la Lune e Denia. Mas pudemos ouvir sucessos como Me Gustas Tu. Nenhuma do extraordinário álbum em francês Sibérie m'était contée. E algumas supresas, totalmente desconhecidas por mim, que depois fui saber serem mesmo inéditas.
Madji, deu show de violão e guitarra. Imagem: Carlos Barretto
Enfim, foi um show absolutamente inesquecível. Jamais poderia imaginar, que pela modestíssima quantia de 25 reais, eu poderia ter acesso a um show do Manu. Se a noite tivesse terminado neste ponto, eu já me daria por satisfeito. Plenamente recompensado. Bati exatas 600 fotografias. Jorane fez uns vídeos com o iPhone. Enfim, tudo foi documentado. Mas alguma energia interna nos fez querer mais, conseguir um pouco mais, mesmo após o fim do show. Enquanto a banda "diz-que" finalizava o show (na verdade faria o bis e tris), resolvemos que era naquele momento que deveríamos tomar alguma atitude
Estávamos inquietos. Resolvemos então, batalhar pelo camarim. Não era possível que tudo terminasse assim. Fomos então nos encaminhando ao portão dos fundos, onde fica o acesso dos artistas e na saída, a entrada para o protegidíssimo camarim. Óbvio que percebemos que se saíssemos por ali, encontraríamos barreiras para voltar ao palco. Mas arriscamos. E isso começou a fazer toda a diferença.
Aqui começa a aventura pelo camarim. Imagem: Carlos Barretto
Lá fora, Jorane encontrou alguns amigos. Conversa vai, conversa vem, lá vem a produtora do Manu, - aquela que foi gentil comigo o tempo inteirinho - entrar na conversa. Entre uma apresentação e outra, agradeci-lhe a gentileza, ao que ela respondeu, elogiando minha disciplina. Foi então que fomos apresentados a Maria, que encantados, soubemos que é a atual esposa baiana de Manu. Uma simpatia, que logo nos convidou a voltar ao palco, para terminar de assitir o bis e o tris. Assim fizemos, acompanhados de Maria e parte da equipe de produção. Por fim, já no final verdadeiro do espetáculo, voltamos à porta do camarim, rigidamente vigiada. Conversa vai conversa vem, conheci Eduardo, engenheiro agrônomo, amigo de Manu que contava empolgado os projetos do grupo no Brasil. De fininho, perguntou se não gostaríamos de entrar no camarim. Nem preciso dizer o que aconteceu. Começou a cair um aguaceiro pesado. Chegava a hora "h". Naquele momento, ou entrávamos no camarim, ou corríamos para a calçada para nunca mais voltar. Fiquei meio atônito e algo constrangido com a situação. De tal maneira, que acabei me perdendo de Jorane, que entrou no camarim acompanhada de Marcos Sachi. Resultado: todos entraram e eu, subitamente sem nenhum padrinho, fui barrado.
Resignado, voltei para o palco para me proteger do aguaceiro. Mas logo, uma ligação no celular, mudou o rumo desta história. Eu estava sendo chamado para comparecer ao camarim. Corri e de imediato, Eduardo me colocou pra dentro.
A recompensa. Marcos Sachi, o poster, Jorane Castro e Manu. Imagem: Eduardo Alcântara
E de repente, lá estava eu, tomando uma cervejinha, comendo alguns salgadinhos e batendo um papo com Manu. Conversamos sobre algumas coisas. Mas tive tempo de perguntar-lhe minhas principais dúvidas.
Primeiro perguntei sobre uma característica de seu trabalho: a repetição de alguns arranjos fundamentais e sons, com a mudança da letra. Algo que de fato permeia o conjunto da obra do músico. Ele me deu uma explicação muito interessante, que acabou respondendo minha segunda pergunta: e o próximo álbum? Vou tentar reproduzir o que entendi, uma vez que não se tratava de uma entrevista formal. Era tudo absolutamente informal.
Disse-me que seu trabalho tem exatamente este aspecto que entendi como "plástico", no sentido de se moldar ao sabor da vontade do artista e aos objetivos de determinado projeto. Neste sentido, os arranjos que aparentemente se repetem, seriam de fato uma espécie de continuidade de um fluxo criativo. Algo que está em permanente mutação e aprimoramento. Em síntese, funcionariam como citações em uma obra literária. Citações que incidem sobre o próprio conjunto. Algo pra lá de interessante. Em seguida, afirmou que dificilmente ele trabalha com CDs fechados, tipo produção para atender demandas da indústria, da qual se desligou desde os tempos da Virgin, atuando de maneira completamente independente. E produzindo continuamente.
Marcos Sachi e Manu Chao. Imagem Carlos Barretto
Manu neste momento, tem uma casa em Fortaleza, onde tem um filho brasileiro. E saibam todos que eles ainda estão neste exato momento em algum lugar de Belém, onde estarão atuando num projeto inteiramente focado na região. É só o que eticamente poderei revelar.
Por enquanto, fiquem com o vídeo que Jorane Castro fez com o iPhone. Disponível em meu canal no You Tube.
Dêem o desconto pelo fato de estarmos muito próximos as caixas de som e extremamente animados com o show. E com licença, que agora vou sossegar.
Dêem o desconto pelo fato de estarmos muito próximos as caixas de som e extremamente animados com o show. E com licença, que agora vou sossegar.
Leia mais sobre o show de Manu Chao em Belém:
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