Conheço o Shopping Cidade Jardim, no bairro Jardim Panorama, em São Paulo. É um belo passeio, até mesmo pela simples curiosidade.
Do centro, chega-se pela Ponte Estaiada Otávio Frias, orgulho tucano, até a ode à plutocracia paulistana. Das janelas do Café Santo Grão, dentro da aprazível Livraria da Vila, vê-se a Marginal Pinheiros, longe dos cheiros e engarrafamentos. Nas vitrines de marcas famosas – Armani, Chanel, Zegna, Ferragamo – não há produto que custe menos de quatro dígitos. Nas salas vip de cinema serve-se vinho e senta-se em poltronas de primeira classe, a quase R$ 50,00 o ingresso. No último piso, come-se um bife de chorizo legitimamente argentino no Pobre Juan ou uma paleta de cordeiro no Due Cuochi. Nada lembra um shopping, a começar pelo jardim interno que vai de ponta a ponta do prédio.
Pois este lugar, que parece tão longe da violência urbana, foi alvo de um assalto, neste domingo. Oito homens invadiram a loja da joalheria Tiffany e levaram consigo uma quantidade não especificada de peças. Ao menos um tiro de escopeta foi deflagrado na ação.
Sobram sinais da necessidade de reformulação das políticas públicas de segurança em todos os lugares do país. Uma escopeta não é algo que se possa carregar livremente por aí. Fatos como este são a comprovação cabal do fracasso da política de desarmamento iniciada em 2003, dentre outras medidas adotadas pelo Governo Federal e de vários Estados para tentar diminuir a violência nas ruas. As armas continuam a chegar aos locais comandados, principalmente, pelo tráfico de drogas e outras organizações criminosas, e às mãos dos soldados do pó.
Se é assim no Cidade Jardim, aonde muitos frequentadores chegam de carro blindado e com seguranças no entorno, faça-se uma ideia do que acontece para além do Morumbi. Tal qual em O Coração das Trevas, poderíamos dizer, como Kurtz: o horror, o horror.
Um comentário:
Qualquer política de redução da violência passa necessariamente pelo desarmamento da população. E este, recordo, foi objeto de plebiscito no primeiro governo Lula. O PIG ruidosamente laborou dia-e-noite contra o sim (querem que o povo entregue as armas, para que só os bandidos tenham elas), atendendo ao lobby das fábricas de armas e munições. Num clima destes, venceu o não ao desarmamento e assim chegamos aonde estamos.
Lembro também que o crime com armas pesadas é característico de cidades como o Rio e São Paulo, com rotas muito obscuras que apontam tanto para a tríplice fronteira quanto para a polícia por meio de seus membros que integram as chamadas milícias. No resto do país, a arma do crime é aquela doméstica, preponderante, roubada ou alugada para assaltos e furtos; idêntica a aquela usada na violência inter-pessoal.
Por fim essa é apenas uma ponta do iceberg. Violência só é enfrentada com a população como aliada, com políticas de inclusão social e de combate à corrupção nas instâncias afeitas ao assunto. E nesse sentido, os estados - todos eles - naufragaram vergonhosamente na vontade política do combate à violência que não fosse além de mais balas, mais carros, mais armas e mais cadeia para os bandidos. Se continuarem nesse mote não resolverão nada x nada. Lastimável.
Abs.
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