Na alta Idade Média, o Cristianismo ainda tentava se consolidar perante as religiões pagãs europeias, que eram essencialmente politeístas. A adoção de medidas subjetivas de alta eficiência era praxe.
Jorge Luis Borges, em seu Curso de Literatura Inglesa (Martins Fontes), nos conta que na mitologia nórdica, as Valquírias eram mulheres que, montadas em cavalos alados, levavam o corpo dos guerreiros mortos em batalha ao paraíso – o Valhala. No século IX, uma mulher de uma aldeia bretã foi processada por ser tida como uma Valquíria e, daí, as deidades passaram a ser consideradas bruxas. Era necessário que se demonizassem as diversas divindades, para que se amasse um único Deus.
A prática foi sendo expandida, e outras medidas também passaram a ser tomadas. O mesmo Borges diz que na época a conversão dos politeístas povos celtas, anglos e saxões era, de certa maneira, descomplicada: não era preciso converter indivíduos; convertia-se o rei e todos os vassalos, automaticamente, estavam convertidos. Para os povos politeístas, também, era fácil aceitar Cristo como novo Deus, pois ele era mais um entre tantos outros.
Algo parecido ocorre entre partidos políticos. Uma vez convertido o cacique, aqueles que estão abaixo dele na hierarquia partidária, por disciplina, devem seguir o mestre. Por isso a profusão de alianças estranhas, na política partidária; daí, também, porque somem as críticas a figuras antes tidas por nefastas, nas mídias que divulgam ideias políticas.
É assim que as bruxas voltam a ser Valquírias.
Nenhum comentário:
Postar um comentário